Na maioria dos presépios aparecem um boi e um jumento. Mas o que há por trás disso? A Bíblia não menciona esses animais junto à manjedoura. De onde eles vieram, então?
Quer em fotos de presépios, que sob árvores de Natal ou nas montagens em shoppings, por toda parte estão eles, olhando bondosamente para a manjedoura com o bebê Jesus. Sim, parece que eles não podem faltar no Natal: quase não há presépio sem um boi e um jumento. Mas a Bíblia não nos fala nada a respeito desses personagens amistosos, ainda que conste que eles já apareciam em adornos de sarcófagos na época do cristianismo primitivo, enquanto não havia sinal de Maria e José. De onde eles vieram?
De acordo com o assim chamado "Pseudoevangelho de Mateus" (um evangelho apócrifo), Maria deitou seu filho numa manjedoura e o boi e o jumento O adoraram. Dessa forma deveria cumprir-se uma profecia de Isaías, que diz: "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono" (Is 1:3).
Dionísio, o Areopagita, um autor cristão desconhecido do começo do século VI, disse que a característica marcante do boi é a habilidade de abrir sulcos na terra, de forma que esta consiga receber as chuvas férteis que caem do céu. O jumento tem a reputação de um animal de carga confiável e no Oriente era considerado como animal de montaria real.
Posteriormente, formou-se na igreja o seguinte pensamento: "Israel abandonou o Rei dos judeus; os judeus recusaram-se a adorar o Rei recém-nascido; somente alguns pastores e os sábios do Oriente vieram prestar-Lhe honra. Por esse motivo vamos colocar o boi e o jumento ao lado da manjedoura".
"Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou o Senhor: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ah, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás." (Is 1:2-4)
Alguns líderes de igrejas pensaram: "Até parece que o boi e o jumento tem mais entendimento do que o povo de Israel, por isso vamos colocar os dois animais junto à manjedoura para mostrar que eles reconhecem seu dono, mas os judeus, não". Tudo tinha, portanto, um aspecto anti-semita.
No século VII, o mestre da igreja Isidoro de Sevilha viu nos animais os dois grupos-alvo da mensagem cristã: o boi representa o povo judeu, e o jumento, os gentios. Ambos tem o seu lugar junto à manjedoura e foram chamados para ser povo de Deus.
Mais tarde, o jumento foi interpretado como símbolo de "lerdeza espiritual". Por isso, a arte medieval estabeleceu uma ligação entre ele e o apóstolo Tomé, aquele que teve dificuldades em crer. Por causa dessa lerdeza, reforçou-se o simbolismo relacionado aos judeus, que teimosamente se fecharam ao Evangelho de Jesus Cristo.
Mesmo que o boi e o jumento não sejam mencionados no relato do Natal e tenham sido colocados junto à manjedoura com uma motivação anti-semita, eles apontam numa certa direção. O boi é indiferente e obtuso, e o jumento é teimoso. É assim que Israel se posicionou diante de seu Senhor (Is 1:2-4; Is 48:4; At 7:51). Isso vale também para as pessoas que se fecham ao Senhor Jesus (Hb 3:15). Por isso, representações mais antigas do presépio mostram o boi e o jumento olhando para longe de Jesus, o que naquela época era considerado como uma referência a Israel, que tinha rejeitado seu Messias. Mas mais tarde, vemos ambos os animais junto à manjedoura do seu Senhor, olhando para Ele. É assim que o remanescente de Israel encontrará o caminho para a "manjedoura" no fim dos dias, olhando para Jesus e recebendo a salvação.
"E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais." (Rm 11:26-28)
Autor: Norbert Lieth
Revista Chamada da Meia Noite de Dezembro de 2011
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