Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

2 de março de 2012

A TRISTE MANIA QUE TEMOS DE MEDIR TUDO



autor: Carlos Sider


Nossa cabeça finita nos impele a medir tudo o que vemos e experimentamos. A dar uma nota a tudo que provamos. A dar um valor a tudo. Seja bom e será recompensado. Seja mau e você terá de pagar o preço. Chamamos a isso de lógica, de lei de causa e consequência. Da lei do aqui se faz, aqui se paga.

Somos mais altos, mais baixos, mais gordos, mais magros que os outros. Malhamos mais, malhamos menos, talvez devessemos malhar. Fazemos melhor, fazemos pior. Ganhamos mais, ganhamos menos; nosso carro é um carrão ou é um mero transporte. O duro é notar que os nossos referenciais sempre estão nos vizinhos, seja o de casa, seja o do escritório, seja o da igreja, seja o da classe.

E na impossibilidade de sermos os melhores em tudo, sempre movemos os nossos referenciais ao nosso belprazer. “Eu não sou tão magro nem atlético como o fulano, mas pelo menos ganho mais...” Ou então: “é, o beltrano tem muito mais grana, mas deve ser uma barra viver do lado daquela jararaca...” Assim vamos apaziguando a nossa consciência. Na nossa incapacidade de ganharmos todas, propomos empate.

Mas pior do que essa mania besta, duro mesmo é quando tentamos espiritualizar as coisas, e chegamos ao absurdo de colocar Deus no meio das nossas “réguas”. “Olha, aquele irmão que anda ganhando bastante dinheiro deve ter uma vida “daquelas” com Deus, pra ser tão abençoado assim...” Tentamos medir a Deus, ou esperar algo de Deus, com base nas nossas escalas de mérito. Fazendo isso portamo-nos como crianças pedindo presentes ao papai-noel. Não dizemos que fomos bonzinhos durante o ano, por isso queremos uma bicicleta nova. Mas ficamos contando que, se lermos a Bíblia inteira durante este ano, ou se dermos mais dinheiro pra igreja, Deus por certo nos dará suas bençãos. Vestimos a fantasia de Bildade, de Zofar, de Elifaz.

Eu me refiro aos personagens do livro de Jó, na Bíblia. Bildade, Zofar, Elifaz, Eliú eram os nomes dos amigos de Jó. Muy amigos. Jó estava passando por toda a provação que Deus lhe permitiu passar, e como se não bastasse, um a um dos seus muy amigos discursava para dizer que tudo aquilo era a paga, o castigo pelo pecado dele. Ao contrário do que a própria Bíblia diz, que Jó era um homem justo e temente a Deus, e que a prova pela qual ele passava era parte do soberano processo de Deus para que Jó o conhecesse mais e melhor, e crescesse. 


A “teologia dos amigos de Jó” está mais presente entre nós do que imaginamos ou atentamos. É representada pelas nossas “réguas”, nossas escalas de mérito. Quer ver?

Lembre-se daquele cristão rico que você conhece, de posses, de propriedades, etc, etc. Mesmo sem conhecer bem sua vida diante de Deus, a “teologia dos amigos de Jó” é a que saí dizendo que o tal irmão é muito “abençoado” por Deus. Pode até ser, mas como se explica os outros ricos que vivem sem querer saber de Deus?

Lembre-se agora daquele cristão pobre, que vive equilibrando um salário cada vez menor com as suas necessidades cada vez maiores. A “teologia dos amigos de Jó” classifica esse tipo de irmão como “fiel”, “perseverante”, mesmo sem saber se ele é ou não. Agora, “abençoado” não! Por que?

Porque para a “teologia dos amigos de Jó” benção é grana. Benção se mede e quantifica. Benção é carro novo, terreno, casa. Benção é cura. Benção é milagre. Para a “teologia dos amigos de Jó” benção é recompensa pelo mérito que temos em nossas ações. E a falta de benção é castigo para os que foram maus. 

A verdade na qual creio é que tudo isso pode ser e é benção na vida de muita gente, mas benção é muito mais. E mesmo na falta de tudo isso pode haver benção, e das grandes e boas.

A nossa “teologia dos amigos de Jó” nos leva a tentar entender e explicar Deus por estas mesmas “medidazinhas” humanas. A “teologia dos amigos de Jó” tenta submeter Deus a um esquema de causa e efeito pobremente humano, como que imputando a Ele a obrigação de abençoar os bons meninos, e castigar os maus. Chegando ao cúmulo de dizer que Deus opera pela meritocracia. Coitados de nós se Ele o fizesse!

Deus opera pela graça. Por que Ele deseja nos salvar? Por certo não é porque mereçamos, mas porque Ele nos ama. E por que Ele nos ama? Nunca conseguí entender! Os capítulos 38, 39 e 40 do livro de Jó são uma rara e linda lição a quem ainda acha que consegue entender a Deus, que consegue “racionalizar” o que Deus faz.

Deus opera em nós conforme o Seu plano e Sua sabedoria, conforme Ele quer. A partir do momento que tem nossa vida em Suas mãos, de fato, entramos em um processo de aperfeiçoamento que nos levará à estatura de Cristo. Se este caminho passa por riquezas ou pobreza, Deus é quem sabe. Se é vivido em uma planície sombreada ou como que dentro de um moedor de carne, Deus é quem define. Mas por certo passa por bençãos. Muitas bençãos, medidas somente pelas escalas de Deus, Muitas das bençãos a serem recebidas e medidas além deste mundo. Algo que nossos olhos não podem ver.

Conhecer a Deus como conheciam os muy amigos de Jó é uma grande roubada. Veja o que Deus lhes disse: “Vão agora até o meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês mesmos. Meu servo Jó orará por vocês; eu aceitarei a oração dele e não lhes farei o que vocês merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó” (Jó 42:8).
Conhecer a Deus como conheciam os amigos de Jó é viver uma vidinha sem graça. Lutando, no braço, por mais espaço, atenção, por mais bençãos. É viver por uma escala de mérito que jamais alcançaremos. 
Conhecer a Deus como Ele se faz conhecer, de verdade, é viver vida eterna. Muito além do que se pode medir ou experimentar nessa vida.

Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho a quem deseja bem” (Provérbios 3:12)


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