Thomas Ice
À medida que vemos o declínio dos
remanescentes da cultura baseada na fé cristã nos Estados Unidos e em
todo o mundo, precisamos ser relembrados dos padrões e do propósito de
Deus para a humanidade. A vontade de Deus para a humanidade foi revelada
no primeiro livro da Bíblia – Gênesis. Cerca de 40 anos atrás, assisti a
uma apresentação de um resumo da vontade de Deus para a raça humana,
intitulada “As Instituições Divinas”, de autoria do pastor Charles
Cough,[1] da Igreja Bíblica Lubbock nos anos 1970. Essa informação
bíblica deu-me uma visão dessas questões que tem sido de grande ajuda
para mim até ao dia de hoje.
Instituições Divinas
As instituições divinas funcionam dentro das alianças bíblicas que se
relacionam à vida social dos seres humanos. De acordo com Clough:
As instituições divinas são estruturas reais absolutas construídas dentro da existência social do homem.[2]
O termo “instituição divina” foi usado durante séculos pelos cristãos, particularmente nos círculos reformados, para descrever as formas sociais básicas fixas.[3]
As instituições divinas foram criadas por Deus, por isso são chamadas
divinas, mas se aplicam a toda a humanidade, desde o tempo de Adão e
Eva. As estruturas sociais básicas do homem não evoluíram simplesmente
com o tempo, mas foram parte do ato de criação de Deus.
Instituições Divinas Anteriores à Queda
A primeira instituição divina é o domínio responsável
(Gn 1.26-30; Gn 2.15-17; Sl 8.3-8). É a esfera na qual um indivíduo é
responsável diante de Deus pelas escolhas que faz. O homem foi criado
para ser o vice-regente de Deus sobre o planeta Terra, a fim de
governá-lo sob a autoridade do Senhor. A queda resultou em uma perversão
da responsabilidade do homem, mas Deus nunca isentou-o de tal
responsabilidade.[4] Isto significa que cada ser humano,
individualmente, é responsável diante do Senhor pelo trabalho criativo
projetado para glorificá-lO. Deus o projetou para que, através das
escolhas individuais, possamos demonstrar na história um registro de
obediência ao Senhor, ou de rebelião contra o Criador. Depois da Queda,
observa Clough:
Em vez de um domínio piedoso e pacífico sobre toda a terra debaixo da autoridade de Deus e de Sua Palavra, o homem luta e abre seu caminho a um domínio falso feito por meio de suas próprias obras (cf. Tg 4.1-4).[5]
A escolha individual é vista como a área em que a pessoa ou confia em
Cristo como seu Salvador, ou O rejeita. Ninguém pode fazer tal escolha
em lugar de outro indivíduo.
A segunda instituição divina é o casamento (Gn
2.18-24). Esta instituição tem sua origem no matrimônio entre Adão e
Eva, em Gênesis 2. É nesse âmbito que o relacionamento sexual deve ser
experimentado e, juntos, marido e mulher devem cumprir com o mandado
cultural de dominar sobre a criação. Vemos que a mulher é chamada
“ajudadora”, e foi trazida por Deus para Adão, pois este precisava de
uma ajudadora que correspondesse com ele a fim de auxiliá-lo em seu
chamado para dominar a natureza.
Diferentemente dos animais, a chamada diferenciação sexual da humanidade não existe meramente para a procriação; é também para o domínio.[6]
Mais tarde, a extrema importância da estrutura do casamento aparece
no Novo Testamento, quando Paulo revela que o casamento tipifica a união
entre Cristo e a Igreja (Ef 5.22-23).[7]
Clough faz o seguinte comentário bastante útil:
A humanidade não consegue expressar a imagem de Deus a não ser como ambos, “homem e mulher”, juntos (Gn 1.27). [...] Além disso, o papel da mulher como “ajudadora”, em Gênesis 2.18, não tem a intenção de ser menor em importância, nem secundário. O termo usado para “ajudadora” em outras partes é atribuído ao próprio Deus (Êx 18.4; Dt 33.7). Todavia, é inegável que a Bíblia coloca ênfase sobre o homem como aquele que recebe seu chamado de Deus, e que depois dá forma à sua escolha de esposa. (...) Juntos na divisão do trabalho, o homem e a mulher se separam de suas próprias famílias, em contraste com uma família extensa, sendo que o jovem marido tem que tomar completa responsabilidade de liderança diretamente sob as ordens de Deus.[8]
A terceira instituição divina, edificada sobre as duas primeiras, é a instituição da família.
Na Bíblia, é a família, não o indivíduo, que é a unidade básica da sociedade. (As propriedades, por exemplo, são atribuídas às famílias na Lei Mosaica).[9]
A família existe para o treinamento da geração seguinte (cf. Êx 20.12; Dt 6.4-9; Ef 6.1-4).[10]
A família é a instituição responsável pela continuidade de cada
legado familiar por ser responsável pela educação e pelos bens. Mesmo
que uma família escolha usar professores substitutos, a família é
responsável por certificar-se que a criança seja adequadamente educada.
Clough nos diz:
A família e o casamento não podem ficar separados do domínio. Onde o domínio é pervertido e o ambiente é arruinado, a fome e a pobreza seguem como resultado. Onde o casamento é desonrado e onde as famílias estão degradadas, a sociedade fracassa. Não há quantidades de leis, programas ou “redefinições” de casamento e de família que possam salvá-los. Deus projetou as instituições divinas para proporcionarem domínio e prosperidade.[11]
A Queda não alterou nenhuma das instituições divinas; pelo contrário,
ela corrompe o homem que as usa de maneira incorreta. Clough explica:
Quando o homem decaído se defronta com a corrupção em cada uma dessas estruturas sociais, ele responde de várias maneiras. Uma maneira é reinterpretar as lutas contra o pecado em termos de economia (a “luta de classes” de Marx) ou de raça (os racistas brancos e negros) ou de psicologia (Freud e outros). Uma outra evasiva é abandonar as próprias instituições, classificando-as como “convenções” sociais obsoletas e arbitrárias, que precisam de uma reengenharia. Todas essas respostas, contudo, são fracassos que custam caro para as sociedades que as experimentam. No fim, elas refletem a mentalidade pagã, que nega a responsabilidade da queda e a anormalidade do mal.[12]
Instituições Divinas Posteriores à Queda
Pelo menos mais duas instituições divinas foram estabelecidas depois
que o homem caiu em pecado. Ambas foram estabelecidas depois do Dilúvio e
foram projetadas para restringir o mal em um mundo decaído. As três
primeiras instituições divinas são positivas, ou produtivas, da
sociedade, enquanto que as duas últimas são negativas e projetadas para
restringir o mal em um mundo decaído.
A quarta instituição divina é o governo civil, por meio do qual Deus transferiu ao homem, através da Aliança Noaica, a responsabilidade de exercer autoridade no reino, ajudando a restringir a maldade depois do Dilúvio (Gn 9.5-6). Antes do Dilúvio, o homem não poderia executar juízo sobre o mal, como pode ser visto na maneira que Deus ordenou aos homens que tratassem do assassinato de Abel por Caim (Gn 4.9-15). Esta instituição divina se baseia na punição capital (Gn 9.5-6) e existe para o propósito de restringir o mal (Rm 13.3-4). A autoridade judicial está implícita na ordem dada por Deus para as instituições civis exigirem vida por vida. Embora a pena capital tenha se tornado desagradável à cultura ocidental apóstata, ela ainda é a base para o estabelecimento do governo civil por Deus.[13]
A quinta instituição divina é a diversidade tribal, ou o nacionalismo,
que também foi estabelecido depois do Dilúvio a fim de promover a
estabilidade social em um mundo decaído (veja Gn 9.25-27 e compare com
Gn 10-11 e Dt 32.8). Verifique que isto não é diversidade racial, mas
sim diversidade tribal. Essa instituição divina não envolve raças, mas
tribos, ou famílias. Clough explica:
Durante todo o período pós-diluviano, Deus preservou a estabilidade e a saúde social do homem ao fazer um grupo ou tribo disputar contra outro a fim de maximizar o verdadeiro progresso e retardar a influência do mal (cf. At 17.26-27).[14]
A diversidade tribal foi implementada através da confusão das línguas
na Torre de Babel (Gn 11.1-9). Por que Deus quis separar a humanidade?
Muitos crêem que a humanidade deveria ficar junta em unidade. Gênesis
11.6 explica o motivo pelo qual Deus confundiu a linguagem humana: “E
o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem.
Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que
intentam fazer”. Desta forma, a única razão pela qual a humanidade
quer se unir é para se rebelar mais eficientemente contra Deus, como foi
visto no incidente da Torre de Babel. É por isso que a história atual
está se movendo em direção ao globalismo, à medida que nos movemos para
mais longe de Deus, e é por isso também que o objetivo do Anticristo na
Tribulação é maquinar a criação de um governo único estabelecido contra o
plano e os propósitos de Deus. A Tribulação terminará com a intervenção
direta de Deus e o juízo, assim como foi no Dilúvio. Nesse ínterim,
Deus diminui a rebelião coletiva do homem através do governo civil e da
diversidade tribal.
O propósito da diversidade tribal pode ser ilustrado pelas diferenças
entre os cascos dos grandes navios. Até cerca de 120 anos atrás, todas
as grandes embarcações que navegavam no mar tinham um único e grande
casco. Se houvesse um buraco suficientemente grande no casco, o navio
geralmente afundaria, uma vez que toda a embarcação se encheria de água.
Então, os fabricantes de navios começaram a construir compartimentos
múltiplos nos cascos das grandes embarcações, considerando que, se
aparecer um buraco em um compartimento, os outros compartimentos
poderiam manter o navio flutuando. Assim também acontece com a
humanidade. Se uma tribo se corrompesse, Deus não teria que julgar o
mundo inteiro. Ele poderia usar outros povos para julgar aquela tribo,
sem necessidade de um julgamento de proporções mundiais. Esta é uma das
maneiras com que Deus conduz as nações entre o Dilúvio e a Sua Segunda
Vinda.
Conclusão
A partir desta abordagem bíblica ao governo e à sociedade vemos que
ela é, primeiramente, consistente com os princípios teológicos do
Dispensacionalismo. Assim, as responsabilidades sociais e políticas da
pessoa são individuais, exceto no caso do cuidado com as viúvas, que é
feito pela igreja (1Tm 5). Essas responsabilidades foram dadas através
de instituições divinas a toda a humanidade, na Criação ou depois do
Dilúvio. Esse entendimento produz uma visão de governo conservadora e vê
a responsabilidade individual, o casamento e a família como os setores
produtivos de uma sociedade. Como a responsabilidade principal do
governo civil é restringir o mal para que as instituições anteriores à
Queda possam ser produtivas, a Bíblia não dá apoio a nenhuma forma de
planejamento ou interferência governamental nas instituições produtivas.
Durante a atual era da Igreja, um crente, como indivíduo, deveria
funcionar socialmente dentro da estrutura das instituições divinas,
levando em conta as ordens a ele dadas como membro da Igreja, o Corpo de
Cristo. Maranata!
(Thomas Ice — Pre-Trib Perspectives)
Notas:
- Se você estiver interessado em ouvir a série de áudios de Charles Clough sobre “The Biblical Framework” [A Estrutura Bíblica] (em inglês), ela pode ser baixada em www.bibleframework.com. Clough ministra sobre as Instituições Divinas no início de sua série sobre a Estrutura.
- Charles A. Clough, Laying The Foundation [Colocando o Fundamento], revisado (Lubbock: Lubbock Bible Church, 1977), p. 36.
- Clough, Laying, p. 36, f.n. 36.
- Charles A. Clough, A Biblical Framework for Worship and Obedience in an Age of Global Deception, Part II [Uma Estrutura Bíblica para Adoração e Obediência em uma Época de Engano Global, Parte II], p.39. Extraído do seguinte endereço da internet: www.cclough.com/notes.php.
- Clough, Biblical Framework, p. 60.
- Clough, Biblical Framework, p. 40.
- Clough, Laying, p. 37.
- Clough, Biblical Framework, p. 40.
- Clough, Biblical Framework, p. 41.
- Clough, Laying, p. 37.
- Clough, Biblical Framework, p. 41.
- Clough, Biblical Framework, p. 61.
- Ver Clough, Laying, p. 83 and Biblical Framework, pp. 97–98.
- Clough, Laying, p. 84.
Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite janeiro de 2016
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