Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

22 de junho de 2015

Hedonismo e ascetismo, dois extremos que o cristão deve evitar

 
 

Crente não bebe, não dança, não fuma, não vai ao cinema, não vai a praia, não assiste TV, não ouve músicas seculares etc. Assim foi criado um estereótipo do cristão protestante, especialmente os pentecostais, que ainda permanece na sociedade. O ascetismo, marca registrada da “espiritualidade” medieval, atingiu em cheios os cristãos pietistas. Enquanto isso a sociedade hedonista busca, a cada dia, satisfação nos prazeres fúteis e passageiros desse mundo.
O que é hedonismo? O que é ascetismo? E por que a igreja deve evitar essas “filosofias”? Segundo C. Stephen Evans, o hedonismo é uma “teoria ética que identifica o bem com a felicidade e entende a felicidade como a presença do prazer e a ausência da dor” [1]. Stanley J. Grenz e Jay T. Smith definem hedonismo como “uma teoria de valor amplamente defendida que declara que o prazer é o valor intrínseco mais alto” [2]. O ascético acredita que a prática de “exercícios espirituais” irá recompensá-lo com a salvação, pois a ascese leva o homem para realização plena da virtude e mortificação da carne.
O hedonista adora o prazer, o ascético o despreza com veemência. O hedonista cultua o corpo, enquanto o ascético o vê com desconfiança. Um é anti-bíblico e o outro também. A cristandade sempre se aproximou do ascetismo, mas hoje é possível ver “cristãos” hedonistas, principalmente os contaminados pela pregação de prosperidade e saúde plena. Os “cristãos” ascetas ainda continuam, principalmente em igrejas pentecostais, contaminados pelos seus equívocos.

Hedonismo e os “prazeres” do evangelicalismo

Os adeptos da “teologia” da prosperidade são hedonistas, pois os mesmos acham que a felicidade está no prazer da glória terrena. Os pastores que pregam tal aberração exaltam em testemunhos estridentes aqueles que conquistaram um modelo de vida luxuoso. As evidências da vida “cristã” se constituem, dentro desse contexto hedonista, com carros, mansões, iates, sucesso empresarial etc.
O Movimento Carismático acentua demasiadamente o “sentir-se bem” no ambiente de culto. Com isso, os cultos carismáticos são recheados de clichês com músicas do tipo mantra. A dita “adoração extravagante” atende a demanda do misticismo vazio de conteúdos objetivos. Nesses “momentos de adoração”, a eventual êxtase serve como o ópio contrário a racionalidade cúltica proposta pelo apóstolo Paulo em Rm 12.01.
Alguns, influenciados por uma onda de espiritualidade pós-moderna, sem vinculo moral, já não condenam o segundo casamento, nem a união de homossexuais, o aborto, o sexo descompromissado etc. É possível ver em alguns libertinos essas atitudes, principalmente aqueles afetados pela teologia neoliberal.

Ascetismo e seus males

Como dito no início, o protestantismo criou vários estereótipos em versões de tabu quanto aos prazeres dessa terra. Comportando-se somente como peregrinos, os cristãos rejeitaram a cultura e o papel de influência sobre ela. Nessa cosmovisão, criam forte aversão ao cinema, rádio, televisão, erudição, esportes, lazeres, entretenimento, teatros, artes, danças, esculturas etc. Fruto de uma dicotomia grega, e não de convicção bíblica, o legalismo protestante desprezou a dosagem equilibrada do prazer.

A falsa santidade e o ascetismo

Prejuízos enormes já foram causados pela confusão existente nas cabeças legalistas, entre ascetismo e santidade. Santidade vem de Deus, ascetismo vem do homem; santidade está casada com a graça, ascetismo está casado com o legalismo; santidade liga a Deus, ascetismo afasta o homem de Deus. Santidade tem uma total dependência da obra regeneradora e purificadora do Espírito Santo, enquanto o ascetismo depende do esforço humano.
Quantos pentecostais pregam e vivem como se os “usos e costumes” os levassem para o céu!
Sobre o assunto, sabiamente escreve o teólogo Augustus Nicodemus:

Ser santo não é guardar uma série de regras e normas concernentes ao vestuário e tamanho do cabelo. Não é ser contra piercing, tatuagem, filmes da Disney, a Bíblia na Linguagem de Hoje. Não é só ouvir música evangélica, nunca ir à praia ou ao campo de futebol e nunca tomar um copo de vinho ou uma cerveja. Não é viver jejuando e orando, isolado dos outros, andar de paletó e gravata. Para muitos pentecostais no Brasil, santidade está ligada a esse tipo de coisas. Duvido que estas coisas funcionem. Elas não mortificam a inveja, a cobiça, a ganância, os pensamentos impuros, a raiva, a incredulidade, o temor dos homens, a preguiça, a mentira. Nenhuma dessas abstinências e regras conseguem, de fato, crucificar o velho homem com seus feitos. Elas têm aparência de piedade, mas não tem poder algum contra a carne. Foi o que Paulo tentou explicar aos colossenses, muito tempo atrás: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2.23). [3]

O grande pregador A.W. Tozer certa feita afirmou: “quando mais um homem e tem no coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é prova de falência do homem interior” [4]. Pelo conceito de Tozer, é visto que a excessiva necessidade de afirmação de uma “santidade” exterior, mostra certa deficiência no interior. Quantos expressavam os mais clássicos trejeitos de pentecostais tradicionais, mas era uma pessoa difícil de lidar? Ora, a santificação como de dentro para fora (I Ts 5.23), ou seja, “espírito, alma e corpo” e não o contrário! É muito fácil mudar o guarda-roupa, ou deixar de ir ao cinema; mas trabalhar a inveja, a malícia, a ambição, a sensualidade etc., somente com a Graça de Deus!

Compreensão correta de santidade não leva ninguém ao antinomismo
Nesse artigo não há sugestões para aversão a leis, regras, costumes ou tradições e nem incentivo para vida dissoluta, em que violenta a Graça de Deus. A Bíblia estabelece princípios irrevogáveis, em que muitos preceitos encontram suas bases. Lembrando que regras, tradições e preceitos mudam, mas os princípios (essência) não devem mudar.
A compreensão correta da santidade, nunca levará os homens para comportamentos pecaminosos. Quem peca baseado na “graça de Deus” está redondamente enganado! Os que usam a Graça para o pecado, entram no conceito de Judas, de "homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. (Jd. v.4),

A falência dos tabus comunais
Algumas denominações, como a Assembléia de Deus, da qual esse blogueiro faz parte, criou uma série de regras “oficiais” concernentes aos “usos e costumes”. Ora, se tais igrejas ensinassem sistematicamente os princípios irrevogáveis da Palavra de Deus, como o pudor, a modéstia, a moderação, a preservação do corpo etc.; não necessitariam de criar regras comunais específicas em questões de costumes e seus usos. A criação de “tabus comunais” mostra falência de ensino dos princípios absolutos e a busca do caminho mais fácil chamado “proibição”!
O teólogo Geremias do Couto sabiamente escreveu:

A experiência religiosa mostra que não adianta explicitar um sem-número de regras, pensando que elas consigam mudar a pessoa por dentro. O máximo que promovem é uma reforma exterior, que, do ponto de vista do ensino de Cristo, cheia a hipocrisia. [5]

Por isso, que a igreja bem doutrinada, ou seja, bem ensinada nos princípios bíblicos, gerará necessariamente bons costumes, que nunca serão impostos ou encarados de maneira legalista. Preceitos bons nascem de boa pregação, mas pregação doente gera somente crentes doentes e sem a compressão da Graça de Deus! Ainda o grande teólogo puritano J.I. Packer escreveu:

Esse ascetismo reacionário ainda sobrevive em alguns círculos na forma de tabus comunais sobre álcool, tabaco, teatro, dança, jogos, roupas elegantes, cosméticos e itens similares. Talvez tenha havido, e haja, boas razões para tais abstinências, em se tratando de decisão pessoa, mas tabus comunais tendem a entorpecer a consciência, em vez de avivá-la... O mundanismo foi definido em termos de quebras de tabus, e identificações de conseqüências mais amplas com os pecados da sociedade passaram despercebidas... O pietismo separa o mundo em vez de estudá-lo e procurar mudá-lo; é hostil ao prazer, em vez de agradecido por ele, temeroso de que o mundo adentre nossos corações montado nas costas do prazer. [6]

Conclusão
O desequilibrado hedonista destrói sua vida com seu modus vivendi louco e irresponsável, enquanto o asceta não aproveita a beleza que Deus deixou nessa terra. Ambos estão errados, ambos se autodestroem, pois é comum ver hedonistas viciados em bebidas e drogas, enquanto muitos ascetas estão obesos pela vida sedentária. O cristão gosta do equilíbrio!

Referências Bibliográficas e notas:
01. EVANS, C. Stephen. Dicionário de Apologética e Filosofia da Religião. São Paulo: Editora Vida, 2004. p. 64.
02. GRENZ, Stanley J. & SMITH, Jay T. Dicionário de Ética. São Paulo: Editora Vida, 2005. p. 82.
03. NICODEMUS, Augustus. O que estão fazendo com a Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 152.
04. TOZER, Aiden Wilson. O melhor de A.W. Tozer. São Paulo: Mundo Cristão, 1997. p. 110.
05. COUTO, Geremias do. A Transparência da Vida Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. p. 25.
06. PACKER, James Ian. Os Planos de Deus para Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 67. 


FONTE:
http://josivancarvalho.blogspot.com.br/2012/05/crente-nao-bebe-nao-danca-nao-fuma-nao.html


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