Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

14 de agosto de 2016

A Formação da Bíblia: transmissão e preservação



Edson Nakasima


Se pensarmos na longa e tortuosa trajetória da Bíblia, veremos que somente Deus poderia ter trazido o conteúdo bíblico até nós hoje, pois ocorreram os mais diversos empecilhos e impedimentos para a sua transmissão e preservação. Basta lembrar que a própria Lei dada a Moisés esteve perdida no próprio Templo de Deus, após um período de grandes desafios para o povo judeu, como vemos em 2 Crônicas 34:14:

Enquanto recolhiam a prata que tinha sido trazida para o templo do Senhor, o sacerdote Hilquias encontrou o Livro da Lei do Senhor que havia sido dada por meio de Moisés.

Apesar disso, a própria Bíblia anuncia um prognóstico a respeito de si mesma, diz que os céus e a terra passarão (2 Pedro 3:10), mas afirma que ela permanecerá para sempre (Mateus 24:35; Isaías 40:8). Vemos então que a preservação das Escrituras sempre foi o plano de Deus. Ela mesma afirma que nem uma letra ou uma vírgula seria retirada da lei, sem que tudo fosse realizado (Mateus 5:18).

Deus demonstra esse zelo pela preservação de sua Palavra. Um episódio no Antigo Testamento que mostra isso de forma clara está no livro de Jeremias. Uma vez que o rei Jeoiaquim havia queimado um rolo das Escrituras, Deus determinou ao profeta Jeremias que reescrevesse as palavras que tinham sido queimadas por um rei infiel (Jeremias 36:27,28) e que se acrescentasse ao segundo rolo outras palavras que não se encontravam no primeiro (Jeremias 36:32). Além disso, ainda determinou maldições sobre o rei por ter tentado destruir a Palavra de Deus (Jeremias 36:29,31).

Uma vez que reconhecemos o cuidado de Deus com a sua Palavra, torna-se interessante que vejamos como se realizou o processo de transmissão e preservação da Palavra de Deus.

Como o texto bíblico foi formado?

Talvez já tenha percebido, mas algumas Bíblias apresentam notas de rodapé que trazem algumas informações sobre determinadas passagens. É um exercício interessante observamos essas notas. Vamos a algumas delas.

Na Bíblia NVI, no Antigo Testamento, se formos observar a passagem de 2 Crônicas 20:25, vemos a seguinte nota de rodapé: “Conforme alguns manuscritos do Texto Massorético e a Vulgata. A maioria dos textos do Texto Massorético diz cadáveres”. Em Salmo 97:11, a nota de rodapé mostra: “Conforme a Septuaginta e algumas versões antigas. O texto Massorético diz a luz é semeada”. Do que se tratam o Texto Massorético, a Vulgata e a Septuaginta?

Ainda na Bíblia NVI, no Novo Testamento, por exemplo, em Mateus 17:21, temos a seguinte nota de rodapé: “Vários manuscritos não trazem o versículo 21”. O que seriam esses manuscritos?  Será que essas variações não lançam dúvidas sobre a confiabilidade do texto? Afinal observamos essas informações nas várias notas de rodapé.

Para que possamos responder a essas perguntas, precisamos compreender como se deu a formação do texto bíblico assim como o conhecemos hoje.
O conteúdo da Bíblia chegou até nós por meio dos manuscritos (o próprio nome diz: escritos à mão, por pincel e tinta) e dos códices.

2.1. Os manuscritos antigos

Para entender como foi esse processo, precisamos entender de quais materiais foram feitos os manuscritos.
A maior parte dos antigos manuscritos bíblicos foi escrita em papiro, depois passaram a ser escritos em pergaminhos e, após certo tempo, ambos seriam substituídos pelo códice.

  • O papiro é um tipo de papel feito a partir da planta do papiro, muito comum no Egito (Cyperus papyrus).
  • O pergaminho é o nome dado a uma pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para a escrita. Designa ainda o documento escrito nesse meio. O seu nome deriva do nome da cidade onde ele teria sido fabricado pela primeira vez: Pérgamo, na Grécia. Foi utilizada para substituir o papiro, por ser mais durávelma das formas de substituir o papiro.
  • O códice é um livro manuscrito, em geral do período da era antiga tardia até a Idade Média. Manuscritos do Novo Mundo foram escritos por volta do século XVI. Vem de codex, palavra latina que significa "livro" ou "bloco de madeira". As folhas do códice (pergaminhos) eram sobrepostas e costuradas numa das margens facilitou o manuseio das escrituras e as reuniu em um único volume, o que permitiu maior unidade à narrativa bíblica.

Cabe lembrar que não existe hoje nenhuma versão original de manuscrito da Bíblia, mas sim cópias de cópias de cópias. Todos os autógrafos, isto é, os livros originais, como foram escritos pelos seus autores, se perderam. Os papiros são os testemunhos mais antigos e teoricamente dão acesso a cópias mais fiéis aos textos originais. Não temos muitos destes papiros hoje por algumas razões:
  1. O papiro era um material muito frágil e perecível;
  2. Quando um manuscrito estragava por qualquer razão, os judeus enterravam com o propósito de destruí-lo, com o objetivo de não correrem o risco de erro de interpretação.
  3. Reis e homens perseguidores de Israel destruíram muitos manuscritos.
O que temos dos papiros hoje são milhares de fragmentos, parecidos com confetes.O papiro era mais barato do que o pergaminho. Por essa razão, o papiro era mais utilizado pelos cristãos. O pergaminho só passou a ser mais utilizado quando o cristianismo foi oficializado no século IV.Com o tempo, o papiro e o  pergaminho passaram a ser substituídos pelos códices, que foram utilizados por um grande período, principalmente na Idade Média. Os códices foram os precursores do livro.

Mas foi esse conteúdo bíblico que foi sendo coletado e formado para estabelecer um texto básico do que seria a Bíblia como nós conhecemos hoje. Para isso, foi importante a formação dos cânones judaicos e cristãos. Foi estabelecida a Bíblia Hebraica (dos judeus) e o Novo Testamento cristão.
2.2. Descobertas recentes de manuscritos
Muitos manuscritos tem sido descobertos há tempos recentes e isso tem trazido exatidão e clareza cada vez maiores ao texto básico do que seria a Bíblia como nós conhecemos hoje. Seguem algumas dessas descobertas:
2.2.1. Antigo Testamento
1. o Códice Cairense (Geneza), descoberto em 1890, contendo muitos manuscritos de grande parte da Bíblia hebraica;
2. o Papiro Nash, descoberto em 1902, contendo poucos versículos de Êxodo e de Deuteronômio;

Papiro Nash

2.2.2. Novo Testamento
Os papiros datam dos séculos II e III d.C. Os mais importantes, que levam o nome de seus descobridores ou do local onde foram achados, são:
1. O Fragmento John Rylands, p52 (trechos de João 18), de cerca e 130 d.C. Foi encontrado em 1930.
2. Os papiros de Oxirrinco. Diversos manuscritos encontrados no Egito em 1898, datam principalmente do século II d.C.
3. Os papiros Chester Beatty, p45, p46 e p47, contendo a maioria do NT, de cerca de 250 d.C.
4. Os papiros Bodmer, p66, p72 e p75, contendo grande parte do NT, de cerca de 175- 225 d.C.

 Papiro Bodmer

2.2.3. Códices

Merecem destaque:
1. O Sinaítico. Descoberto em 1844 pelo conde Tischendorf, no Egito, data da primeira metade do século IV d.c. É o único códice que contém o Novo Testamento inteiro.
2. O Vaticano. Ainda que fosse conhecido desde 1475, arquivado na Biblioteca do Vaticano, só foi publicado em 1889-1890. Contém uma cópia completa da Septuaginta, com exceção de 1-4 Macabeus; Oração de Manassés. contém os Evangelhos, Atos, as Epístolas Gerais, as Epístolas de Paulo e Hebreus; assim falta 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon e o Apocalipse.
Códice Sinaítico

2.3. Texto massorético

Na língua hebraica, os testemunhos mais importantes - e, em geral, mais confiáveis - são os textos massoréticos, obra dos eruditos judeus (denominados massoretas) que se encarregaram de copiar e transmitir, com fidelidade, a Bíblia. Estes sábios, que trabalharam desde os primeiros séculos da Era Cristã até a Idade Média, também acrescentaram ao texto a pontuação, as vogais (o texto hebraico original contém somente consoantes) e diversas notas explicativas. A Bíblia hebraica padrão, utilizada atualmente, é reprodução de um texto massorético escrito em 1088.
Na verdade, os massoretas utilizaram maneiras sutis de preservar a exatidão das cópias que faziam. Verificavam cada cópia cuidadosamente, contando a média das letras de cada página, livro e divisão.

Exemplo de texto massorético


2.4 Os Manuscritos do Mar Morto

Até a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto em 1947, não possuíamos cópias do A.T. anteriores a 895 d.C. Os Manuscritos do Mar Morto tiveram grande impacto na visão da Bíblia, pois fornecem espantosa confirmação da fidelidade dos textos massoréticos aos originais.
O estudo da cerâmica dos jarros estabelece que os documentos fossem produzidos entre 168 a.C. e 233 d.C. Destacam-se, nestes documentos, textos do profeta Isaías, fragmentos de um texto do profeta Samuel, textos de profetas menores, parte do livro de Levítico e um targum (paráfrase) de Jó. Hoje se tem conhecimento de que o pergaminho de Isaías é o mais remoto trecho do Antigo Testamento em hebraico. Estima-se que foi escrito durante o Século II a.C. e se assemelha muito ao pergaminho utilizado por Jesus na Sinagoga, em Nazaré. 

Manuscrito do Mar Morto


2.5. Versões mais conhecidas

2.5.1 A Septuaginta

A tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego e que foi chamada de Septuaginta (LXX), por significar setenta. Diz a lenda que foram escolhidos setenta sábios (judeus e gregos) para realizar essa tradução. Esta tradução já estava concluída em 150 a.C.  Esta versão teve um papel muito importante para o estudo e divulgação do Antigo Testamento em outras línguas, já que os textos hebraicos apresentam grande dificuldade de compreensão. A Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia. É interessante observar, no quadro abaixo, que muitos dos nomes dos livros da Bíblia são provenientes da Septuaginta.


Septuaginta

2.5.2 A Vulgata Latina

A Vulgata é uma tradução para o latim da Bíblia escrita em 405 d.C. por Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito respeitada. A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira e, por séculos, a única versão da Bíblia que verteu o Antigo Testamento diretamente do hebraico e não da Septuaginta. Também foi utilizada como base para muitas traduções da Bíblia, principalmente católicas.

Bíblia Vulgata

2.6. A invenção da prensa de Gutenberg
A invenção da prensa por Gutenberg foi um marco. Isso porque antes dele, os textos eram manuscritos, o que dificultava em muito a difusão deles. Com a prensa, foi possível o desenvolvimento dos livros, como nós conhecemos hoje. Qual foi a primeira coisa que Gutenberg imprimiu? A Bíblia.

2.7. Outras evidências
Além disso, há cerca de 2.000 lecionários (livretos de uso litúrgico que contêm porções das Escrituras), mais de 86.000 citações do N.T. nos escritos dos Pais da Igreja, antigas traduções latinas, siríaca e egípcia, datadas do terceiro século.

2.8. Crítica textual
Por fim, temos a crítica textual, que é o trabalho desenvolvido por especialistas que se dedicam a comparar as diversas versões e a selecioná-las. Com todo esse material disponível, houve todo um trabalho de fixar um texto confiável tanto do Antigo como Novo Testamento. As edições do Antigo Testamento hebraico e do Novo Testamento grego se baseiam nas melhores e mais antigas cópias que existem e que foram encontradas graças às descobertas arqueológicas.

Ao comparar as diferentes cópias do texto da Bíblia entre si e com os originais disponíveis, menos de 1% do texto apresentou dúvidas ou variações, portanto, 99% do texto da Bíblia é puro. Cabe destacar que mesmo esse 1% do texto bíblico com dúvidas e variações não trata de nenhuma doutrina central do cristianismo. Vale lembrar que o mesmo método (crítica textual) é usado para avaliar outros documentos históricos, como a Ilíada de Homero, por exemplo. Para finalizar, segue uma tabela comparativa entre Novo Testamento e outros livros antigos para que possamos ter evidências da confiabilidade da Bíblia.

 Tabela comparativa




FONTE:
http://www.icoc.org.br/#!A-Forma%C3%A7%C3%A3o-da-B%C3%ADblia-transmiss%C3%A3o-e-preserva%C3%A7%C3%A3o/c13oo/561295ce0cf2f0ed7a317dd0

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