Introdução
Embora
a ansiedade seja um sentimento próprio e comum ao homem, Deus não o
criou para viver ansioso. O Senhor o fez perfeito, justo e bom. Criado à
imagem de Deus, o homem desfrutava de completa harmonia orgânica,
mental, espiritual e sentimental. Ele era completo. A natureza do homem
refletia à imagem moral e natural do Senhor. A imagem moral diz respeito
aos atributos morais (amor, justiça, verdade, bondade, etc), enquanto a
natural aos atributos da personalidade e natureza humana
(livre-arbítrio, razão, emoção, etc). O equilíbrio entre a imagem moral e
natural era a razão da felicidade, saúde, paz e quietude humana. Nem
mesmo as obrigações do homem no jardim do Éden ("lavrar" e "guardar")
roubavam-lhe a serenidade, pois tudo estava em completa harmonia e
integridade. Porém, com a Queda, as imagens natural e moral sofreram
profundas mudanças, decorrentes da desobediência do primeiro casal. A
harmonia entre espírito, alma e corpo foi terrivelmente afetada. Os
desejos do homem opuseram-se à sua vontade. O conflito se estabeleceu; o
pecado dominou; e o homem passaria a comer "no suor do teu rosto" (Gn
3.19). Por conseguinte, a ansiedade e os cuidados com a vida humana
tornaram-se parceiras indissociáveis do labor humano. A aflição,
angústia, e fobia acompanharam, desde então, as realizações humanas.
Ainda hoje a natureza humana é estigmatizada por esses dolorosos
sentimentos.
Definição
A
ansiedade é um estado emocional mórbido, doloroso, marcado por
inquietude, medo e perturbação do sistema nervoso central. É um
mal-estar físico e psíquico que aflige e afeta as emoções humanas
provocando inquietude, preocupação, algumas vezes, indevida. A ansiedade
manifesta-se diante de várias situações, entre elas: de um perigo real
ou presumido; expectativa; entrevista de emprego; grandes decisões;
sentimento de incapacidade, entre outras. Vejamos dois tipos básicos de
ansiedade: natural e crônica.
a) Ansiedade natural: Este tipo de ansiedade está intrinsecamente relacionado à natureza humana. Certo grau de ansiedade ajuda o indivíduo a se preparar para certos desafios. Essa ansiedade se caracteriza por um sentimento positivo de preocupação advindo das prementes responsabilidades do indivíduo.
b) Ansiedade crônica: Esta forma de ansiedade é doentia, crônica e responsável pelo mal-estar físico e psíquico do indivíduo. Apresenta diversas reações orgânicas, como a sudorese, fadiga, cefaléia, taquicardia, nervosismo. Como doença emocional, manifesta-se: a fobia, a insônia, o estresse, a confusão mental, a inquietude, entre outros. Mesmo na vida teologal, a ansiedade crônica é um estorvo, pois os sintomas emocionais e físicos, de uma forma ou de outra, afetam a vida espiritual do crente. Entre os sintomas teologais, podemos destacar: dificuldade de meditar na Palavra de Deus, fruto da inquietude; fé vacilante, etc.
Visão Teológica da Ansiedade
Como
afirmamos na introdução, Deus criou o homem perfeito. A ansiedade
crônica, teologicamente considerada, é fruto do pecado. A desobediência
dos nossos primeiros pais afetou a harmonia entre espírito, alma e
corpo. A ansiedade não é uma doença do corpo, mas da alma que almeja,
que sente, que ama, que teme. É a condição humana após a Queda. Algumas
vezes, a ansiedade crônica é acompanhada de um grau de culpa, como por
exemplo, a dos irmãos de José, em Gn 42.21. O substantivo hebraico tsar,
traduzido pela ARA por "ansiedade", é usado em diversos contextos, mas
em Gn 42.21, refere-se a angústia, aflição e ansiedade advindas da
culpa, da consciência perturbada pelo erro, pelo pecado. Neste aspecto,
temos a ansiedade como produto da culpa, do erro, do pecado. Um outro
vocábulo que descreve esse tipo de doença, que agora não aparece mais
como sendo do corpo ou da alma, mas do espírito, note bem "do espírito",
é mōrek. Este termo aparece em Lv 26.36 no contexto em que Deus
"põe sua face contra os judeus" (v.17). O vocábulo significa fraqueza, e
procede de uma raiz cujo sentido é "mole", "suave" ou "macio". O
castigo divino sobre o povo seria o de "amolecer-lhe" o coração diante
dos inimigos de tal forma que teriam fobia do barulho de uma simples
folha. A ARA traduz a palavra por "ansiedade", descrevendo o medo
incontido oriundo de tal emoção. Os termos que descrevem a ansiedade na
Bíblia, principalmente no Antigo Testamento, são vários: Sl 38.9 ('ănāchâ – gemer, suspirar [ansiedade/ARA]); Pv 12.25 (de'āgâ
– apreensão, cautela, medo [ansiedade/ARA]). Basta apenas conferir em
uma boa concordância hebraica para encontrar outros sentidos. Um termo grego usado em Mateus 6.25, merimnaō,
traduzido por "cuidadoso" (ARC) e "ansioso" (ARA), significa "estar
indevidamente preocupado", "ter ansiedade", ou "estar em ansiedade
desnecessária". Nos versículos 25-27, Jesus apresenta a inutilidade
desta emoção, mas em 28-33 ensina a confiar na graça diária de Deus para
a provisão das necessidades e cura da inútil ansiedade.
Nas
ciências que estudam a psique humana é comum atribuir uma relação de
afinidade e relação de causa e efeito entre a alma e o corpo, orgânico e
psíquico, chamado de psicossomático (psychē [mente, alma], sōma
[corpo; físico]). Esta relação já demonstrou-se incontestável. Todavia,
teologicamente, a Bíblia reconhece, mas não se limita à relação entre o
orgânico e o psíquico, entre a psychē e a sōma,
pelo contrário, avança. No episódio de 1 Samuel 16.14-23, naturalmente,
a psicologia moderna apontaria Saul como um
maníaco-depressivo-criminógeno, e na verdade o era. Contudo, as causas
de sua doença não são resultados apenas dos aspectos orgânicos e
psíquicos, mas espirituais.
Teologicamente
considerada, a doença de Saul era de origem espiritual; para usar um
neologismo, não era apenas psicossomática, mas pneumatosomapsicológica (pneuma/espírito; sōma/corpo; psychē/alma).
Os problemas orgânicos e psíquicos eram procedentes de "espíritos" que o
atormentavam, refletindo sobre todo o ser do rei Saul. A experiência
cristã tem confirmado sobejamente esta constatação.
Ansiedade: uma meditação
O
melhor e mais eficaz antídoto contra a ansiedade é a confiança
inabalável nas palavras de nosso Senhor Jesus. Ele ordenou: "Não vos
inquieteis". A gélida lágrima e o frio soturno da desesperança se
dissiparam ante o sussurro da fé de Ana (1 Sm 1.10,13,15). Enquanto
orava, o Espírito a confortava: "Não vos inquieteis" (Rm 8.26). A
latente dor de Ana era manifestada apenas no altar da oração, refúgio
dos oprimidos e ansiosos (Ap 8.3,4). Ela perseverava diante de Deus,
mesmo quando as lágrimas e os verbos lhe faltaram (Cl 4.2). O cicio
melancólico foi rompido e vencido pela convicção interna de que Deus a
ouvira (1 Sm 1.18,19). "Não vos inquieteis"! O mesmo Deus que socorreu e
confortou a Ana é o mesmo que o toma pela mão direita e diz: "Não vos
inquieteis"! (Sl 73.23).
http://teologiaegraca.blogspot.com.br
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