Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

15 de janeiro de 2016

Proíbe Deus a Celebração de Aniversários Natalícios?


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Por Miguel Servet Jr.

É mundialmente conhecido que as Testemunhas de Jeová evitam tudo o que está relacionado com comemorações de aniversários natalícios. Elas jamais celebram o seu próprio aniversário, nem o de seus filhos, caso tenham, e também não comparecem a comemorações de aniversários de parentes, amigos e colegas de escola ou de trabalho. Até mesmo os cumprimentos a aniversariantes são evitados.
O motivo básico de as Testemunhas de Jeová agirem dessa forma é que a liderança de sua organização religiosa tem se pronunciado contra isso já por várias décadas. Os responsáveis pela redação das publicações religiosas usadas pelas Testemunhas, com frequência afirmam que a Bíblia dá base para essa proibição e são apresentados vários argumentos que conduzem todos os membros da comunidade a essa mesma conclusão. As Testemunhas são muito sinceras e fiéis em obedecer a tal regra, pois, com base no que lêem nestas publicações, vieram a acreditar unanimemente que Deus não aprova que os cristãos comemorem seu aniversário.
É inegável o impacto dessa proibição na vida social dos que a seguem. Por obedecê-la escrupulosamente, as Testemunhas têm sido chamadas de "bitoladas", "desmancha-prazeres", "anti-sociais", "fanáticas" e de outros termos desse gênero. Sem dúvida, ninguém sente mais as consequências de tal restrição do que os jovens (crianças e adolescentes) da comunidade religiosa, pois tais jovens vêem-se impedidos tanto de comemorar seus aniversários como de ir aos aniversários de colegas e amigos, e por motivos que são, na grande maioria das vezes, incompreensíveis para os próprios jovens e até para muitos adultos que são Testemunhas. Se uma Testemunha de Jeová desconsiderar a proibição e comemorar abertamente seu aniversário, ela, no mínimo, passará a ser mal-vista pelos seus companheiros de crença e poderá até sofrer outras formas de discriminação e/ou disciplina religiosa, por ter promovido uma 'celebração popular de origem pagã, que desagrada a Deus'.
Embora já tenham sido publicados diversos artigos que criticam esta proibição religiosa específica, o fato é que, apenas pelos motivos alistados no parágrafo anterior, ela merece um exame adicional que abranja outros detalhes que ainda não foram discutidos.
Este estudo examinará a maneira como a liderança da Torre de Vigia encara as referências que a Bíblia faz a celebrações de aniversários. Ao avaliar essa visão, será feita uma análise do conteúdo das próprias referências, com o fim de determinar se Deus de fato proíbe ou pelo menos desencoraja este tipo de celebração entre os cristãos que vivem hoje.
As Referências Bíblicas a Aniversários Natalícios, Segundo a Visão da Torre de Vigia.
Seguem-se alguns trechos de publicações, onde se afirma taxativamente que a Palavra de Deus desabona tais comemorações (com grifos acrescentados):
Citação 1 - A Sentinela de 15.01.1981 - pág 31:
"Como devemos encarar essas duas celebrações de aniversários natalícios? É apenas coincidência que são mencionadas e que ambas eram de pessoas que não tinham a aprovação de Deus? Ou será que Jeová fez deliberadamente com que estes pormenores fossem registrados na sua Palavra, a qual, segundo ele diz, é “proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas”? (2 Tim. 3:16) No mínimo, pode-se dizer que estas duas narrativas colocam biblicamente as celebrações de aniversários natalícios numa péssima luz, como prática dos apartados de Deus."
Citação 2 - Raciocínios à Base das Escrituras (1985), pág 37:
"Tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali. (2 Tim 3:16, 17) As Testemunhas de Jeová notam que a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios, de modo que as evitam."
Citação 3 - A Sentinela de 01.08.1988 - pág 14, parágrafo 16:
"Como pode você usar essa informação para atingir o coração de seu filho?
16 Você pode empregar o convidativo método do livro Grande Instrutor, dizendo: “Então, sabemos que tudo o que está na Bíblia está ali por alguma razão.” Daí, pergunte: “Portanto, o que acha que Deus está-nos dizendo a respeito de festas de aniversários natalícios?”"
Citação 4 - A Sentinela de 01.09.1992 - pág 30, 31:
“A celebração de aniversários natalícios tem suas raízes na superstição e na religião falsa, mas este não é o motivo único, ou primário, de as Testemunhas de Jeová evitarem esse costume.”
"A Bíblia menciona o assunto de natalícios, e os cristãos maduros sabiamente são sensíveis a quaisquer indícios que ela forneça."
Estes poucos exemplos não deixam margem para dúvida de que, quando se trata das celebrações de aniversários, o tom é fortemente condenatório. Afirma-se que a Bíblia coloca a tais numa "luz desfavorável" e "no mínimo ... péssima". O que ela diz constitui “o motivo primário” pelo qual as Testemunhas não devem celebrar. Dizem que comemorar aniversários é uma prática de 'pessoas apartadas de Deus', pessoas essas que 'não têm a aprovação Dele'. Os "cristãos maduros" são "sensíveis aos indícios" de que 'Deus só pode estar falando mal' dessa prática. Portanto, "as Testemunhas de Jeová têm amplas razões para abster-se desse costume" e devem ensinar seus filhos a assim também fazerem.
A Citação 2, do livro "Raciocínios à Base das Escrituras" resume tudo o que se diz nas outras. Tomando-a como base, analisemos as suas duas frases:
Frase 1: "Tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali." (2 Tim 3:16, 17)
Para quem crê na inspiração divina da Bíblia, isto é uma verdade óbvia. Não teria sentido pensarmos que Deus faria constar uma informação em Sua Palavra que fosse absolutamente inútil. Porém, se fizermos uma aplicação demasiadamente abrangente dessa frase, levando-a às últimas consequências, podemos cair em generalizações absurdas. Adiante veremos claramente por que.
Em primeiro lugar, precisamos responder à seguinte questão: Será que o simples fato de algo estar registrado na Bíblia, significa forçosamente que Deus está emitindo Sua opinião ou Seu juízo de valor sobre aquilo?
A realidade é que, em muitos casos, a Bíblia precisa apresentar certas informações contextuais para que possamos ter um quadro mais completo, permitindo-nos o pleno entendimento de muitas ocorrências e situações mencionadas nela. Por vezes (e serão mencionados exemplos), esta é a única e exclusiva razão de tais informações 'estarem ali'. Logo, isso não quer dizer que, nesses casos, Deus necessariamente esteja se pronunciando contra ou a favor de cada uma das informações ou, em outras palavras, classificando automaticamente tudo o que é apresentado em tais contextos como "certo" ou "errado" ou, de alguma maneira, "próprio" ou "impróprio" para os Seus servos.
A frase 2 pode ser subdividida assim:
(1)  As Testemunhas de Jeová notam ...
(2)  que a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios ...
... de modo que as evitam.
As duas partes principais da frase são totalmente falsas.
Em primeiro lugar, conforme já foi dito, as Testemunhas "evitam" as celebrações de aniversários não porque 'notaram' alguma 'referência desfavorável' a estas na sua leitura individual da Bíblia. Elas fazem isso por causa do que lêem nas publicações produzidas por sua organização religiosa, publicações estas que refletem o pensamento dos líderes da organização. Como vimos, estas publicações realmente contêm 'referências desfavoráveis' às celebrações de aniversários, e isso já é assim há muito tempo. Não é o caso de cada Testemunha ter feito um exame particular do que a Bíblia diz sobre o assunto e chegado sozinha à conclusão de que Deus encara desfavoravelmente e desaprova essas celebrações.
As pessoas que se tornam Testemunhas de Jeová depois de adultas já aprendem essa ideia logo que começam a associar-se com a organização. Mesmo que alguns destes recém-associados tenham dúvidas quanto à validade bíblica da proibição, com o tempo eles absorvem a cultura do grupo e acabam vindo a acatá-la. As crianças que nascem ou crescem em famílias que pertencem à religião aprendem isso desde pequenas (a Citação 3, acima, até instrui os pais a como ensinarem isso) e é somente natural que essas crianças cresçam encarando as celebrações de aniversários como algo 'impróprio para os cristãos', mesmo que não entendam e nem saibam explicar os motivos da proibição.
O que dizer da afirmação de que "a Palavra de Deus relata desfavoravelmente as celebrações de aniversários natalícios"?
Primeiro, vejamos o que dizem rigorosamente as duas referências diretas da Bíblia a este assunto (conforme a Tradução do Novo Mundo, usada pelas Testemunhas):
Primeira referência: Gênesis 40:20-22:
20 Ora, o terceiro dia resultou ser aniversário natalício de Faraó, e ele passou a dar um banquete a todos os seus servos e a levantar a cabeça do chefe dos copeiros e a cabeça do chefe dos padeiros no meio dos seus servos. 21 Concordemente, restituiu o chefe dos copeiros ao seu posto de copeiro, e ele continuou a dar o copo à mão de Faraó. 22 Mas ao chefe dos padeiros ele pendurou, assim como José lhes dera a interpretação.
Segunda referência: Marcos 6:21-28:
21 Chegou, porém, um dia conveniente, no seu aniversário natalício, em que Herodes ofereceu uma refeição noturna a seus dignitários e comandantes militares, e aos principais da Galiléia. 22 E entrou a filha desta mesma Herodias e dançou, e ela agradou a Herodes e aos que se recostavam com ele. O rei disse à donzela: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei.” 23 Sim, jurou-lhe: “O que for que me pedires, até a metade do meu reino, eu to darei.” 24 E ela saiu e disse à sua mãe: “Que devo pedir?” Ela disse: “A cabeça de João, o batizador.” 25 E entrando logo apressadamente, foi ter com o rei e fez a sua solicitação, dizendo: “Quero que me dês imediatamente, numa travessa, a cabeça de João Batista.” 26 Embora o rei ficasse profundamente contristado, contudo, não quis desconsiderá-la, em vista dos juramentos e dos que se recostavam à mesa. 27 O rei mandou assim imediatamente um guarda pessoal e ordenou-lhe que trouxesse a cabeça dele. E ele foi e o decapitou na prisão, 28 e trouxe a cabeça dele numa travessa, e a deu à donzela, e a donzela a deu à sua mãe.
(Nota: Há uma referência menos detalhada ao natalício do Rei Herodes em Mateus 14:6-10)
Quando as publicações da organização consideram estes dois relatos bíblicos, geralmente é dada grande ênfase a dois pontos que eles têm em comum:
1.    No decorrer das duas celebrações ocorreu um crime (assassinato)
2.    Os aniversariantes eram pagãos, e não servos do verdadeiro Deus
Levando em consideração estes fatos e como a expressão "aniversário natalício" aparece no contexto dos dois relatos, as publicações da organização argumentam que a Bíblia está fazendo uma clara 'referência desfavorável' às próprias celebrações. Alega-se que, já que "tudo o que está na Bíblia tem uma razão de estar ali" e como a Bíblia conecta estes dois fatos com as celebrações, isso não é uma simples "coincidência", e sim a maneira de Deus dizer que Ele desaprova totalmente que Seus servos fiéis comemorem aniversários natalícios. Senão, Ele não teria feito constar estas informações na Bíblia.  
(Este artigo analisará apenas o primeiro dos dois pontos acima. Outros autores já analisaram o segundo ponto e, para quem tiver interesse, há um apêndice no final do artigo que acrescenta certos detalhes à conclusão destes autores.)
Em se tratando da ocorrência dos crimes, a fragilidade do raciocínio expresso pela Torre de Vigia, pode ser vista se considerarmos a seguinte questão: Será que o fato de ocorrer algo condenável durante um evento social, isso necessariamente depõe de alguma maneira contra o próprio evento?
Mesmo hoje em dia, não é verdade que acontece todo tipo de coisa grave em eventos públicos (festas, eventos esportivos, reuniões familiares etc)?. Porém, será que alguém pensaria que é porque há algo de errado ou condenável nestes eventos, em si mesmos?
Por exemplo, numa partida de futebol, realizada comumente num estádio esportivo, a experiência tem mostrado que frequentemente ocorre todo tipo de selvagerias chocantes (incluindo assassinatos bárbaros por causa de brigas entre torcedores). Será que, por causa disso, seria proibido um cristão assistir a uma partida de futebol num estádio?
Na antiguidade estas coisas também ocorriam em eventos públicos. Tanto o Faraó, como o Rei Herodes poderiam perfeitamente ter cometido aqueles crimes, por exemplo, durante a recepção de seus casamentos. Não há qualquer razão para pensarmos que eles não fariam tal coisa. Diríamos então que uma recepção de casamento é algo inerentemente mau? Se a Bíblia registrasse isso, estaria Deus automaticamente condenando o evento e dizendo "em código" que Seus servos não devem fazer recepções de casamento?
E por que é que a Bíblia dá a informação de que tais crimes ocorreram durante aquelas festas de aniversário? É simplesmente para que possamos entender em que contexto e circunstâncias os crimes ocorreram.
Na primeira referência, a Bíblia relata como foi que a interpretação dos sonhos feita por José teve cumprimento. Por motivos que só Deus sabe, Faraó executou o padeiro-chefe e preservou vivo o copeiro-chefe, exatamente como José havia dito que aconteceria 'dentro de três dias'. Tudo o que o registro faz é mostrar que "o terceiro dia" após a interpretação dos sonhos "resultou ser aniversário natalício de Faraó" e foi durante a festa que ele resolveu fazer essas coisas. É para isso que 'a informação está ali'. Quanto à própria comemoração, não há qualquer palavra de condenação. Nada há no registro que nos faça pensar que a execução do padeiro era algo decorrente da celebração em si ou intrínseco a ela.
Na segunda referência, ficamos sabendo que o Rei Herodes ficou tão empolgado com a apresentação de sua enteada, que jurou solenemente "dar-lhe tudo o que pedisse". O registro torna evidente que ele não imaginava que ela iria pedir o que pediu, instigada por sua mãe. Por causa desse juramento irrefletido, ele "muito contristado", ou seja, a contragosto, sentiu-se obrigado a mandar matar o profeta (muito embora isso não justifica o crime). O fato é que, mais uma vez, a informação sobre a festa de aniversário 'está ali' para esclarecer a situação do momento. Se a Bíblia não dissesse que ele estava cercado pelos ilustres convidados à sua festa de aniversário, ficaria difícil entendermos como foi que o rei ficou nessa enrascada e por que razão João Batista foi executado dessa forma tão bizarra. Novamente aqui, por mais chocante que tenha sido o crime, nada se diz contra a própria celebração do aniversário.
Não pode haver dúvida quanto a isso: é completamente ilógico encararmos uma situação social como inerentemente errada devido ao fato de um crime ocorrer durante a mesma. O que é condenável é o crime em si e não o contexto no qual ocorre. Em outras palavras, seja na antiguidade, seja no nosso tempo, se até mesmo um crime ocorrer durante um evento social, o crime em si não depõe contra o próprio evento nem o torna proibitivo para um cristão.
Algumas pessoas poderiam argumentar que é inválida essa comparação entre as celebrações de aniversário mencionadas na Bíblia e um evento esportivo dos tempos modernos. Segundo elas, no caso da partida de futebol, os que praticam as ações criminosas são indivíduos violentos que vão assistir à partida e não os promotores do evento. Dessa forma, exceto por razões de segurança pessoal, não haveria qualquer problema em um cristão ir ao estádio para ver um jogo. De acordo com esse raciocínio, pareceria ter validade a ideia de que a Bíblia faz um claro "relato desfavorável" das duas celebrações de aniversário, já que, naqueles casos, foram os próprios promotores das celebrações (os aniversariantes) que cometeram os crimes.  
Todavia, nem mesmo este argumento se sustenta, se analisarmos outro caso relatado na Bíblia, de ação criminosa praticada durante uma comemoração pública. Consideremos a citação abaixo:
2 Samuel 13:23-29:
23 E resultou, depois de dois anos inteiros, que Absalão veio a ter tosquiadores em Baal-Hazor, que está perto de Efraim; e Absalão passou a convidar todos os filhos do rei. 24 Portanto, Absalão entrou até o rei e disse: “Eis que agora teu servo tem tosquiadores! Por favor, vá o rei e também seus servos juntos com teu servo.” 25 O rei disse, porém, a Absalão: “Não, meu filho! Não vamos todos, por favor, para que não te sejamos pesados.” Embora instasse com ele, não consentiu em ir, mas o abençoou. 26 Absalão disse, por fim: “Senão [tu], por favor, deixa Amnom, meu irmão, ir conosco.” A isto o rei lhe disse: “Por que devia ele ir contigo?” 27 E Absalão começou a instar com ele, de modo que mandou com ele Amnom e todos os filhos do rei. 28 Absalão ordenou então aos seus ajudantes, dizendo: “Vede, por favor, que assim que o coração de Amnom se estiver sentindo bem por causa do vinho e eu certamente vos disser: ‘Golpeai a Amnom!’ então tereis de entregá-lo à morte. Não tenhais medo. Não fui eu quem vos dei ordens? Sede fortes e mostrai-vos homens valentes.” 29 E os ajudantes de Absalão passaram a fazer a Amnom assim como Absalão lhes ordenara; e todos os outros filhos do rei começaram a levantar-se e a montar, cada um no seu mulo, e puseram-se em fuga.
O que a Bíblia faz, neste caso, é relatar em que circunstâncias Amnom foi morto. O meio-irmão dele, Absalão planejou matá-lo durante uma festa de confraternização entre irmãos. Absalão estava comemorando a sua aquisição de "tosquiadores" e havia convidado até mesmo a seu pai, Davi. Como lemos, o Rei Davi não quis ir com a comitiva real, porque achou que ia dar muita despesa a seu filho, mas consentiu que seu filho primogênito, Amnom, fosse junto com os demais irmãos. Foi nessa ocasião festiva, regada a vinho, que o promotor da festa, Absalão, executou vingança contra Amnom, mandando seus empregados assassiná-lo.
Fazendo uma comparação, poderíamos até dizer que, em certos aspectos, o crime de Absalão foi muito mais grave do que o do Rei Herodes. Como visto no relato de Marcos, o Rei Herodes, que era um pagão, mandou matar João Batista a contragosto e a própria maneira de execução do crime foi idealizada por outros. Já Absalão, que era um israelita e conhecedor do verdadeiro Deus, premeditou e planejou o assassinato. E ainda por cima, a pessoa que ele mandou matar diante de todos, durante a festa, era seu próprio irmão!   
Contudo, por mais hediondo que tenha sido o que Absalão fez, cabem aqui as seguintes perguntas: Será que tal crime depôs de alguma maneira contra a ocasião em que ele foi cometido? Já que a informação específica sobre a festa 'está ali' na Bíblia, será que é porque há alguma coisa errada em fazer festas comemorativas em família? Está a Bíblia fazendo um "relato desfavorável" sobre tais tipos de festas e está Deus dizendo que Seus servos não devem promover eventos semelhantes a esses?
A resposta a todas estas perguntas seria “sim”, se aplicássemos aqui o mesmo padrão de raciocínio que é aplicado no caso daquelas celebrações de aniversário. Teríamos de encarar toda e qualquer confraternização comemorativa familiar como algo condenado por Deus!
Portanto, quando a Bíblia informa que tais coisas chocantes ocorreram durante aquelas celebrações (de aniversários ou de qualquer outra coisa), a informação não 'está ali' para necessariamente desabonar ou 'relatar desfavoravelmente' as próprias celebrações em si mesmas. Ninguém pode afirmar taxativamente que esta seja a intenção de Deus. No máximo, nós só podemos encarar com desfavor os mentores dessas ações criminosas e classificar como condenáveis os atos praticados por eles.
Não existe o menor sentido na ideia de que Deus instrua Seus servos de forma ambígua, usando uma espécie de linguagem "em código", de uma maneira que somente alguns entendam a instrução e outros não. Os crentes na Bíblia sabem muito bem que quando Deus dá instrução espiritual vital para Seus servos, Ele sempre o faz de maneira clara, seja através de uma ordem ou proibição direta, seja através de um princípio explícito. 

CONCLUSÃO
Este artigo não é uma apologia das festas de aniversário natalício e não foi escrito para defender a ideia de que realizar tais festas seja algo obrigatório para os cristãos. Já que a Bíblia é omissa nesse assunto, a questão de promover ou não tais celebrações e mesmo a maneira de realizá-las, deveria ser deixada a critério da consciência de cada um.
Há vários outros argumentos relacionados a esta proibição, que constam na literatura da organização, mas estes já foram devidamente analisados por outros autores. Para finalizar, este artigo analisará apenas um argumento adicional:
Embora a Bíblia diga que houve grande alegria por ocasião dos nascimentos de João Batista e de Jesus Cristo, a organização Torre de Vigia endossa a ideia de que os primitivos cristãos jamais celebravam seus aniversários. Desta forma, o livro “Raciocínios à Base das Escrituras”, pág 37, cita com aprovação o seguinte:
“A noção de uma festa de aniversário natalício era alheia às ideias dos cristãos deste período, em geral.” — The History of the Christian Religion and Church, During the Three First Centuries (Nova Iorque, 1848), Augusto Neander (traduzido por Henry John Rose), p. 190.
Assim, é transmitida a ideia de que os cristãos hoje, seguindo o exemplo deles, também não deveriam celebrar aniversários.
Mas, mesmo que seja verdade que os primitivos cristãos não realizavam tais celebrações, não se pode deixar de perceber que, ao lançar mão deste argumento, a organização está usando um padrão duplo de pensamento. Como assim?
Consideremos os seguintes procedimentos organizacionais:
·       Reuniões: Que os primitivos cristãos ajuntavam-se regularmente é inegável. Mas será que as reuniões deles eram sempre num mesmo prédio, num dia e horário específico, seguindo uma programação rigorosamente pré-estabelecida e com somente alguns falando duma tribuna e os demais apenas ouvindo e tendo a obrigação de aceitar tudo o que se dizia? Não há qualquer evidência bíblica ou histórica de que as coisas funcionavam desta maneira.
·       Pregação: Falar de sua fé aos descrentes foi, desde o princípio, alistado como uma obrigação para os cristãos. A Bíblia e a História mostram que eles cumpriram isso. O que não é possível encontrar é a evidência bíblica ou histórica de que essa pregação deles era executada de porta em porta, de maneira sistemática, repetitiva, sem convite prévio, e através do uso de outros escritos além das Escrituras, escritos estes que deveriam ser oferecidos ao público em troca de dinheiro. Nem podemos confirmar biblicamente que os primitivos cristãos tinham a obrigação de anotar mensalmente toda a sua atividade de pregação num relatório e entregá-lo a outros homens, para avaliação de seu “nível de espiritualidade”.
·       Congressos: A organização Torre de Vigia e outras religiões promovem regularmente eventos deste tipo, tanto a nível regional como internacional. As Testemunhas de Jeová são até mesmo levadas a encarar tais congressos como “festividades espirituais” e se uma delas deixar de comparecer (salvo por motivo de força maior), pode até ser vista como uma pessoa que “não tem apreço”. Porém, não há registro bíblico ou histórico de que os primitivos cristãos fizessem isso. Tal ideia era “alheia” a eles.
E este artigo poderia alistar vários outros procedimentos que são executados atualmente, mas que não têm precedentes no primitivo cristianismo. Se este argumento da Torre de Vigia fosse válido, então as Testemunhas de Jeová não deveriam fazer estas coisas hoje. No entanto, a organização não só as incentiva, como ainda transforma tais procedimentos em verdadeiras obrigações.  
Portanto, mesmo quando usa argumentos contrários à celebração de aniversários com base em fontes não-bíblicas (citações de obras seculares e religiosas), a Torre de Vigia acaba dando a eles uma abordagem de mão-única, usando-os exclusivamente para apoiar suas posições, mas não deixando que tenham aplicação geral.
O mais grave é que, conforme o artigo mostrou, no esforço de impor arbitrariamente essa proibição a todos os seus membros, a organização acaba apresentando “argumentação bíblica” que é, na realidade, baseada em raciocínios muito frágeis. Os líderes da Torre de Vigia nada mais fazem que uma tentativa de atribuir a Deus opiniões que Ele não declara explicitamente em Sua Palavra.

APÊNDICE
O que dizer da ideia de que a Bíblia só faz referência a celebrações de aniversários de "pessoas pagãs"? É verdade isso?
O que ocorre é que as únicas duas referências diretas da Bíblia a celebrações de aniversários natalícios  são as transcritas no artigo. Apenas naqueles dois casos a Bíblia usa especificamente a expressão "aniversário natalício" ao falar das comemorações promovidas pelo Faraó e pelo Rei Herodes.
Há, entretanto, um caso relatado na Bíblia que alguns encaram como uma referência indireta à celebração. Examinemos certos trechos deste caso:
Jó 1:4-5:4:
E seus filhos foram e realizaram um banquete na casa de cada um [deles] no seu próprio dia; e mandaram convidar suas três irmãs para comerem e beberem com eles. 5 E dava-se que, tendo os dias de banquete completado o ciclo, Jó mandava santificá-los; e ele se levantava de manhã cedo e oferecia sacrifícios queimados segundo o número de todos eles; pois, dizia Jó, “meus filhos talvez tenham pecado e amaldiçoado a Deus no seu coração”. Assim Jó fazia sempre.
Jó 3:1-3, 6:
Foi depois disso que Jó abriu a boca e começou a invocar o mal sobre o seu dia. 2 Jó respondeu então e disse:  3 “Pereça o dia em que vim a nascer, Também a noite em que alguém disse: ‘Foi concebido um varão vigoroso!’ ... 6 Aquela noite — levem-na as trevas; Não se regozije entre os dias do ano; Não entre no meio do número dos meses lunares.
Uma comparação entre a fraseologia dos dois trechos mostra que a expressão "seu dia", refere-se ao dia correspondente ao do nascimento. Devido ao seu sofrimento, Jó chegou a amaldiçoar o "seu dia", isto é, ‘o dia em que veio a nascer’ (Jó 3: 1,3) e até pediu que este dia fosse 'riscado do calendário', para que ele jamais fosse lembrado (Jó 3:6). Sendo assim, quando Jó 1:4 diz que seus filhos realizavam banquetes "na casa de cada um [deles] no seu próprio dia", a ideia que logo nos vêm à mente é a de que cada um deles promovia um banquete em sua própria casa, no dia correspondente ao do seu nascimento, ou seja, no dia do seu aniversário. E todos os demais irmãos e irmãs eram convidados.
Outra conclusão que se pode tirar do relato é que, além de tais ocasiões serem de alegria, elas eram também algo rotineiro, pois Jó 1:5 declara que Jó oferecia sacrifícios expiatórios ao final de cada série de banquetes e 'assim ele fazia sempre'. Não é à toa que a Bíblia o descreve como um dos homens mais fiéis que já viveram na terra, pois ele se preocupava até mesmo com a possibilidade de algum de seus filhos "terem amaldiçoado a Deus no seu coração" durante tais festas! Em parte alguma, porém, o registro diz que ele, Jó, desaprovava a realização dos próprios banquetes. Não há qualquer 'referência desfavorável' a estas festas em família. O que o registro diz é que, posteriormente, foi numa dessas ocasiões festivas que Satanás provocou um desastre criminoso, que resultou na morte dos filhos de Jó (Jó 1:18). Fica fácil entendermos em que circunstância Satanás causou a morte de todos de uma só vez.
Naturalmente, a organização Torre de Vigia discorda deste entendimento e se esforça em dar ao relato uma interpretação diferente. Uma publicação diz:
Quando os filhos de Jó “realizaram um banquete na casa de cada um deles no seu próprio dia”, não se deve supor que celebravam seu aniversário natalício. (Jó 1:4) “Dia”, neste versículo, traduz a palavra hebraica yohm, e refere-se a um período de tempo desde o nascer até o pôr do sol. Por outro lado, “aniversário natalício” corresponde a duas palavras hebraicas, yohm (dia) e hul·lé·dheth. A diferença entre “dia” e o dia do natalício de uma pessoa poderá ser observada em Gênesis 40:20, onde aparecem ambas as expressões: “Ora, o terceiro dia [yohm] resultou ser aniversário natalício [literalmente, “o dia (yohm) do nascimento (hul·lé·dheth) de Faraó].” De modo que é certo que Jó 1:4 não se refere a um aniversário natalício, como é inquestionavelmente o caso de Gênesis 40:20. Parece que os sete filhos de Jó realizavam uma reunião familiar (possivelmente uma festa da primavera ou da colheita), e, ao passo que as festividades prosseguiam em rodízio por uma semana, cada filho era anfitrião do banquete em sua própria casa “no seu próprio dia”.  - (Estudo Perspicaz das Escrituras - Volume 1, pág 141, sob o verbete "Aniversário Natalício")
A contra-argumentação usada nesta publicação não procede, se for analisada com atenção.
É verdade que, quando Jó 1:4 fala dos filhos de Jó e usa a expressão "no seu próprio dia", não faz a qualificação "dia do nascimento" (yohm hul·lé·dheth).  Aparece apenas a palavra "dia" (yohm). Todavia, o que a liderança das Testemunhas de Jeová passa por alto é que, quando se refere ao dia do nascimento de Jó, a Bíblia também o descreve de forma lacônica, resumida, ou seja, não se usa esta qualificação. Embora apenas a palavra "dia" (yohm) seja usada em Jó 3:1, o contexto (Jó 3:3) revela inquestionavelmente que o "seu dia", sobre o qual ele 'invocou o mal', era o dia correspondente ao do nascimento dele (o 'dia em que veio a nascer'). Não há motivo para negar que este mesmo contexto aplica-se também ao que se diz em Jó 1:4, que usa uma fraseologia até mais definida ("seu próprio dia"). Sendo assim, está errado afirmar arbitrariamente que "é certo que Jó 1:4 não se refere a um aniversário natalício", só porque a qualificação "do nascimento" não está lá. Se fosse assim, seríamos obrigados a admitir que, forçosamente a palavra "dia", que está isolada em Jó 3:1, também não se refere de modo algum ao dia correspondente ao do nascimento de Jó, e sim a um dia qualquer, o que tornaria sem sentido aquela 'invocação do mal' feita por Jó.
Ademais, a hipótese de que os filhos de Jó 'realizavam uma reunião familiar em rodízio por uma semana', algo como "uma festa da primavera ou da colheita" é nada mais que um palpite sem comprovação. A passagem não diz que as festividades duravam “uma semana”, não diz que os banquetes eram em dias consecutivos, e nem diz em que época ou estação do ano isso ocorria. A expressão  “tendo os dias de banquete completado o ciclo”, que aparece em Jó 1:5, não quer dizer necessariamente um rodízio ‘semanal’, mas pode muito bem se referir à finalização da série anual de banquetes de todos os aniversariantes, momento em que Jó oferecia seus sacrifícios.
Outro detalhe é que o relato (por exemplo em Jó 1: 4, 18) sempre dá a impressão de que Jó não estava presente nessas festas. Já que a atividade agrícola era tão fundamental naquela época, a ausência de Jó seria muito estranha numa “festa da primavera ou da colheita” (supostamente realizada em uma semana específica do ano), mas não seria tão estranha nas comemorações de aniversários de todos os seus filhos (que eram basicamente eventos de diversão para a ‘gente moça’, sendo realizados em dias diferentes do ano).
Os líderes das Testemunhas aparentemente reconhecem todos estes fatos, tanto é que usam na publicação os termos "parece que" e "possivelmente". Tudo o que o registro no livro de Jó faz é dizer que os filhos homens de Jó realizavam ‘banquetes’ (exatamente como Faraó e o Rei Herodes, ambos homens), e “cada um no seu próprio dia”, mandando convidar suas irmãs. Embora não se afirme aqui, de maneira dogmática, que tais banquetes eram forçosamente festas de aniversário, é possível argumentar solidamente nesse sentido. Por outro lado, a organização Torre de Vigia está errada ao ensinar dogmaticamente que ‘com certeza não eram’, e ainda mais apresentando uma argumentação deficiente.

FONTE:
http://indicetj.com/om/om7.htm 

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