Vemos na Bíblia, a Palavra de Deus, mandamentos específicos para os israelitas, constantes do Antigo Testamento, e mandamentos exclusivos para a Igreja, apresentados ou confirmados no Novo Testamento. Muitos dos que são destinados aos seguidores de Cristo são novos, inéditos, mas há também os que foram baseados na lei mosaica, a qual perdurou até a manifestação do Senhor Jesus (Jo 1.17; Rm 10.4; Mt 11.13).
Em Lucas 16.16, está escrito: “A Lei e os Profetas duraram até João [Batista]; desde então, é anunciado o Reino de Deus” (Lc 16.16). Quem defende a aplicação da lei mosaica para o povo do Novo Testamento não observa que, naquela época, havia punições de ordem física para quem não cumprisse as ordenanças (Êx 21.23-25). Mas é importante observar que parte da lei dada a Moisés foi tomada como base para a formulação dos mandamentos transmitidos à Igreja do Senhor.
Quanto aos dez mandamentos, seus destinatários originais são — clara e inequivocamente — os israelitas (Êx 20.1,2; Dt 5.1-6). A lei mosaica, como um todo, e o Decálogo (um resumo dessa lei) não devem ser guardados pelos cristãos. Entretanto, devemos observar que quase todos os dez mandamentos (nove, mais precisamente) foram retransmitidos pelo Senhor Jesus e pelos apóstolos, de modo ampliado ou modificado.
1) Não terás outros deuses diante de mim. Este mandamento foi repetido aos seguidores de Jesus por Ele mesmo e pelos apóstolos. Todos os povos da terra devem saber que somente o Senhor deve ser adorado (cf. Mt 4.10; At 19.26).
2) Não farás para ti imagem de escultura [...]. Não te encurvarás a elas nem as servirás. Especificamente sobre imagens de escultura, Paulo falou em 1 Coríntios 12.2: “Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados”. Mas o conceito de idolatria foi ampliado no Novo Testamento (cf. 2 Co 5.20; 1Co 5.11; 10.7,14; 1 Jo 5.21).
3) Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão. Vemos similaridade desse mandamento com 2 Timóteo 2.19: “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.
4) Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Este mandamento foi transmitido exclusivamente aos israelitas e aos estrangeiros que habitassem com eles (Êx 31.13; Is 56). Trata-se de uma aliança, um sinal, entre Deus e Israel (Êx 31.14-18). O Senhor Jesus nunca ensinou os seus discípulos a guardarem o sétimo dia (Mt 12.1-14; Mc 3.4). A instituição da guarda do sábado não se deu em Gênesis 2.1-3. Ali, Deus apenas santificou o sétimo dia, após ter concluído a obra da Criação. Essa instituição se deu oficialmente depois da saída do povo de Israel do Egito (Êx 16 e 20; Dt 5.12-15). Ao contrário do que asseverou Ellen G. White, em O Grande Conflito, não há nenhuma evidência de que Adão, Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó e José guardavam o sábado.
5) Honra a teu pai e a tua mãe. Este é o primeiro mandamento com promessa e foi retransmitido à Igreja do Senhor (Mc 7.10; Ef 6.2).
6) Não matarás. Ao discorrer sobre este mandamento, o Senhor Jesus o ampliou, haja vista o mandamento transmitido aos israelitas não ter previsto punição para agressões verbais (Mt 5.21,22). Observe o que está escrito em 1 João 3.15: “Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanecente nele a vida eterna”.
7) Não adulterarás. Este mandamento também foi ampliado pelo Senhor, visto que a lei mosaica não contemplava o aspecto psicológico (Mt 5.27-32). Na aludida lei, um adultério só era concretizado quando havia conjunção carnal, e esta era punida com pena de morte (Lv 20.10). A graça, por assim dizer, é mais exigente que a lei mosaica. Por outro lado, a misericórdia divina é maior nesses tempos neotestamentários (Rm 5.20).
8) Não furtarás. A mensagem divina de reprovação ao furto é reprisada e repisada em Efésios 4.28: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade”.
9) Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Jesus abordou o falso testemunho, ao discorrer sobre o julgamento calunioso: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1). Não confunda, entretanto, o falso testemunho com o discernimento espiritual, que é uma forma de julgamento lícita e conveniente (Jo 7.24; 1 Ts 5.21).
10) Não cobiçarás. O apóstolo João alude ao pecado da cobiça em 1 João 2.15-17, ao mencionar a concupiscência dos olhos. E Paulo, aludindo aos pecados dos israelitas durante a peregrinação no deserto, alertou: “E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Co 10.6).
Amém?
Ciro Sanches Zibordi
http://cirozibordi.blogspot.com/2011/12/como-devemos-interpretar-os-dez.html
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