Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

4 de agosto de 2017

RISCAR O NOME DO LIVRO? QUE SIGNIFICA ISSO?




Por Nedson Fonsêca 


“Respondeu o Senhor a Moisés: ‘Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim’.”. Que Livro é este? Que lista de nomes é esta? Se ele risca é porque o nome está lá. 

Entre as variadas questões e dúvidas levantadas acerca do Antigo Testamento, essa está entre as que são mais frequentes. E uma resposta simplista não satisfará a questão, de maneira que, precisamos analisar contextualmente, gramaticalmente e, sem, pressuposições. A interpretação aqui pode influenciar o entendimento da salvação. 

Deus chama a Abraão, e faz a promessa que a sua descendência seria um grande povo. Através dessa descendência, desse povo é que viria o Messias. Deus deixou muito claro que daria Canaã a este povo, mas que era só depois de um tempo (400 anos), e que esse povo seria escravo e afligido, mas seria liberto (Gn 12 – 15).
Então, as promessas divinas estão se concretizando para aquele povo. Eles foram libertos do Egito pela liderança do grande Moisés. E serem libertos, verem sinais e maravilhas, tendo seu ápice na travessia pelo Mar Vermelho. Ao chegar ao deserto, Deus convoca este povo, o povo hebreu, os israelitas, para que fizesse uma aliança, um pacto. Essa aliança foi firmada no Sinai, uma aliança condicional, em que o Senhor exigia obediência do povo. Esse pacto de aliança está registrado em Êx 19.1 – 24.18. 

Após todos os acontecimentos citados anteriormente, o Senhor chama Moisés para dar lhe detalhes acerca de como o povo agiria, agora, diante da aliança feita com Ele, dando-lhe leis morais, civis e religiosas. Então Moisés subiu e o povo ficou embaixo, esperando seu retorno. O texto de Êxodo 24.18 diz que Moisés “permaneceu lá quarenta dias e quarenta noites”. Então, passado esse tempo, vemos o relato no capítulo 32 de Êxodo (Capítulo em que se encontra o texto o qual estamos analisando) que o povo inquieta-se pela “aparente demora de Moisés” (pois o que são 40 dias de espera comparados a 400 anos de escravidão?), e então, fazem um ídolo, um bezerro de ouro e adoram a ele. Enquanto isso, Moisés ainda estava no monte, quando o Senhor vendo tudo aquilo, indignou-se e disse a Moisés que descesse, pois o “teu povo” se corrompeu (32.7), então, por causa da quebra da aliança e do pecado descarado, o Senhor iria consumir aquela geração. Mas, Moisés intercede pelo povo, pedindo ao Senhor que não destruísse (literalmente do hebraico, abolir – ou seja, abolir existência, destruir, matar) o povo, mas que tivesse misericórdia; ele intercede tão fortemente pela não destruição do povo, que diz, se destruíres o povo, então risca o meu nome. Note que há um paralelo entre destruir e riscar. Moisés intercede pela vida dos israelitas, pois deus iria consumi-los. 

Quando vemos o texto hebraico, dois termos nos iluminam o entendimento para uma melhor interpretação. O termo traduzido comumente como riscar, é o termo מָחָה (machah) que significa limpar, enxugar, eliminar, apagar, destruir, riscar, rasurar (e até golpear em Nm 34.11). Como diz no Dicionário de Teologia do Antigo Testamento:
“É o mesmo termo que aparece na narrativa do dilúvio, quando todo ser vivente foi exterminado (Gn 7.22-23), aparece na intenção de Deus de apagar o nome de Israel de debaixo dos céus (Dt 9.14), conforme se vê repetido em Deuteronômio 29.20. (...) Repare-se que em pergaminhos antigos (que eram feitos de pele de animais) os erros de escrita eram corrigidos mediante lavagem ou absorção da tinta em vez de riscar o erro. ‘Apagar’ é, portanto, uma tradução mais precisa para a ideia de corrigir um erro.”
O outro termo é o termo que é traduzido como livro. Esse termo em hebraico é סֵפֶר (sefer), que significa escrito, livro, documento, rolo, carta. Encontramos no Dicionário de Teologia do Antigo Testamento: “O substantivo sefer, “escrito”, “livro”, veio também a designar documentos legais importantes (Dt 24.1,3; Is 50.1; Jr 3.8) ou cartas oficiais (1Rs 21.8 e ss.; 2Rs 19.14; Et 1.22; Jr 29.1 ss.)”. Então, o texto está falando de um registro, um livro, muito importante, que no texto não identifica explicitamente. 

A Bíblia faz referência a alguns livros que poderiam ser interpretados aqui. Faremos menção de dois, que giram em torno da possível interpretação aqui.
Existe o Livro da Vida, que, comumente é relacionado a esse texto. Alguns textos bíblicos fazem referências a esse Livro, tais como Fp 4.3; Ap 13.8; 17.8; 20.12,5; 21.27). 

Outro livro citado Escritura é o Livro dos vivos, que aparece em Salmo 69, onde o salmista Davi está suplicando ao Senhor que o livre de seus opressores, chegando a afirmar sobre eles: “Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos.” (Salmos 69:28). 

Agora, tendo essas duas possíveis interpretações, é necessário citar ainda mais um texto. Nas suas sete cartas as igrejas da Ásia Menor, mais especificamente, a carta à igreja de Sardes, o Senhor Jesus Cristo afirma aos fiéis daquela igreja que estavam firmes que: “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Apocalipse 3:5). Jesus está falando a verdadeiros e autênticos cristãos, pessoas que eram salvas, estavam justificadas. Jesus assegura elas que em hipótese alguma seus nomes seriam riscado do Livro da Vida. Nesse contexto, John Macarthur nos explica essa simbologia:
“ 'Nos dias de João, os governantes mantinham um registro dos cidadãos da cidade. Se alguém morresse, ou cometesse um crime sério, seu nome era riscado desse registro. Cristo, o Rei do céu, promete jamais riscar o nome de um cristão verdadeiro do rol daqueles cujos nomes foram ‘escritos, desde a fundação do mundo, no livro da vida do Cordeiro que foi morto’ (Ap. 13:8, versão do autor).” 
 Ele ainda faz mais uma acerca do de Apocalipse 3.5 que é útil considerarmos:
Pelo contrário, Cristo confessará o nome de todo crente diante de Deus o Pai e diante dos seus anjos. Ele afirmará que eles lhe pertencem.
Aqui Cristo reafirma a promessa que fez durante seu ministério terreno: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt. 10:32). A verdade confortadora que a salvação do cristão verdadeiro está eternamente segura é o ensino inequívoco da Escritura. Em nenhum lugar essa verdade é mais fortemente declarada que em Romanos 8:28-39. 
 Sendo assim, o ensino é categórico: o salvo não perde sua salvação, em hipótese alguma ele pode ter seu nome apagado do livro da vida (no sentido de salvação eterna). 

Partindo dessa interpretação de uma visão mais panorâmica dos ensinos bíblicos, é um tanto difícil interpretar Êx 32.33 como sendo a ideia de riscar do Livro da vida. 

Antes, fizemos uma análise do contexto de Êx 32.33, e percebemos que o Senhor queria eliminar, destruir o povo de Israel pela sua rebeldia. Ele queria eliminar todo o povo (destruir, matar – isso fica mais explicito na súplica de Moisés ao falar que os egípcios argumentariam que o Senhor tirou eles do Egito para os matar no deserto), e começar tudo de novo através da descendência de Moisés. E Moisés suplica ao Senhor pela vida do povo, para que não os eliminasse (tirasse a vida) deles, pois eles iriam ser eliminados por causa do pecado, da adoração ao bezerro de ouro. De modo que, em Êx 32.32, Moisés afirma que se o Senhor não perdoasse os pecado deles (o que implicaria na eliminação deles), que o Senhor riscasse o nome dele do livro dEle. Lembrando-se de Salmos 69:28: “Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos.”, e vendo o a evidência forte em Êx 32 de relação pecado e destruição, podemos então, concluir que o livro aqui é o livro dos registro dos viventes. Assim, Moisés está afirmando que se o Senhor não os perdoar, eles certamente morrerão (serão riscados do livro dos vivo, viventes), então, sendo assim, Moisés pede para morrer no lugar deles, morrer em decorrência do pecado deles. Então, Êx 32.32 (que é o nosso texto aqui!), o Senhor diz: riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim. Ou seja, o Senhor está dizendo a Moisés que cada um responderá pelo seu pecado, e será riscado pelo seu próprio pecado, de forma que o povo pecou e responderia pelo seu próprio pecado, e Moisés não poderia ser riscado naquele momento, pois não compartilhou do pecado de rebeldia dos israelitas (e é bem verdade que ele não era o Cordeiro de Deus!).

Ao ver o desfecho dos fatos, parece que o Senhor “engoliu toda aquele rebeldia e atendeu ao pedido de Moisés”. Mas, ao vermos um pouco mais a história, aquele povo não se arrependeu verdadeiramente. E o Senhor não revogou seu decreto de riscar aqueles dos livros dos viventes, apenas adiou, pois, depois, toda aquela geração adúltera pereceu no deserto, exceto alguns fiéis.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FUTATO, Mark D. Introdução ao Hebraico Bíblico. Traduzido por Susana Klassen. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2010.
HARRIS, L. Laird; ARCHER Jr, Gleason L.; WALTKE K. Bruce. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. R. Laird Harris (orgs.). Traduzido por Márcio Loureiro Redondo, Luis Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo, SP: Vida Nova 1998.
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LASOR, William S. Lasor; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. 2ª edição. São Paulo, SP: Editora Vida Nova, 2002.

MACARTHUR, John. Riscar o Nome do Livro da Vida?. Tradução por Felipe Sabino de Araújo. Artigo disponível em: http://www.monergismo.com/textos/perseveranca/riscar--nomeap3-5_macarthur.pdf

http://estudanteteologia.blogspot.com.br/2014/01/riscar-o-nome-do-livro-que-significa.html 

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