Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

7 de agosto de 2011

JUGO DESIGUAL - A Maçã Podre da Igreja

 
2Coríntios 6.14 – 7.1


Quando Satanás não consegue destruir a Igreja pela oposição ele tenta a absorção. Sempre que o povo de Deus se misturou com os ímpios deu nisso: destruição. Foi assim no dilúvio (Gn 6.1-2), foi assim com Israel no tempo dos juízes e foi assim com Salomão (1Re 11.1-13).

Foi assim com você também ?

A. A Proibição do Jugo Desigual
Nosso texto básico inicia-se com uma ordem: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos…” (2Co 6.14). Muita gente até sabe o que significa “jugo desigual”, mas não tem idéia da origem da expressão. Ela foi emprestada e usada simbolicamente a partir da lei mosaica. Segundo é registrado no livro de deuteronômio todo Israel era proibido de por sob uma mesma canga (jugo) animais de espécies diferentes, como um boi e um jumento (Dt 22.10). Até mesmo o cruzamento de espécies diferentes era proibido (Lv 19.19). Essas ordens podem ter dois significados:
1. A diferença das espécies deveria ser respeitada. Animais de espécies diferentes trabalhando em parelha significaria que ou um, ou outro, ou então os dois seriam sacrificados pelo trabalho. Deus sempre foi zeloso em relação a toda a criação, incluindo os animais (Dt 25.4). Por outro lado, “combinações desnaturais violam a pureza das espécies”[1].
2. Animais limpos e imundos não poderiam estar juntos. O jumento era um animal declarado imundo (Não servia para sacrifício) já o boi, segundo a lei do Antigo Testamento, era um animal limpo (poderia ser oferecido em sacrifício)[2]

Não sabemos exatamente o que Paulo tinha em mente ao aplicar essa proibição metaforicamente ao tratar de crentes e incrédulos mas que seja pela santidade do cristão – o que é mais provável – ou pela grande diferença de características entre o cristão e o incrédulo, ambos significados são perfeitamente aplicáveis.

B. As Perguntas Retóricas (2 Co 6.14-16)
Chamamos de “pergunta retórica” aquela pergunta que não exige uma resposta por ser esta extremamente óbvia. Paulo utiliza desse recurso da linguagem para demonstrar aos coríntios o grande absurdo que é a união do crente com o incrédulo.

1. “Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade?” (v.14)
Para Calvino, “Paulo faz sua exortação ainda mais forte ao mostrar quão absurda e desnatural é a tentativa de harmonizar coisas que, por sua própria natureza, são opostas, porquanto cristianismo e idolatria não podem conviver, como a água e o fogo não o podem.”[3]
A discrepância entre o ímpio e o crente se faz ver no fato de o ímpio sempre estar associado a injustiça e pecado enquanto o crente, por ter fome e sede da justiça do Reino de Deus (Mt 5.6), tem como missão revelar a injustiça e trazer a luz o que é de fato pecado e não se deixar levar por ele.

2. “Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (v.14)
Na carta aos Colossenses, Paulo chama os crentes de “santos na luz” (Cl 1.13) e ao descrever o processo acontecido na vida dos salvos ele afirma: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor,” (Cl 1.14).
Cristo e seu povo são sempre associados a luz (Jo 1.4-9; 3.20-21; 8.12;9.5; 12.36, 46; Mt 4.16, 5.14, 16; 6.23; Lc 2.32; 11.35-36). Já “trevas” é uma palavra agregada ao pecado e ao próprio Satanás (Mt 4.16; 6.23; Lc 22.53; Jo 3.19; 12.35; Rm 13.12; Ef 5.8; 1Ts 5.5; 1Jo 2.9, 11).
Comunhão é o estabelecimento de intimidade. Como pode o crente ser íntimo do mau? “Assim como a luz e a retidão são intimamente relacionadas, assim também a escuridão e a ilegalidade são gêmeas. A primeira dupla pertence a Cristo, a segunda a Satanás, e as duas são diametralmente opostas.”[4]

3. “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno?” (v.15)
Curiosamente, a palavra utilizada na língua original para “harmonia” é a mesma da qual deriva a palavra em português “sinfonia”. De fato, Cristo e Satanás estão em completo desafino. Da mesma maneira, sons, palavras, comportamento, pensamentos, idéias do cristão não combinam com modo de vida do ímpio. Não pode haver harmonia entre eles.
Paulo torna o contraste bastante grave ao usar a palavra “maligno”. Essa palavra era costumeiramente usada para designar o chefe de todos os demônios[5]. O coração do ímpio, portanto, não tem uma leve inclinação para o mal senão que sua vida é segundo os princípios do próprio Satanás. Os ímpios ainda estão sob “os laços do diabo” (2Tm 2.26) e, conforme Jesus disse dos fariseus, são filhos do próprio diabo (Jo 8.44).

4. “Ou que união, do crente com o incrédulo?” (v.15)
Deve haver um conflito natural entre os crentes e os incrédulos. Quer na escola, no trabalho, ou até mesmo entre parentes o cristão se aflige por causa das piadas ou comentários a respeito de sua fé e mais: se o ímpio precisa mentir ele mente, se precisar enganar, ele engana; se precisar usar a cabeça dos colegas de trabalho como degraus para subir na empresa, ele o faz (veja o Salmo 73). O homem segundo o coração do diabo não tem limites; ele pode e quer roubar, matar e destruir (Jo 10.10) e só não atinge todo esse potencial destrutivo porque Deus, de uma maneira geral, refreia a capacidade do ímpio de praticar todo o mal do qual ele seria capaz. Se Deus não fizesse isso, seria praticamente impossível ao crente viver nesse mundo.
Isso não quer dizer que não possa haver convivência. Não viver nesse mundo e não compactuar com o mal que há nesse mundo são coisas bem diferentes (Jo 17.15) e o crente deve buscar este último. O texto básico nos informa que não pode haver união e daí o grande desafio; é como andar sobre uma corda bamba: conviver com os ímpios sem se tornar um com ele.

5. “Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?” (v. 16)
Paulo recorre a figura do Templo de Jerusalém para ilustrar a última de suas perguntas. A adoração antes da vinda de Jesus se concentrava no Templo de Jerusalém, o chamado Santuário de Deus. O templo foi totalmente consagrado por Deus e projetado em todos os detalhes pelo próprio Senhor. Não havia qualquer ídolo, imagem ou estátua nele e esse era um motivo pelo qual os judeus eram conhecidos entre muitos povos como ateus. Outras culturas adoravam centenas ou talvez milhares de deuses através de ídolos e desse ponto de vista ter somente um deus era motivo de riso.[6]
O judeu, todavia, sabia das exigências de Deus em relação a reverência no Templo. Há um fato ocorrido na história de Israel que ilustra isso muito bem. No reinado de Saul a Arca da Aliança estava de posse dos filisteus por ocasião da derrota em uma batalha. Os filisteus depositaram a Arca aos pés de Dagom, seu deus (1Sm 5) e por dois dias consecutivos a imagem de Dagom apareceu caída diante da Arca sendo que da segunda vez, com a cabeça e os membros quebrados e separados do resto.
A partir da antiga aliança, Paulo aplica a verdade da santidade do templo à nova aliança, ou seja, após a vinda de Cristo não há mais necessidade do Templo de Jerusalém pois o novo templo habitado por Deus é o seu povo: “Porque nós somos santuário do Deus vivente…” (2Co 6.16. Veja também 1Co 3.16; 6.19; Rm 8.9). Da mesma forma, portanto, que a estátua de Dagom não pôde permanecer junto da Arca do Conserto, os ímpios e cristãos não poderão suportar ter comunhão um com o outro pois não há nenhuma ligação entre ambos.

C. A Suficiência e Satisfação no Pai (16b-18)
Geralmente a questão do jugo desigual vem a tona por causa do casamento misto, quando um casal é composto por um cônjuge crente e outro não. Embora possa perfeitamente ser aplicado dentro desse contexto, o tema tem uma esfera de abrangência muito maior. Qualquer tipo de relação que faça o crente se desviar de seus valores e convicções cristãs pode ser alvo desse mal. O relacionamento entre vizinhos, amigos, sócios, colegas de trabalho, na escola, no namoro... qualquer esfera de relacionamento humano em que o crente se vir pressionado ou influenciado pelo ímpio é um tipo de jugo desigual.
Agora consideremos: por que, por exemplo, um rapaz ou moça crente resolve arranjar namorado(a) fora da igreja? Por que uma empregada doméstica decide agradar a patroa e mentindo dizer ao telefone que ela não está? Por que um sócio temente a Deus aceita fazer algo ilegal por insistência dos demais sócios? Por mais que se tente florear, a resposta não pode ser outra senão falta de confiança em Deus e o pior, achar que dinheiro, sustento e a felicidade são bênçãos proporcionadas por ímpios e não por Deus. Falar de jugo desigual é falar sobre idolatria.
Para combater esse mal, Paulo lembra os coríntios que a relação que o crente tem com Deus é filial, ou seja, toda a história do Antigo testamento aponta para a verdade de que Deus trata de seu povo como um Pai que cuida de seus filhos:
Podemos “não tocar em coisas impuras” (v.17); não precisamos delas porque Deus é nosso Pai. Não precisamos entrar em jugo desigual para completar o que nos falta. Deus é suficiente; nosso Pai é suficiente (v.18).

Conclusão (7.1)

“O apóstolo ensina que, de um ponto de vista religioso, o crente e o incrédulo são opostos e nada têm em comum. Ele reforça seu argumento citando vários textos do Antigo Testamento que expressam tema semelhante: o povo de Deus é o povo da aliança (Lv 26.12), que deve separar-se das práticas religiosas dos incrédulos, não tocar qualquer coisa imunda (Is 52.11) e saber que Deus é um Pai para seus filhos e filhas espirituais (2Sm 7.14).”[7]
O que Deus espera de nós, a partir do estudado, é uma tomada de direção. Nossa vida deve convergir somente a adoração a Deus o que na prática significa encontrar nele a suficiência a fim de descartarmos toda e qualquer parceria com o mundo. “Purifiquemo-nos […] aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus”.
 


[1] J. A. Thompson. Deuteronômio, introdução e comentário, São Paulo, Vida Nova, 1991, p.225.
[2] Cf. R.N. Champlin. O Antigo testamento Interpretado, São Paulo, Candeia, 2000, Vol 2. p. 838.
[3] João Calvino. 2Coríntios, São Paulo, Paracletos, 1995, p.139.
[4] Simon J. Kistemaker, 2 Coríntios, São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p. 320.
[5] Cf. Albert Barnes. Notes On the Bible, 2Co 6.15.
[6] Cf. Kistemakes, p. 324.
[7] Simon J. Kistemaker, 2 Coríntios, São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p. 320.
 

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