Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

13 de março de 2015

Sobre a Grande Comissão


Por Abby Oberst

Mateus 28:19 
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Mateus 28:19 está entre os versículos chave da Fé Cristã. Depois de salvo e unido à comunhão com o Amado, o novo crente é levado, sobrenaturalmente, à Grande Comissão como sua tarefa natural. Ele deve ir e fazer discípulos – compartilhando com outros o evangelho (as boas novas) de Jesus Cristo. Quem sabe, mais do que qualquer outra porção da Escritura, o tratamento desta passagem – sua interpretação e exposição – ilustra os distintivos teológicos entre a igreja evangélica moderna e a Fé histórica e ortodoxa.

Se palavras como “hermenêutica” e “exegese” fazem que você se esconda de incomodação, recorde-se que dividir corretamente a Palavra da verdade é uma obrigação de todos nós. Estes termos pomposos simplesmente referem-se à interpretação das Escrituras. Por certo, a “Grande Comissão” foi reduzida à “grande omissão” devido à hermenêutica equivocada de uma igreja pietista do século vinte.

A Regra Número Um pode muito bem ser: Não pegue versículos fora do contexto. O que está acontecendo aqui e agora? Jesus voltou, ressuscitado, e está dando a seus discípulos Sua exortação final. Note que, antes de que Ele os comissione, proclama¹: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”. Jesus não sugere que sua preeminência ou reinado acontecerá em alguma data futura (depois de que a igreja tenha sido derrotada pelo mal), mas que existe agora. Nos céus e na terra. Os Céus e a Terra são decididamente seus (uma fait accompli², como diria a palavra francesa: um fato já realizado).

Agora vem o verso chave e o mais abusado de todos: “portanto ide, e ensinai às nações”; ou como algumas versões traduzem, fazei discípulos em todas as nações. Cadas palavra está impregnada da verdade bíblia, mesmo a palavra “portanto”. “Portanto”, está se referindo a quê? Ao feito de que todo poder é Seu, de que os Céus e a Terra são seus, e de que devemos (portanto) exercer estes feitos como crentes. É aqui onde está a real Grande Comissão.

A Chegada do Século (ou da Idade)

Para aqueles de nós que saímos da típica fé da igreja de hoje (o de sentir-se bem) e entramos na ortodoxia do credo (relativa as declarações dos credos históricos da Fé Cristã), tivemos alguns conceitos notáveis e novos que tivemos que adotar. Um destes conceitos é a ideia iluminadora da intencionalidade pública ou corporativa das promessas das Escrituras, na frente do pessoal e do privado. Graças à exegese pietista das Escrituras (pastor após pastor, ano após ano), a maioria de nós olhamos tudo, desde o Pacto, até a santidade, o evangelismo, etc., como funções essencialmente individuais. Como então tratávamos a multidão de referências a “nações”, “povos” e “gerações”? De fato, como pode 90% dos púlpitos de hoje continuar descuidando sobre a natureza corporativa da vida cristã, ou mesmo da Bíblia? Uma vez que captamos a intenção das Escrituras de serem aplicadas às nações – à frente do crente centrado em si mesmo – nos surpreendemos como tantos escolheram ignorar a natureza corporativa do Evangelho.

Nossos pais na Fé entenderam o mais amplo raio de ação dos pre-requisitos e promessas de Deus, e foram surpreendidos com a ideia típica que prevalece nas famílias cristãs de hoje, a de “Abençoe nosso quarto e nada mais”. Eles sabiam que as nações deviam ser trazidas a conformidade com os mandamentos de Deus, e eram, tipicamente, pessoas que olhavam mais além da igreja. Tudo isto devia a seu entendimento do Pacto. Suas proezas, das quais nos maravilhamos, foram inspiradas por uma Fé corporativa e extrovertida – não uma santidade introvertida, introspectiva ou “pessoal”. Leia a Bíblia! Leia os Pactos históricos! Leia as Cartas, os escritos, os documentos!

O fato de que nossos pais também entenderam (corretamente) que a Palavra de Deus aplica-se a crentes e não crentes igualmente, demoliu a abominável noção de que nós, os Cristãos, não temos direito de “impor” nossas “crenças religiosas” sobre aqueles que nos rodeiam. Temos todo direito de afirmar e asseverar a Palavra-Lei de Deus ao Cristão e ao não-cristão, precisamente porque todo poder nos Céus e na Terra pertencem a Ele, cujo nome usamos e levamos.

Vão, Pelejem e Ganhem?

O “Ide” no “Portanto, ide” significou, para a maioria da igreja por dois séculos, saiam, vão para longe e façam sozinhos. A ideia pactual (referida ao Pacto) de sucessão, o fato de cruzar a Fé por meio de fazer discípulos de nossos filhos (muitos filhos) certamente se perdeu por longo tempo. A ênfase estava em fazer convertidos. Apesar de que os santos que trabalharam em terras estrangeiras e campos missionários domésticos por duzentos anos merecerem coroas por seus sacrifícios e serviços imagináveis, a comissão de Cristo tem muito mais a ver com mandamentos do que com convertidos.

A grande “campanha evangelista” também tem sido um veículo para fazer convertidos já há algum tempo. Não podemos ignorar a efetividade desta tática, enquanto a pregação da Palavra de Deus foi usada em Seus propósitos eletivos para aqueles que tinham ouvidos para ouvir. Contudo, a validade desta forma de evangelismo, no que diz respeito à Grande Comissão, está proporcionalmente ligado a sua fidelidade a toda Comissão. A cultura está mudada por todos esses convertidos? As nações estão sendo reformadas pelos convertidos? Ultimamente o evangelismo em massa esqueceu a grandeza, a totalidade, da Grande Comissão e se voltou somente como um seguro de incêndio. Se na verdade estivéssemos fazendo discípulos veríamos mais frutos nas culturas “alcançadas para Cristo”. Ponto

Contemplemos, com pavor, os dias do Grande Avivamento em nosso próprio país, ou dos grandes avivamentos da história. Eles não são de tudo um mistério, quando olhamos mais perto, vemos o que na verdade aconteceu.

Avivamento, Despertamento Espiritual e Reforma Social

Um dos estudos mais provocativos e produtivos que alguém pode realizar é ler os registros na Escritura dos avivamentos entre o povo de Deus. É eminentemente claro que o grande avivamento (e por fim despertamento espiritual entre os pagãos) é sempre precedido pela recuperação e publico pronunciamento dos Mandamentos de Deus. De igual maneira, nos avivamentos históricos através das idades, é a Palavra-Lei – repleta de bondade e severidade de Deus – que traz o que os eruditos pietistas atribuíam a um “mover do Espírito”.

Não há dúvida de que a terceira Pessoa da Trindade visita, manifestamente, durante tempos de conversão. Ele é nosso paracleto prometido e nosso habitante interno – quando nos rendemos de todo coração a Cristo. Contudo, a verdade de que os “sinais” seguem aos que leem ou pregam a palavra (Marcos 16:20, etc.) é inegável. Qual Palavra? A Palavra de Deus. A inédita, não resumida, mas íntegra, Palavra de Deus. Leia os sermões dos pregadores do Grande Avivamento. Há alguma surpresa de que o Espírito estivesse tão ativo e veloz à medida que estes instrumentos de Deus fielmente proclamavam Sua Palavra? Acaso estes pregadores dedicaram-se demasiadamente em mensagens para os “sensíveis”, ou simples e obedientemente obedeceram as instruções de Cristo: “ensinai às nações… a guardar todas as coisas que eu vós mandei”?

Não requer demasiado esforço intelectual unir o que sabemos sobre a teologia da igreja Americana pelo passar dos anos, e logo calcular sua efetividade na Grande Comissão. Sim, temos enviado mais missionários que qualquer outra nação na história do mundo. Sim, nós trouxemos mais benefícios pelo mundo do que qualquer outra nação. Mas, quem está ganhando? São as nações da África, Índica, Centro e Sul da América, Ásia ou Europa mais cristãs nos anos 90 (com todos seus “convertidos”) do que eram quando as grandes organizações missionárias foram criadas em nos idos de 1800? Há mais discípulos?

Se a teologia da organização que envia missionários é Arminiana, premilenista, dispensacional, pietista e ascética, então a pregação de seus missionários será Arminiana, premilenista, dispensacional, pietista e ascética – não discípulos de cristo que mudam o mundo com o arsenal e a fibra para promover os direitos da Coroa do Rei dos Reis. Com todo o slogan e metas da igreja de hoje de “alcançar cada povo e grupo para o ano 2.000″² nossa efetividade missionária é lamentável. Temos abandonado a segunda metade da Grande Comissão.

Podemos trazer a impotência dos esforços de nossos modernos missionários diretamente às heresias que infectaram a igreja no século dezenove. Somente Deus sabe que proporção dos santos que estão localizados nas “vocações” Cristãs está complemente adoutrinada no erro de que “a lei é má – e a graça é boa”. O propósito aqui não é expor sobre a visão correta dos Puritanos de que todas as novações estão associadas à causa do Reino, de que a Lei é cheia de graça, e de que a Graça está cheia de Lei. A meta não é apresentar uma lista dos erros na Igreja atual. O ponto é que o erro se transmite do Seminário ao púlpito, do púlpito ao crente, do crente ao convertido. O resultado é multidão após multidão de convertidos infantis, acovardados que estão seguindo somente a direção de “evangelistas” que desprestigiam os mandamentos de Deus ao dizer que são contrários à Graça.

Todas as coisas que Eu tenho mandado

Seria pregação da mais alta qualidade delinear “todas as coisas” que Cristo tinha em mente quando instruiu a seus discípulos a ensinar às nações o que Ele tinha mandado. Todos devemos estar convencidos da unidade das Escrituras, e das bençãos prometidas para as pessoas que guardam os seus mandamentos. Mas continua como um mistério quando muitos da Igreja fazem-se desentendidos acerca de Seu propósito e intenção em Mateus 28, quando está tão claramente baseado e sustentado na imutável Lei do Antigo e Novo Testamento. O que mais pode significar “no Céu e na Terra”? Nossa Grande Comissão é clara: ensinar a todas as nações a guardar todo o que Ele nos ensinou a fazer, batizando-lhes (“imergindo”) na Trindade, e levar sobre eles o nome do Trino e Vivente Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.

Todas as nações sob Deus

Finalmente, permitamos uma olhada ao que Mateus 28 não diz. Não diz: Portanto, vão, e ensinem a todas as igrejas, ou ensinem às classes da Escola Dominical, ou ensinem a todos os Cristãos, mas ensinem a todas as nações, tudo o que Cristo nos mandou. As nações, por natureza, são entidades sociais, entidades políticas, entidades econômicas, entidades culturais, entidades étnicas. Presumir que podemos executar a Grande Comissão enquanto confinamos nossa “associação” àqueles que estão perto de nós nos bancos e nas reuniões de oração é um absurdo total.

Devemos ver a Grande Comissão de uma maneira que impacte vida nacional de qualquer país que habitemos. As artes, a educação, a tecnologia, o campo político, tudo deve ser alcançado com Seus mandamentos. Como? Pela vigorosa participação dos eleitos de Deus em todas estas áreas. Somente nossa presença, por necessidade, ensina a outros. Deus sempre provê oportunidades para ensinar a outros. Enquanto alguns de nós seremos comissionados a ir a qualquer parte, a maioria de nós cumprimos ou negamos ao chamado justamente onde vivemos.

A “Grande Comissão” foi mal-entendida, mal dirigida e mal usada. A Grande Comissão é uma redeclaração da grande conclusão de Jesus às Bem-Aventuranças; isto é, que devemos ser sal e luz às nações – como Seu povo, uma cidade firmada sobre uma colina. Não podemos ser o que Ele quer que sejamos se nos sentimos incomodados com seus mandamentos, ou se damos desculpas ao explicar as consequências de negá-lo. Quando a Igreja, ardosamente abraça Seus mandamentos, encarnados no todo das Escrituras – e com zelo proclama – então veremos às nações batizadas, inundadas das bençãos do Deus Trino. Enquanto a Igreja trate de fazer um lado dos Mandamentos, com a baixa falsidade de que “a lei” está morta, a Grande Comissão permanecerá como a romântica noção de uns poucos missionários. Com a apropriada estima pela segunda metade das instruções de Cristo, “ensinando-lhes a guardar todo o que vos tenho mandado”, temos Sua promessa de que estará presente com Sua Igreja para completar a tarefa, até o fim do mundo. Amém.

Abby Oberst 

Abby Oberst é membro da Igreja Cristã Shiloh e serve como editora do boletim da congregação. Ela ensina literatura inglesa em um Colégio Secundário e História em uma Escola Cristã.

Este artigo foi retirado da Revista Chalcedon, nº 38, do mês de Abril de 1997.
Traduzido de Contra-Mundum

Notas
1 – N.T: Ou fato consumado
2 – Já em 1997, data de publicação deste artigo, existiam metas estranhas e confusas como estas.

VIA:
http://movimentoreforma.com/grande-comissao-abby-oberst/


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