Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

1 de junho de 2010

OS CRISTÃOS, AS TATUAGENS E OS PIERSINGS - 5


Pode o cristão colocar piercings em seu corpo?

Conhecida como “Body Modification“, a prática de fazer modificações no corpo tem atraído a muitos, principalmente jovens e adolescentes. Aplicações com ferro quente, desenhos feitos com bisturi, implantes, bifurcação da língua, a variedade é grande... Um pouco menos radical e bem mais comum entre a galera, a onda agora é o uso de piercings. Enquanto isso, alguns se perguntam: o que a Bíblia diz sobre este assunto? Qual deve ser o posicionamento do cristão diante destes modismos? É possível um jovem, cujo desejo sincero é obedecer a Deus, colocar um piercing – por exemplo – e manter-se firme em sua fé?
Este é um assunto polêmico e sempre motivo de grande discussão no meio evangélico. Pode ou não pode? Convém ou não convém? É pecado ou não é? Vamos tentar analisar o assunto sem preconceitos e de maneira mais objetiva possível.

ORIGEM

Introduzir brincos e adornos no corpo é um costume que vem de civilizações muito antigas. Achados arqueológicos (alguns com mais de 4 mil anos) comprovam seu uso em várias culturas primitivas, como Egito, Índia, Nepal, Malásia, Tailândia, Maia, Asteca, Nova Zelândia, etc…
A popularização de tais práticas nos grandes centros urbanos advém dos anos 70, com os punks na Inglaterra e o movimento gay nos EUA. A moda chegou ao Brasil com força total na década de 80, primeiramente entre as “tribos” do underground e culturas alternativas, se disseminando entre artistas e roqueiros, espalhando-se depois entre as mais diversas camadas sociais tornando-se um símbolo pop.

SIGNIFICADOS DIVERSOS

Apesar de considerado por muitos como sinônimo de modernidade, a origem dos piercings está ligada a ritos de passagem e costumes de muitas civilizações antigas, e possuiem diferentes significados de acordo com cada época e cultura.
No Egito, piercings no umbigo eram identificadores de realeza e beleza. Os Maias usavam por motivos religiosos, estéticos e também para inibir os inimigos. Entre os hebreus perfurar a orelha simbolizava um pacto de escravidão (Ex 21.6). No hinduísmo primitivo, o piercing era um sinal de que a pessoa dedicara parte do seu corpo a uma determinada divindade, dando-lhe permissão de entrada e de domínio por parte da divindade desta parte do organismo.
De um modo geral, em nossa sociedade a grande maioria dos adeptos de tais adornos, o faz por motivos estéticos ou culturais. Alguns o querem como adorno por ser simplesmente bonito e atraente, outros por simbolizar sua adesão a determinada “tribo” ou ideologia, outros encaram como uma expressão de princípios e valores pessoais, e há também quem os veja como uma espécie de fetiche.

OPINIÕES CONTRÁRIAS

Não dá para negar que o uso de piercings trouxe para as cidades a consagração de uma nova tribo urbana. Entretanto, não são poucos os que se levantam contra esta prática, sob vários argumentos.
Piercings são frequentemente relacionados à atitude de agressividade e revolta, com uma conotação de rompimento com os pais, o núcleo familiar e a sociedade vigente. Uma maneira de externar descontentamento e o desejo de uma vida alternativa, marginal, contrária à ordem estabelecida. Inclusive alguns setores profissionais simplesmente não contratam funcionários que tenham qualquer tipo de modificação em seu corpo, alegando que alguns adereços transgridem a visão de seriedade que a empresa ou instituição deseja transmitir.
A classe médica também tem suas restrições. Inúmeros estudos e pesquisas têm apontado os riscos de tais práticas que, mesmo seguindo todas as prescrições de higiene e realizadas por profissionais devidamente habilitados, podem acarretar infecções das mais severas, abscessos, alergias, quelóides e até hemorragias.
Entretanto, dentre os principais opositores de tais práticas, estão boa parte dos cristãos – católicos e evangélicos. No que diz respeito a Piercings e outras práticas de Body Modification, muitos cristãos são enfáticos em afirmar que perfurar o corpo sempre traz implicações espirituais. Fundamentam tal pensamento no costume judeu de furar a orelha como sinal de escravidão voluntária a um determinado senhor, descrito em Êxodo 21:1-6: “Estes são os estatutos que lhes proporás. Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça. Se entrou só com o seu corpo, só com o seu corpo sairá; se ele era homem casado, sua mulher sairá com ele. Se seu senhor lhe houver dado uma mulher e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e seus filhos serão de seu senhor, e ele sairá sozinho. Mas se aquele servo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e a meus filhos; não quero sair livre. Então seu SENHOR o levará aos juízes, e o fará chegar à porta, ou ao umbral da porta, e seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.”
Além do texto bíblico citado, outro agravante está na idéia de que o uso do piercing esteja ligado a crenças hinduístas. Isto porque um dos locais mais comuns de colocação dos piercings (umbigo) corresponde a um dos sete pontos chamados “chakras”, que são, segundo a cultura oriental, os centros de energia onde se daria a interação entre o corpo e a mente. Os outros demais pontos conhecidos como “chakras” localizam-se no topo do crânio, no meio da testa, garganta, coração, ventre e baixo ventre. Diante disso, vários líderes cristãos têm condenado o uso de piercings, entendendo que aquele que submete o corpo ao seu uso está, conscientemente ou não, dando legalidade para que um espírito demoníaco o domine. 

BUSCANDO A RESPOSTA NO LUGAR CERTO

Mediante tanta controvérsia, voltamos à questão inicial: é lícito ao cristão colocar um piercing?
Sendo a Bíblia nosso livro de fé e prática, vamos buscar nas Escrituras esta resposta.
O que a Bíblia diz sobre Piercing?
Encontramos na Palavra de Deus alguns textos que fazem referência a brincos. Gênesis 35:4 e Êxodo 32:2-3 descrevem homens e mulheres que usavam brincos nas orelhas como um tipo de adorno. Em Ezequiel 16:12 o brinco feminino aparece como uma jóia presenteada pelo próprio Deus. Tal adereço aparece também em outros textos, e em nenhum deles é tido como algo que o Senhor não aprova. Gênesis 24:47 e Isaías 3:21 fazem alusão a um pendente usado no nariz (algumas traduções mais antigas trazem a expressão “argolas no nariz”) mas, nestes casos, provavelmente referem-se a um tipo muito comum de colar que saía detrás da cabeça, cobrindo o nariz.
Mas o texto usado como base para condenar o uso de brincos (para os homens) e piercings em geral, encontra-se em Êxodo 21:1-6: “Então seu SENHOR o levará aos juízes, e o fará chegar à porta, ou ao umbral da porta, e seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre” (Ex 21:6)
Aqui lemos que a prática de perfurar a orelha entre os judeus era símbolo de escravidão e subserviência. Todas as pessoas que vissem um homem com orelha furada saberiam que ele escolheu, de livre e espontânea vontade, ser escravo de alguém. Note que não é uma referência ao uso de brincos, mas sim ao ato de furar a orelha. Tal costume também fazia parte do conjunto de Leis dado ao povo de Israel, e não encontramos nenhuma recomendação ou proibição a esta prática nos Livros Proféticos ou no Novo Testamento, denotando ser, portanto, algo específico para aquele povo e para aquela época. Repito: EM LUGAR ALGUM DAS ESCRITURAS ENCONTRAMOS, ESPECIFICAMENTE, QUE É PECADO FURAR A ORELHA OU COLOCAR PIERCINGS NEM TAMPOUCO QUE TAIS PRÁTICAS CORRESPONDEM A ALGUMA ABERTURA PARA ESPÍRITOS MALIGANOS.

NÃO É PECADO. ENTÃO PODE?

Muita calma nessa hora... O texto de 1 Coríntios 6:12 alerta: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Longe de pretender colocar um ponto final a essa discussão, e tentando fugir de radicalismos (geralmente tão perigosos), creio que o jovem cristão que pensa em se utilizar de algum tipo de adorno que transforme permanentemente – ou não – o seu corpo, precisa antes ponderar séria e demoradamente sobre algumas questões:
1. Por que quero fazer isso no meu corpo? “…quer vocês comam, bebam, ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para glória de Deus.” (I Co 10:31)
2. Isto prejudicará outras pessoas? “…façamos o bom propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão.” Rm 14:13
3. Esta decisão viola de alguma maneira a autoridade dos seus pais, líderes espirituais ou governo? “Aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu” (Rm 13.2)
4. Vai causar algum tipo de mal ao meu corpo? “O homem bom cuida bem de si mesmo, mas o cruel prejudica o seu corpo.” (Pv 11:27)
5. Vai deformar de alguma forma a minha dignidade humana? “Vivam de maneira digna da vocação que receberam.” Ef 4:1
6. Apresenta alguma aparência do mal? “Fujam da aparência do mal.” (I Ts 5:22)
7. A natureza da prática dá lugar à carne, envolve magia, ocultismo, idolatria, exploração ou malignidade? “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus” (Cl 3.17)
8. Trará edificação ou a glória de Deus? “Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo.” (1 Co 6.20)
9. Posso testemunhar da minha fé enquanto faço isso? “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” (1 Pe 3.15)
10. Minha consciência terá paz se eu fizer assim? “Combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência…” (I Tm 1:18-19)

CONCLUINDO

O uso de adornos em geral está vinculado mais ao contexto cultural que espiritual. Por isso, não existe uma resposta única e categórica nestes casos. Para alguns, o uso de piercing, tatuagens, maquilagem, tintura no cabelo, tornozeleiras e afins pode ser encarado com naturalidade e em nada chocar-se com sua fé ou seu relacionamento com Deus. Por outro lado, para outras pessoas pode significar uma afronta gigantesca à santidade de Deus. Assim sendo, TRATA-SE DE ALGO PESSOAL, SEGUNDO A CONSCIÊNCIA E A CULTURA DE CADA INDIVÍDUO.
Obviamente, mesmo para os adeptos de um visual mais extravagante, existem piercings e “piercings”. Piercings ou adornos que passam uma mensagem agressiva e/ou deformam o corpo humano sempre expressarão uma mensagem contrária à fé cristã e não devem fazer parte do look do discípulo de Jesus.
Jesus Cristo, em todo o seu ministério nunca julgou ou condenou alguém por sua aparência. Ele sempre olhava para o coração. Como Ele, precisamos aprender também a olhar o outro com amor, sem preconceitos, lembrando que somos livres em Cristo para usufruirmos da multiforme Graça de Deus.
Nestes assuntos, sempre haverá o grupo dos favoráveis e o dos contrários. Dificilmente entraremos num consenso sobre isso. Unidade não é conformidade. Assim sendo, aquele que gosta ou acha correto, que haja em coerência com sua consciência. Aquele que não concorda ou acha errado, que faça o mesmo, mas tudo com amor, que é o vínculo da perfeição.
Creio que o fundamental diante de temas polêmicos é respeitar o outro, e admitir que Deus opera na diversidade. Que possamos investir nosso tempo em coisas mais úteis e, como nos exorta a Palavra: não nos colocarmos na posição de juízes. “Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de sustentá-lo. Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.” (Rm 14:4,10,12). Vivamos pois, a nossa fé em liberdade e amor.

Nas coisas essenciais, unidade. Nas não essenciais, liberdade. E, em todas elas, amor.

Márcia Rezende
 
http://www.terceirabatista.org.br/index2.php?id=67 

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