Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

11 de agosto de 2015

Tudo me é lícito


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A simplicidade do Evangelho consiste em seguir o que a Bíblia diz. E na Bíblia está escrito: “Tudo me é lícito” (1 Coríntios 10.23). Muitos se atém a apenas esta parte do texto bíblico e logo concluem: “se tudo me é lícito, posso fazer absolutamente tudo o que quiser… posso fumar crack, possuir várias mulheres, assistir a filmes pornôs… nada é proibido. A graça de Cristo me libertou de todo pecado, e nada mais que eu fizer estará sujeito a alguma condenação”. Estaria correto este raciocínio?

De fato, se isolarmos convenientemente esta parte do texto, esta parece ser a conclusão mais óbvia. Entretanto, este é um dos mais grotescos erros no método de interpretação das Escrituras. Texto fora do contexto é pretexto, já diziam os antigos.

Vejamos o que acontece se fizermos o mesmo com outros textos:
Filipenses 4:13 – “Posso todas as coisas…” Se eu posso todas as coisas, então posso manter uma relação extraconjugal sem comprometer o equilíbrio familiar; posso me embriagar e não envergonhar o Evangelho; posso empurrar um trem por quilômetros ladeira acima; posso ser cruel ou vulgar ao conversar com alguém; posso TODAS as coisas!
João 6:27 – “Não trabalhem pela comida…” Então, trabalhar secularmente é pecado. Deus é contra a ideia de eu ter uma profissão. Devo abandonar totalmente a ideia de ter um emprego, e simplesmente “viver pela fé”. Todos os meus dias irei me dedicar apenas a “atividades espirituais” e não me preocupar com as necessidades básicas da minha família.
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Assim nascem as heresias e assim surgem os mais terríveis absurdos supostamente bíblicos.
 
Quando se retira um texto do seu contexto e lhe dá um significado isolado, é muito fácil tropeçar feio na interpretação. Por exemplo: na própria Bíblia está escrito: “Não há Deus”, mas bem longe de ser uma defesa ao ateísmo, esta afirmação está dentro de um significado mais amplo: “Diz o tolo em seu coração: ‘Não há Deus’. Corromperam-se e cometeram atos detestáveis; não há ninguém que faça o bem.”  (Salmo 14:1).

O que temos visto é que, na verdade, muitos extraem partes fragmentadas das Escrituras tentando justificar suas próprias escolhas. Elton John  disse que Jesus era gay para tentar justificar seu próprio homossexualimo… Fulano afirma que a Bíblia não condena a bebida para tentar justificar seu problema com o alcoolismo… Beltrano diz que na Bíblia sexo e casamento são a mesma coisa para tentar justificar sua própria conduta extraconjugal… E assim por diante. Não é preciso ser um expert em psicologia comportamental para perceber esta estratégia quase infantil diante da culpa.
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Voltando ao nosso texto inicial, sim, todas as coisas me são lícitas (permitidas). Mas qual a abrangência desse “todas as coisas”? Inclui de fato TODAS AS COISAS, inclusive matar, cobiçar e mentir? Com certeza não, pois tais práticas (e muitas outras) a própria Palavra condena (Marcos 10:19, Mateus 5:28, Colossenses 3:9). Então do que se trata?

Este texto (1 Co 10:14-33), na verdade, está falando de comida: explica que podemos comer tranquilamente algo que foi consagrado de antemão a ídolos e demônios, porque os ídolos não são nada e, maior é o que está em nós do que aquele que está no mundo. Entretanto, caso eu seja advertido dessa consagração e o fato de eu comer este alimento for prejudicar a consciência do outro, é melhor me abster de comer. Simples assim :)!  Confira em 1 Coríntios 10:25-33.
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É uma alternativa bem cômoda distorcermos o sentido de um texto bíblico na tentativa de justificar uma ou outra prática. Mas tal estratégia, sem dúvida, é também ilusória. Deus não se deixa escarnecer e a sua Palavra não voltará vazia, mas atingirá o propósito para o qual foi enviada.
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Sim, eu “posso todas as coisas naquele que me fortalece…” Aqui o apóstolo  Paulo declara: “aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, sejam bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11-13).

Sim, não devo trabalhar APENAS pela comida que perece e se estraga, pois minha vida vai além da morte. Pouco depois do milagre da multiplicação dos pães, Jesus orienta: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos. Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação.” (João 6:26-27)

Sim, todas as coisas me são lícitas, desde que estejam dentro da liberdade que há em Cristo Jesus. E esta liberdade não é sem limites, mas nos chama para obedecermos a uma série de mandamentos restritivos:
    • Não nos prostituamos” 1 Co 10:8
    • “Não saia da boca de vocês nenhuma palavra torpe” Efésios 4:29
    • “Não julguem” Mateus 7:1
    • “Não pratiquem imoralidade” 1 Coríntios 10:8
    • “Não sejam sábios aos seus próprios olhos” Romanos 12:16
    • “Não sirvam a Deus e ao dinheiro” Mateus 6:24
Cristo nos liberta para nos fazer seus servos. Contraditório? Parece; mas não é. Trata-se apenas de mais um dos aparentes paradoxos da vida cristã: posso todas as coisas, mas não posso todas as coisas; tudo me é lícito, mas nem tudo me é lícito; a salvação é pela graça, mas nos custa nada menos que tudo.
O cristianismo não é uma religião repleta de normas e regras, é uma vida de relacionamento com o Criador. No entanto, este relacionamento de amor traz consigo também responsabilidade. Não se trata de viver a vida dissolutamente, sem compromisso, apenas “desfrutando” da maravilhosa Graça.

A liberdade que há em Cristo nos permite dizer não ao pecado, pois não somos mais escravos do mal. Mas, como servos de Cristo, já totalmente libertos, ainda precisamos a cada dia crucificar a própria carne e negarmos a nós mesmos, mantendo-nos longe do que nos dá prazer à carne mas nos corrompe o espírito.

Sim, tudo nos é lícito… dentro da maravilhosa liberdade que o próprio Cristo conquistou para nós na cruz.



Por Márcia Cristina Rezende, Bacharel em Teologia e Educação Religiosa Marília/SP


https://serigreja.wordpress.com/2010/02/27/tudo-me-e-licito/

 

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