Por Flávio Cardoso
"Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo’’ (João 3:1-7).
Esse texto, tão conhecido por todos nós, nos revela a história de um mestre da lei dos judeus chamado Nicodemos, que, de noite, encontrou-se com Jesus para saber mais sobre a salvação.
Nicodemos era fariseu, a principal seita judaica da época de Jesus, membro do Sinédrio, o mais alto tribunal civil e eclesiástico de Israel, e mestre da lei, pois estudava, interpretava e ensinava as Escrituras ao povo. Era um homem extremamente religioso, freqüentava assiduamente as sinagogas, dava esmolas, era fiel nos dízimos, liderava seus compatriotas nas coisas concernentes à religião, e entendia sobre o Antigo Testamento como poucos.
Entretanto, o texto nos revela que, apesar de todas as suas qualidades e méritos religiosos, Nicodemos era um homem perdido, que sabia não haver alcançado a verdadeira salvação, apesar de toda uma vida de esforço para isso.
Nicodemos representava o melhor da religião, do conhecimento, do comportamento, e da moral humana, mas tropeçava na verdade bíblica de que todos eram pecadores (Salmo 14:3) e estavam afastados do Criador, pois seus melhores atos de justiça, para Deus, eram como trapos de imundícia (Isaías 64:6). Sua alma estava em guerra contra Deus (Romanos 7:23) e ansiava pela paz. Essa foi sua intenção ao procurar Jesus.
Ao encontrar-se com o Senhor, é possível que Nicodemos esperasse ouvir do Mestre uma palavra de encorajamento como "Não desista, você está no caminho certo, você só precisa melhorar um pouco mais’’, mas não foi isso o que aconteceu. Jesus foi direto ao ponto chave. Ele sabia que Nicodemos esperava que sua "retidão moral’’ o levasse à salvação. Por isso, Jesus não usou de rodeios: "Quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus’’ (v. 3) e acrescentou: "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus’’ (v. 5). Jesus foi taxativo: nenhum indivíduo pode entrar no céu sem o novo nascimento. Essa é uma condição indispensável.
Jesus foi absolutamente franco com Nicodemos e também o é para conosco. Nossa religiosidade não é capaz de nos levar a Deus! Nossas boas ações ou intenções não são suficientes! Aliás, se depender de nosso merecimento, a única coisa que poderemos receber é a condenação eterna (Romanos 6:23). Só existe uma saída, e Jesus a estava apresentado a Nicodemos naquele momento. Ele precisava de um novo nascimento, uma nova vida, uma transformação total e não apenas uma reforma. Ele foi à pessoa certa. Jesus é o único caminho que leva ao pai (João 14:6).
Embora Nicodemos fosse um grande mestre religioso de sua época, ele não entendeu o que Jesus estava lhe dizendo naquele momento. O que significava nascer de novo? Ele imaginou que o novo nascimento poderia ser uma repetição do nascimento natural. A sua pergunta parece absurda: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?’’.
A dúvida de Nicodemos, por mais absurda que pareça, ainda persiste em nossos dias. Provavelmente nunca imaginamos que nascer de novo signifique o retorno ao ventre de nossa mãe, todavia, há muitos, inclusive dos que freqüentam a igreja, que ainda não entenderam o significado desse nascer de novo e, tampouco, viveram essa experiência em suas vidas. Então, o que seria nascer de novo?
O que não é o novo nascimento
Tornar-se uma pessoa melhor
O novo nascimento não é algo que fazemos para Deus, mas que Espírito Santo faz em nós e por nós. É comum vermos pessoas que, ao conhecer o evangelho, se esforçam para ser pessoas melhores, deixando a prática de alguns pecados e tornando-se mais justas ou bondosas, pensando que isso as qualifica para a salvação. A palavra de Deus é muito clara quando nos afirma que somos salvos pela graça, não por obras, não vindo isso de nós, mas diretamente de Deus (Efésios 2:8). Nossas justiças não são suficientes para nos salvar (Isaías 64:6). Podemos até melhorar aos nossos próprios olhos, mas isso nunca será suficiente para nos tornar dignos diante de Deus (Tiago 2:10). Precisamos nascer de novo e, para que isso aconteça, é necessário que o velho homem seja mortificado em nosso ser. Não há como melhorar nossa velha natureza, por isso, ela precisa morrer para que a natureza do segundo Adão, Cristo, possa florescer em nós (I Coríntios 15:22).
Tornar-se evangélico
O novo nascimento não é uma mudança de religião. Provavelmente você já se deparou com pessoas que simplesmente mudaram de religião, pensando assim alcançarem a salvação. Somos resgatados da morte para a vida quando nascemos de novo, e não quando entramos para o rol de membros de uma igreja. O reino de Deus não é constituído por evangélicos ou religiosos, mas por novas criaturas, criadas segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Efésios 4:24).
Muitos pensam que a salvação vem como uma retribuição por nossa assiduidade aos cultos promovidos pela igreja. Não. A nossa salvação não depende disso. A reunião da igreja como Corpo de Cristo foi instituída por Deus e é de grande importância para nosso crescimento e amadurecimento espiritual, todavia, é uma conseqüência de nossa salvação, e não o seu motivo (Colossenses 1:18). Não se engane, pois a freqüência aos cultos não é evidência do novo nascimento. Muitas religiões pregam a salvação como conseqüência de uma vida que observa os ritos e preceitos religiosos, todavia, a verdadeira salvação é proporcionada pela graça de Deus, mediante a vida e morte de Jesus na cruz como nosso representante e substituto.
Ser batizado
Também há os que pensam que, pelo batismo nas águas, hão de herdar a salvação. O batismo é um mandamento instituído diretamente por Jesus, como marca daqueles que professam a fé no seu nome. Todavia, o texto bíblico é claro ao afirmar que o batismo deve ser precedido pela fé em Cristo (Marcos 16:16). Essa fé que é tratada aqui não é apenas "acreditar em Deus’’, pois, segundo as Escrituras, até os demônios crêem e tremem diante de Deus (Tiago 2:19). A fé salvadora é aquela que nos impulsiona à rendição a Cristo de todo o coração, entregando-nos a ele por completo, crendo em sua vida, morte e ressurreição. O batismo nada mais é do que o simbolismo do novo nascimento. No batismo estamos testemunhando ao mundo aquilo que já experimentamos em nosso espírito. Não nascemos de novo quando fomos batizados, mas fomos batizados porque nascemos de novo.
Reencarnar
Os espíritas kardecistas, pessoas a quem Deus ama e que se consideram cristãs, acreditam que o novo nascimento a que se referia Jesus é a reencarnação. A crença na reencarnação é muito antiga, anterior até mesmo ao cristianismo. Pode ser que o próprio Nicodemos, ao perguntar a Jesus se deveria voltar ao ventre de sua mãe, estivesse pensando em algo do gênero.
Mas a resposta de Jesus mostra que essa interpretação não pode ser correta. Releia João 3:5-7. Em outras palavras, o que Jesus explicou é que não adiantaria nascer novamente da carne, pois carne é carne e, como completou o apóstolo Paulo, "carne e sangue não podem herdar o reino de Deus" (I Coríntios 15:50). Ou seja, se existisse a reencarnação, ela não resolveria nosso problema, pois ainda que reencarnássemos 1 milhão de vezes continuaríamos sendo carne, e não poderíamos ter acesso a Deus. Assim, o novo nascimento a que se referiu o Mestre não é um novo nascimento da carne, como entendem os reencarnacionistas, mas um nascimento do Espírito. Um nascimento "de cima", sobrenatural. Um nascimento de Deus (João 1:13). Trata-se de um evento que insere no homem a natureza divina (II Pedro 1:4), a qual passa a coexistir com a natureza humana, adquirida quando ele nasceu de sua mãe. Como examinaremos mais detidamente na próxima seção, é essa natureza divina que opera a salvação no homem.
O que é o novo nascimento
O novo nascimento é uma obra divina e sobrenatural, um mistério maravilhoso operado por Deus em nossas vidas. No novo nascimento, nossa velha natureza é morta, e a natureza de Cristo gerada em nossos corações, "pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente’’ (I Pedro 1:23).
A partir do novo nascimento, somos novamente gerados à imagem e semelhança de Deus, como no princípio, deixando de pertencer à descendência pecaminosa de Adão, para nos tornarmos descendência de Cristo, pois, "assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo’’ (I Coríntios 15:22). Somos descendência de Cristo, filhos de Deus. Essa é a promessa expressa em João 1:12-13: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus’’.
Existem três importantes aspectos que precisam ser entendidos sobre o novo nascimento:
O novo nascimento é produzido pela Palavra
Isso é o que Jesus quis dizer com nascer da água (v. 5). A água que nos purifica não é a água do batismo, mas a água da Palavra (Efésios 5:26). A fé vem pelo ouvir a Palavra (Romanos 10:17). Somos gerados pela divina semente da Palavra (I Pedro 1:23). Quando ouvimos a Palavra, e a recebemos em fé, a divina semente germina dentro de nós, produzindo uma nova vida.
O novo nascimento é produzido pelo Espírito Santo
O Espírito Santo é o agente do novo nascimento. Somos salvos pelo lavar regenerador do Espírito Santo (Tito 3:5). Ele implanta em nós o princípio da nova vida e então, somos gerados de novo. Essa ação do Espírito Santo é invisível, porém perceptível. É como o vento que você não sabe de onde vem nem para aonde vai, mas percebe seus efeitos (João 3:8).
O novo nascimento é produzido do sacrifício vicário de Cristo
Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, Jesus foi levantado na cruz (João 3:14-15). Assim como os israelitas foram curados da mordedura das serpentes abrasadoras quando olharam para a serpente de bronze (Números 21:5-9), assim também aqueles que, inoculados pelo veneno mortal da antiga serpente, Satanás, olham com fé para Jesus e são perdoados de seus pecados e recebem o dom da vida eterna (João 3:14-15).
Os resultados da regeneração
Regenerados, Deus nos convida a viver em novidade de vida (I Coríntios 5:17, Romanos 6:11-13), mediante a sua natureza implantada em nossos corações, pois "todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus’’ (I João 3:9).
Você precisa nascer de novo! São as exatas palavras de Jesus a um homem religioso, assíduo aos cultos e tido como mestre em Israel. Mesmo assim, Jesus lhe disse que faltava-lhe o principal: uma nova vida gerada por Deus.
Nesse momento, gostaria de lançar um desafio a você. Será que você tem de fato experimentado uma nova vida em Deus, tendo em seu coração o penhor do Espírito Santo confirmado que você é um filho de Deus? Ou, ao contrário, você se sente como Nicodemos, uma pessoa religiosa, uma pessoa piedosa, que sabia tudo sobre Deus, mas não o conhecia pessoalmente.
Gostaria que você analisasse sua vida nesse instante e, se ainda não passou pela experiência do novo nascimento, isso pode acontecer ainda hoje.
Para aprofundar o estudo desta lição, sugerimos o livro 'O Melhor de Deus para a Sua Vida',
de Hernandes Dias Lopes (Ed. Betânia, São Paulo, 2004).
Oi visita o meu blog http://parandopararefletirje.blogspot.com/ é novo tá bjo
ResponderExcluirJá fui lá. Está uma graça seu blog. Estou te seguindo. Grande abraço.
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