Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

13 de julho de 2017

Os Dois Tipos de Sabedoria - Tiago 3:13-18


 
13_Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. 14_Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. 15_Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. 16_Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má. 17_Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. 18_ Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.

Há três livros no VT que são denominados “livros de sabedoria”: Jó, Provérbios e Eclesiastes.

A sabedoria (hokhma) é sempre prática, sempre vivencial, e nunca especulativa. Sua finalidade era capacitar o homem para viver corretamente. Havia em Israel uma classe (sacerdotes) que se dedicavam à sabedoria e sua ministração ao povo.

A Sabedoria vivencial se focalizava nas pessoas, e em como aplicar à vida as verdades de Deus (que é a fonte de sabedoria). Jó 12:13 “Com Deus está a sabedoria e a força”. Aqueles que assim viviam conseguiram bons frutos e vida abençoada.

A busca da sabedoria era natural para o hebreu. Ser sábio era uma aspiração latente na alma hebraica. 
v.13a - Quem dentre vós é sábio e entendido? Tiago pergunta! Os membros de sua igreja eram pessoas que almejavam a sabedoria. Teriam eles alcançado? Já eram sábios? “Mostre”, diz ele.

Como mostrar? Não por discursos, pois a sabedoria não é o saber aprofundado, um conhecimento sem igual, uma instrução, uma cultura vasta e variada. Mas, É VIDA! 
v.13b - “Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras ...” Se as obras são positivas, muito bem. Se não são a sabedoria é terrena, animal e diabólica.

Tiago mostra que há dois tipos de conduta possível a um cristão. Uma inspirada por Deus: v. 17 “a sabedoria que vem do alto “. A outra “é terrena” v. 15. O contraste é bem claro: A sabedoria que vem do alto desce de Deus. Está num plano superior ao homem. A outra sabedoria é “terrena”, vem da terra, está no mesmo plano do homem. Esta era a diferença entre Jesus e seus opositores. Jo 8:23 “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. Jesus estava num plano superior ao de seus opositores. Um seguidor de Jesus deve ter uma sabedoria em plano superior, também, à sabedoria do mundo.

A sabedoria do mundo é “animal”, ou seja, e um instinto natural, sendo assim o cristão não pode agir na base de “fazer o que estiver no coração”. Muitas pessoas julgam que uma boa medida quando estão em dificuldades: “o que estiver no coração, isso farei”.

Esta atitude é ingênua, porque presume que todos os nossos sentimentos são bons. E não é assim! O simples fato de algo estar em nosso coração não indica que é indicativo de validade. Jr 17:9 “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?”. Os sentimentos, também, estão muito próximos dos instintos. Nem um nem outro poder ser padrão para conduta. Devem ser medidos pela Palavra de Deus.

Os frutos da sabedoria terrena são exibidos no vs. 14. “Amargo ciúme” ou “inveja amargurada” é o primeiro. Quando este fruto nocivo é encontrado em nossas igrejas?
  • A inveja do progresso de um irmão ou seu crescimento dentro da comunidade.
  • A inveja da nova liderança que surge no meio da igreja.
Em ISm 18:6-9, podemos ver o Rei Saul com ciúme e inveja de Davi. A partir de então, Saul passou a ver Davi com outros olhos. A história não cessa aqui. A inveja nutrida por Saul continuou e seu término foi com consequências desastrosas. Vs. 10. Do ciúme a raiva, pouco demorou. Da raiva à tentativa de assassinato. E com tudo isso, o temor: Vs. 12, a partir daqui, a personalidade de Saul está em acentuada desintegração. De desatino em desatino, o primeiro rei irá destruir sua própria vida.

Vamos aprender com as experiências relatadas na Palavra de Deus, se formos sensatos. Cultivar inveja e ciúme é desintegrar a própria vida. A maior vitima da inveja é o invejoso. Ele se desestrutura emocionalmente e se incapacita diante de Deus.

Ouro fruto da sabedoria terrena é “sentimento faccioso”. O espírito de facção no seio da comunidade cristã é de inspiração diabólica. Com facilidade surgem grupos e partidos em nossas igrejas. Muitas vezes, uma comunidade local se fraciona por coisas pequenas, por uma primeira impressão, por raiva ou uma palavra mal colocada por um irmão. É muito triste!

Deus sabia que a vaidade humana seria um grande obstáculo para o avanço de sua obra neste mundo. Os escritores bíblicos enfrentaram problemas de partidarismo dentro das igrejas primitivas, combateram-nos e nos deixaram princípios espirituais que não podem ser ignorados.

Paulo censurou as facções na igreja de Corinto: ICo 1:10 “Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer". Em Rm 12:16 ele exorta aos cristãos. “sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios aos vossos olhos”. Na carta aos Filipenses ele faz o mesmo, Fl 2:1-3 “Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo;”.

É claro que sendo a igreja uma comunidade tão heterogênea, as diferenças de opinião serão grandes. Podemos encontrar pessoa com formação educacional superior, outras sem essa formação, jovens, idosos, pessoas de outras nações com cultura distinta, etc. como exigir uma só opinião?

Nossas diferenças persistem e nos levarão a posturas diferentes. Mas, uma das glórias da igreja de Cristo, inclusive, é exatamente esta, a de reunir as mais diversas pessoas em um só corpo. No Senhor Jesus a igreja dever ser unânime. A unidade na diversidade foi a característica dos primeiros cristãos. A igreja de Jerusalém se caracterizava por este sentimento.
  • At. 1:14 “Todos estes perseveravam unanimemente em oração,”.
  • At. 2:1 “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar”.
  • At 4:32 “Da multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a alma, e ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”.
Havia um profundo senso de unanimidade dentro da igreja. Em Atos 5, Ananias e Safira quebraram a unanimidade. Mentiram, desejando notoriedade, buscando aparecer mais que os outros. A punição foi a morte. Deus cobrou a quebra da unanimidade.

A sabedoria que produz frutos de dissensão é “terrena, animal e diabólica”. E conclui Tiago. Vs. 16 “Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má”.
vs,17 "Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.

A sabedoria do alto é “primeiramente, pura”. A purificação cerimonial era uma exigência do judaísmo para agradar a Deus. Não se podia aproximar de Deus de qualquer forma. O portador da sabedoria do alto não está contaminado pelas imundícies que desagradam a Deus.
“Depois pacifica”. Onde o Senhor está, há paz. A sabedoria diabólica produz “confusão e toda má obra”. A ordem, a segurança a isenção de ódios. Uma pessoa dominada pela sabedoria de Deus projetará isto no seu relacionamento com as outras.
“Moderada”. O termo sugere equilíbrio, gentileza, franqueza, sinceridade. É uma maneira autêntica no tratar com o próximo. Expressar moderação é reconhecer que na lei formal pode haver brechas. O homem moderado sabe que há ocasiões quando uma coisa pode estar absolutamente justificada e, no entanto, ser absolutamente errada do ponto de vista moral. Este homem sabe discernir quando ultrapassar a lei, e sabe distinguir qual é superior à da própria lei. Conhece o momento em que apegar-se ferrenhamente a seus direitos seria inquestionavelmente legal, mas, também indiscutivelmente pouco cristão. Ser moderado, portanto, é ir além da lei na busca do melhor. Vejamos o exemplo de um homem moderado José, pai de Jesus. (Mt 1:19) “E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente.” Moderada é seguida por “Tratável”. São termos diferentes, embora caminhem na mesma direção. Há pessoas que não são tratáveis. Confundem franqueza com falta de educação. São agressivas, maldosas, rancorosas. A defesa de sua fé e a rigidez de suas convicções, algumas vezes torna-se um desserviço à obra de Deus. Ao invés de defender estas atitudes não tratáveis desmoraliza o evangelho.
A violência verbal e os ataques pouco polidos que se faz para defender posições assumidas por cristãos com sabedoria terrena tornam-se motivo de escândalo e vergonha. Cristãos envaidecidos, desobedientes, covardes, coléricos, que discordam com a opinião de seu irmão ou líder, constituem-se um contrassenso. É o amor a sua verdade ou o ego ferido que prevalece! A sabedoria do alto não é truculenta. Não leva a agir de forma intratável.
“Cheia de misericórdia” é outra característica apresentada por Tiago. Ele quer dizer compaixão, piedade para com os desgraçados. É um profundo interesse pelos que sofrem. Uma pessoa que tenha a sabedoria do alto terá real interesse pelas pessoas, há de se condoer dos miseráveis. A insensibilidade para com o sofrimento alheio não é própria de quem provou na sua vida a misericórdia de Deus.
“Bons frutos” é exatamente o que produz a misericórdia. Estes frutos devem ser apresentados. É a fé prática. Tiago pede frutos que a autentiquem. Os frutos são as evidências da religião.

A sabedoria do alto é sem “parcialidade”. Onde ela está presente não há preferências por pessoas em detrimento de outras. Qualquer tipo de preferência não é, por certo, de inspiração divina.

Quando na igreja há atitude de favoritismo, está havendo pecado. Formação acadêmica, bens materiais, maior contribuição e outros quesitos nunca devem ser motivos para alguém ser privilegiado na igreja do Senhor. O currículo de um membro o corpo de Cristo, deve ser medido pelo seu caráter cristão exibidos no dia a dia, na obediência, na pratica da doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações e não pelos seus títulos acadêmicos e posição econômica.

É por tudo isso, que a sabedoria do alto é “sem hipocrisia”. Um fingidor, comediante, quem representa um papel, um ato teatral. O hipócrita é a pessoa que se dedica a representar bondade de tal maneira que merece ser chamada de “bondade teatral”. É a pessoa que procura fazer com que todos vejam a esmola que dá (Mt 6:16). É o indivíduo cuja bondade não busca agradar a Deus, mas aos homens. É o indivíduo que não diz “A Deus seja a glória”, mas “A mim seja o crédito”. Não com palavras, mas com atitudes, com Vida! Fidelidade!

Na sabedoria do Alto, divina, identificamos três características que são encontradas nas bem-aventuranças de Jesus: “Pura”; “Bem-aventurados os puros de coração”. “Pacifica”; “Bem-aventurados os pacificadores”. “Cheia de misericórdia”; “Bem-aventurados os misericordiosos”.

Ao estabelecer as características do cidadão do reino no Sermão do Monte, Jesus estabeleceu nove bem-aventuranças. Três delas se projetam na sabedoria divina, inspirada por Deus. Não apenas vemos a semelhança entre Tiago e o Sermão do Monte, mas uma vez mais se ratifica a unidade da Bíblia em seus conceitos.

Um cidadão do reino de Jesus, que tem o caráter cristão, terá a sabedoria que vem do alto.

O texto termina lembrando a sétima bem-aventurança: 18_ Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.

Não é para os que amam a paz, mas para os que a promovem. O que diz a bem-aventurança: “Bem-aventurados os pacificadores”, e não os pacifistas. Não basta querer ou amar a paz. É necessário promover a paz.

O contraste entre as duas classes de sabedoria é muito bem assinalado. Uma é de cima e a outra é terrena. Uma está cheia de misericórdia e bons frutos, sem mudança, sem hipocrisia; a outra é dos sentidos, carnal e diabólica. Contrastam-se também os frutos. Uma produz a paz e outra produz contendas e invejas. Este contraste serve para que venhamos refletir como cristão, que autodenominamos!

Qual é a sabedoria que está dominando a nossa vida? Qual é a sabedoria que rege na igreja? 


Coelho Filho, Isaltino Gomes – Tiago, nosso contemporâneo: um estudo contextualizado Epistola de Tiago. – 2ª ed. Rio Janeiro: Junta de Educ. Religiosa e Publicações, 1990. 



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