Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

11 de outubro de 2011

CANTIGAS INFANTIS (?)

 
Por Andréia B. Borba
Se tem algo que me intriga desde criança, são as cantigas infantis.
Claro que eu, assim como tantas outras crianças, cansei de brincar de roda cantando algumas dessas “preciosidades”. Mas depois que a brincadeira acabava, muitas vezes eu ficava refletindo sobre as letras das canções.
Meus pais é que sofriam com os “por quê isso, mãe?”, “por quê aquilo, pai?”… E, é claro, nunca obtive a menor atenção (nem mesmo dos professores) quando eu saía por aí perguntando, por exemplo, porque uma casa que não tinha teto, não tinha parede, não tinha chão, enfim, não tinha nada, era "engraçada"…
O curioso é que, ainda hoje, cada vez que ouço alguém cantando uma dessas cantigas, parece que volto no tempo e as mesmas dúvidas ainda me incomodam.
E é impressionante o quanto algumas letras dessas cantigas beiram o absurdo.

Vejam só algumas que eu lembrei:

"Samba Lelê tá doente / Tá com a cabeça quebrada / Samba Lelê precisava / De umas 18 palmadas" 
Olhem isso! O pobre do tal Samba Lelê, só porque está doente e com a cabeça "quebrada " merece levar 18 (!?) palmadas? E depois ainda dizem que eu, às vezes, sou um tanto quanto implicante…
  
"Eu sou pobre, pobre, pobre de marré, marré, marré / Eu sou rica, rica, rica de marré..." 
 O interessante é que nesta aqui, a criança aprende desde cedo as diferenças socias…

 
"Fui morar numa casinha-nha infestada-da de cupim-pim-pim..." 
 E a pobre criança sai olhando as paredes à cata de furinhos na sua casa velha…
 

"A canoa virou / Pois deixaram ela virar / Foi por causa de [fulana] / Que não soube remar. " Que espetáculo, não é mesmo? O sentimento de culpa deve ser introjetado desde cedo nos pequenos…

 
"Maria, tu 'vai' ao baile / Tu 'leva' o  xale / Que vai chover / E depois / De madrugada / Toda molhada / Tu 'vai' morrer" A pobre criança que esquecer o casaquinho vai surtar achando que pode, a exemplo da tal Maria, cair mortinha… Afinal, resfriado para quê, não é mesmo? Bom mesmo é morrer de uma vez…
 
 
"Terezinha de Jesus / De uma queda foi ao chão”  
Até a pobre mulher se esborracha no chão nas cantigas dos pequenos...

  

 
 "O anel que tu me destes / era vidro e se quebrou / o amor que tu me tinhas / era pouco e se acabou"... A criançada aprende cedo que o amor é frágil, pode “se quebrar” e se acabar por qualquer coisinha…

 "O cravo brigou com a rosa / debaixo de uma sacada / o cravo saiu ferido / e a rosa despedaçada / o cravo ficou doente / a rosa foi visitar / o cravo teve um desmaio / e a rosa pôs-se a chorar..."  Tragédia pouca é bobagem, não é mesmo? Nem as flores escapam…



 "Boi, boi, boi / Boi da cara preta / Pega esta criança / que tem medo de careta..."... Ah! Essa é espetacular!!! Imaginem que sono “tranquilo” tem a criança que adormece ouvindo que um boi com a cara preta vem lhe pegar?

ou então:
Essa aqui, então, é insuperável!!! Que tal ameaçar carinhosamente a criança cantando: "Dorme, neném/ Que a Cuca vem pegar..." Ora, faça-me o favor!!! Que bendito neném vai adormecer tranquilo sabendo que, a qualquer momento, a tal "Cuca" pode vir lhe pegar???



"Atirei o pau no gato-to / Mas o gato-to / Não morreu-re-reu / Dona Chica-ca / Admirou-se-se / Do berro / do Berro / Que o gato deu"... Quem foi o maldito doente que criou essa “obra prima”??? Como se não bastasse o pobre do gato levar uma paulada e, surpreendentemente, não morrer, ainda tem a sádica da tal Dona Chica que fica admirada com o sofrimento do gatinho… Até parece uma apologia ao mau trato aos animais…
“Marcha soldado / cabeça de papel / quem não marchar direito / vai preso no quartel / O quartel pegou fogo / Francisco deu sinal / Acuda acuda acuda / A bandeira nacional"...  Nesta cantiga, o pobre soldado é xingado de “cabeça de papel” (ou seja, é chamado de burro e imbecil por tabela) e sofre ameaça de ser preso. Além disso, o tal Francisco, que avisa que o quartel está pegando fogo, ao invés de se preocupar com as pessoas, grita que o que tem que ser salvo é a bandeira nacional!!!... Ninguém merece!
“Era uma casa muito engraçada / Não tinha teto, não tinha nada / Ninguém podia entrar nela não / Porque na casa não tinha chão / Ninguém podia dormir na rede / Porque na casa não tinha parede / Ninguém podia fazer pipi / porque pinico não tinha ali / Mas era feita com muito esmero / Na Rua dos bobos número zero"...  Ora, convenhamos que o mestre Vinícius (de Moraes) só podia estar querendo tirar um sarro dos “bobos”… Para quê raios serve essa porcaria de casa?!?

  
“[…] O pato pateta / Pintou o caneco / Surrou a galinha / Bateu no marreco / Pulou do poleiro / No pé do cavalo / Levou um coice / Criou um galo / […] Caiu no poço / Quebrou a tigela / Tantas fez o moço / Que foi pra panela” E essa, então?!? O pobre (e violento) pato é um “exemplo” para qulquer criança, não é mesmo? Ninguém me tira da cabeça que, mais uma vez, o Vinícius (de Moraes) queria tirar um sarro quando compôs essa cantiga…
...

Argh!
Sinceramente, vou parar de pensar nelas para não enlouquecer...
Uma primeira versão deste texto, de minha autoria, está postado emhttp://drepente30.blogspot.com/, onde escrevo como convidada aos domingos. 
Caso desejo copiá-lo, sinta-se à vontade, porém peço a gentileza de que respeite a autoria e cite a fonte.
Grata.
Andréia B. Borba
 
 

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