por William Mazza
Já faz um tempo que parei com minha série sobre personagens secundários, mas extraordinários da Bíblia. Digo “secundários”, pois não estão na primeira ordem nas pregações e estudos bíblicos, como Davi, Paulo e, obviamente, Jesus. São histórias incríveis que muito nos auxiliam a entender a história da salvação, e também nos ajudam a entender o caráter de Deus.
Muitos reis de Israel ou Judá foram maus, e constantemente se desviavam da vontade de Deus, e consequentemente, levavam todo o povo a pecar também. Entretanto, Ezequias foi uma grata exceção. Aliás, o relato bíblico diz que “depois dele não houve quem lhe fosse semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.” (2 Rs 18.5). Ele assumiu o trono de Judá numa época terrível, quando a cruel Assíria pulverizou o reino do Norte, e teve muita fé e foi muito macho (!) de afrontar o então “dono do mundo” Senaqueribe, que estava prestes a exterminar Judá também.
Mas o fato mais curioso ocorreu quando uma grave doença o abateu. O profeta Isaías foi à sua presença e anunciou sua morte precoce, gerando uma reação esperada da parte de Ezequias, que implorou por sua vida ao Senhor (2 Rs 20). E não é que o Senhor ouviu sua oração, sarou sua doença e ainda, de lambuja, deu mais 15 anos de vida ao rei de Judá? Incrível! Isso levanta uma questão: Deus muda de idéia?
Bem, vamos pensar. Por que alguém muda de idéia? Ou por que errou, ou pensou melhor, ou se arrependeu, ou não vislumbrou antes uma decisão melhor. Nada demais, desde que não estejamos falando de Deus. Se dissermos que Ele errou, ou se arrependeu, ou coisa parecida, estamos colocando em cheque a perfeição de Deus. Aí não dá.
Então, o que ocorreu no caso de Ezequias? Simples, o Senhor ouviu a oração de Ezequias e mudou sua decisão. Não por erro, mas por amor e misericórdia. E isso nos abre um precedente maravilhoso, pois mostra que não há nada definitivo, que não possa ser mudado, até um desígnio do Pai, desde que Ele decida por agir dessa forma. Por exemplo, quando Jesus pediu para afastar o cálice de si (Lc 22.42), a resposta foi negativa. E é aí que fica a sutileza do assunto.
Vivemos numa época onde as pessoas “declaram”, “ordenam” e “determinam” coisas para Deus. Ou pelo menos, acham que o fazem. Invertem os papéis. Tratam Deus como um ídolo barato, que tem que sair correndo para fazer a vontade do homem, sob pena de não mais ser “invocado”. Que triste ver as pessoas agindo assim… Que falta de noção da realidade!
Na minha opinião, o crente mais fiel é aquele que tem a coragem de não pedir nada em seu favor, e deixar a vontade de Deus correr solta. Lembrei de uma entrevista do então técnico do São Paulo, Telê Santana. O repórter lhe perguntou, após o tricolor do Morumbi faturar o segundo título mundial consecutivo: “E aí, Telê, o que mais te falta? O que pede a Deus?”. Ele respondeu com uma grandeza e fé extraordinárias: “Eu não peço nada, eu só agradeço”. Ou nas palavras de Paulo: “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1:21), ou seja, não importa o que vai acontecer. Seja feito aquilo que Deus quiser.
A boa notícia é para todos aqueles que oram por causas “impossíveis”. Está entre aspas, pois para Deus não há impossíveis. Se Ele quiser, qualquer situação pode se reverter, ou tomar outro rumo. Não ache que por que ocorreu com Ezequias, obrigatoriamente, vai acontecer com qualquer um. Mas também não pense que Ele só se compadece dos outros, nunca de você. Nem pense que seus méritos é que irão convencer Deus de algo. Apele sempre para o infinito amor e misericórdia do Pai. Como Jesus ensinou: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7:7). Tenha fé!
Para terminar, como de costume, quero dizer como Ezequias é um tipo de Cristo, afinal, eu sempre digo que os principais personagens do AT são figuras daquele que havia de vir. O versículo 6, do capítulo dezoito de 2 Reis, esclarece: “Porque se chegou ao SENHOR, não se apartou dele, e guardou os mandamentos que o SENHOR tinha dado a Moisés”. Ezequias representa Cristo como aquele que andou com Deus em todos os momentos de sua vida, guardando seus mandamentos e cumprindo a lei. Um tremendo exemplo de fé.
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