É curioso como muitos problemas de interpretação bíblica se resumem conceitos e palavras não entendidos, por causa do contexto cultural e histórico em que foram empregados. Grant R. Osborne mesmo, em seu livro A Espiral Hermenêutica, chama a atenção para isto em seu capítulo introdutório:
Se já é difícil entender uma conversa, que dirá entender um texto
escrito? Fui criado na cidade, mas minha mulher cresceu numa fazenda que
ficava a apenas uma hora da minha casa. Mesmo não sendo dois lugares
tão distantes assim, muitas vezes temos a dificuldade de compreender um
ao outro por causa das diferenças em nossa educação (urbana/rural). Isso
se torna mais complicado quando duas pessoas são de regiões diferentes
do país. E mais complicado ainda quando pertencem a culturas distintas.
No seminário em que leciono, há alunos que vieram de mais ou menos
quarenta países. Para a maior parte deles, o inglês é a segunda ou até a
terceira língua. A distância entre nossas culturas constitui uma enorme
barreira à clareza na comunicação. Agora multiplique isso por dois mil
anos e acrescente uma cultura que deixou de existir em 70 d.C., quando o
judaísmo do segundo templo foi destruído e teve que se reerguer sozinho1.
Se isto acontece até mesmo dentro de uma mesma cultura, o que dizer
com relação a culturas diferentes e tempos diferentes? Some a isto a
intenção de apresentar as Escrituras como contraditórias, e temos um
prato cheio!
É neste ponto que frequentemente se ataca a genealogia de Mateus, por
ela divergir da genealogia apresentada por Lucas. Muitos tentam
explicar as diferenças de várias formas, como por exemplo apontando que
uma genealogia é de Maria e outra de José, mas provavelmente um
entendimento melhor sobre a cultura judaica esclareceria qualquer
problema encontrado no Evangelho de Mateus, que reflete bastante esta
cultura.
Sobre isto, é importante observar o que foi escrito por A. Lukyn Williams em seu livro A manual of Christian evidences for Jewish people,
escrito em 1919, para responder alguns argumentos judeus contra o
cristianismo. Williams trata ali da questão das genealogias, como se
segue:
9] (i). Vamos tomar primeiro a segunda objeção, a falta de confiabilidade na evidência da genealogia de José.
O Rabi Isaac encontra três dificuldades:
11] (ii). Sua primeira dificuldade (A) com respeito à genealogia de José é contudo mais digna de consideração.
O Rabi Isaac encontra três dificuldades:
A. De acordo com Mateus, o pai de José é Jacó e sua linhagem vem através de Salomão; de acordo com Lucas, o pai de José é Eli e sua linhagem vem através de Natã, o filho de Davi.10] (i). Agora candidamente, eu não pensarei muito sobre as dificuldades levantadas em B e C. De fato, se a verdade deve ser dita, elas me parecem mais adequadas a um gentio do que a um Rabi bem informado. O Rabi Isaac nunca ouviu falar dos mnemônicos e Midrash? Ele nunca notou que Mateus divide suas séries em três vezes de quatorze, presumivelmente para o bem da memorização, e que quatorze equivale por Gematria a דוד, sendo que três é o próprio número de letras naquela palavra? Mas, se Mateus propositadamente arranjou seus nomes assim, não era quase necessário que ele deveria deixar alguns nomes fora? “O quê!”, é dito, “em uma Genealogia?” Sim, mesmo assim. Esdras não deixa de fora nomes em uma Genealogia? Veja Esdras 7:1-5 onde os nomes de Amarias a Joanã, seis ao todo, são omitidos; compare com 1Cr 6:7-11 (=Heb. v. 33-37). O erudito Dr. Schechter, agora presidente do Jewish Theological Seminary of America, é um homem mais sábio que o Rabi Isaac, ao dizer (Jewish Quarterly Review, xii. Abril, 1900, p. 418): “a impressão transmitida para o estudante rabínico pelo exame do Novo Testamento é em muitas partes como aquela adquirida pela leitura de uma antiga homília rabínica”. E então ele continua a destacar o perfeito caráter rabínico da genealogia contida em Mateus. Compare também com Pirqe Aboth, v. 2 e 3, onde nos é dito, primeiro, que há dez gerações de Adão a Noé, onde Adão é incluído, e segundo, que há dez de Noé a Abraão, onde Noé é excluído. Mera exatidão em números facilmente dá lugar em escritos judaicos a mnemônicos e instruções encorajadoras. Nenhum judeu verdadeiramente entendido sonhará acusar a genealogia no primeiro Evangelho por isto.
B. De acordo com Mateus há quarenta e duas gerações de Abraão a Jesus; de acordo com Lucas cinquenta e seis.
C. Mateus comete um erro evidente (טעות מפורסמת) ao dizer que Jorão gerou Uzias, pois ele assim omite Acazias, Joás e Amazias (cf. 1Cr. 3:12).
11] (ii). Sua primeira dificuldade (A) com respeito à genealogia de José é contudo mais digna de consideração.
(a). Eu livremente reconheço que a dificuldade não pode ser resolvida ao dizer que a forma de Lucas não é a genealogia de José, mas de Maria. Pois Lucas não dá um traço de evidência de que este é o caso. Nós devemos assumir que ambas são de José.O resultado então de nossa consideração desta primeira questão referente à genealogia é que ambas se referem a José, e que não há razão suficiente para duvidar da confiabilidade geral de ambas, cada uma de sua forma.
(b). Eu reconheço também que todas as explicações como as que se seguem não extremamente improváveis: (1) Judeus de posição tinham mais de um nome. (2) Os dois filhos de Matã eram Jacó, o mais velho, e Eli, o mais jovem; José era o filho de Jacó e Maria a única filha de Eli; então por se casar com sua prima Maria, José se tornou o filho de Eli assim como de Jacó. Esta explicação é engenhosa por explicar as duas genealogias como de José e ainda mostrar que de fato a de Lucas é também a genealogia de Maria. Mas é muito engenhoso para ser admitida sem provas. (3) Jacó morreu sem filho e Eli, por se casar com sua viúva, de acordo com o costume judaico, se tornou através dela o pai de José, que daí deveria ser chamado de filho de Jacó, para que a linhagem do irmão mais velho não acabe. Isto também parece ser altamente conjectural.
(c). Mas há uma outra explicação que é possível, e, em vista das declarações feitas, até mesmo provável: a saber, que Lucas dá a verdadeira descendência através de pessoas específicas, e Mateus a linhagem de sucessão de herança, extensivamente através de reis. Em favor desta explicação está o fato de que ele coloca Jeoiaquim, que, como ele muito bem sabia através de Jeremias 22:30, não deveria ter seus próprios filhos dignos do nome, entre os ancestrais do Messias.
Certamente estas descrições da genealogia de Cristo nos dois
evangelhos concordam com o que comentaristas dizem a respeito destes
dois livros. Mateus geralmente mostra Jesus como o Rei da linhagem de
Davi, e uma genealogia real se enquadra bem com este tema. Já Lucas,
mais preocupado com detalhes históricos, é o que nos dá a genealogia
natural, como nós estamos acostumados.
É interessante observar que Williams não está sozinho ao defender
este argumento. O próprio João Calvino nos diz que Mateus escolheu criar
3 grupos de 14 pessoas, e que Mateus nos dá uma linhagem real, enquanto
Lucas nos dá a linhagem natural. O comentário Mateus 1:1 nos diz:
Minha opinião é esta. Os evangelistas tinham em seus olhos boas
pessoas, que não entraram em nenhuma disputa obstinada, mas na pessoa de
José reconheceram a descendência de Maria; particularmente já que, como
temos dito, nenhuma dúvida foi levantada naquela época. Algo, contudo,
poderia aparecer incrível, que este tão pobre e desprezado casal
pertenciam à posteridade de Davi, e àquela semente real, de onde o
Redentor nasceria. Se alguém indagar se ou não a genealogia traçada por
Mateus e Lucas prova claramente e acima de qualquer controvérsia que
Maria era descendente da família de Davi, eu concedo que isto não pode
ser inferido com certeza; mas como a relação entre Maria e José era
naquele tempo bem conhecida, os evangelistas estavam mais à vontade
sobre este tema. Entretanto, foi o desígnio de ambos evangelistas
remover a pedra de tropeço que se levanta do fato, que ambos José e
Maria eram desconhecidos, desprezados, pobres, não dando a menor
indicação de realeza.
Novamente, a suposição de que Lucas passa pela descendência de José e
relaciona aquela de Maria, é facilmente refutada; pois ele
expressamente diz que se supunha que Jesus era o filho de José, etc.
Certamente, nem o pai nem o avô de Cristo é mencionado, mas a
descendência do próprio José é cuidadosamente explicada. Estou bem
ciente da maneira que eles tentam resolver esta dificuldade. A palavra
filho, eles alegam, é usada para genro, e a interpretação que eles dão
para José ser chamado o filho de Heli é que ele casou-se com a filha de
Heli. Mas isto não concorda com a ordem de natureza, e não é apoiado por
nenhum exemplo nas Escrituras.
Se Salomão é deixado fora da genealogia de Maria, Cristo não mais
será Cristo; pois toda investigação sobre sua descendência está
fundamentada naquela solene promessa, “Eu estabelecerei tua descendência
após ti; eu estabelecerei o trono de seu reino para sempre, Eu serei
seu pai e ele será meu filho” (2Sm 7:12), “O Senhor jurou em verdade
para Davi; Ele não se desviará dela; do fruto de seu corpo eu
estabelecerei sobre teu trono” (Sl 132:11). Salomão era, acima de
qualquer controvérsia, o tipo deste Rei eterno que foi prometido a Davi;
não pode a promessa ser aplicada a Cristo, exceto na medida que sua
verdade fosse espelhada em Salomão (1Cr 28:5). Agora se a descendência
não é traçada a ele, como, ou por qual argumento, deveria ele ser
provado ser “o filho de Davi”? Quem quer que risca Salomão da genealogia
de Cristo ao mesmo tempo oblitera e destrói aquelas promessas pelas
quais ele deve ser reconhecido como o filho de Davi. Neste sentido
Lucas, traçando a linha de descendência de Natã, não exclui Salomão,
será visto depois no lugar apropriado.
Para não ser muito tedioso, aquelas duas genealogias concordam
substancialmente entre si, mas nós devemos nos atentar para quatro
pontos de diferença. O primeiro é: Lucas sobre por uma ordem regressiva,
do último ao primeiro, enquanto Mateus começa com a fonte da
genealogia. A segunda é: Mateus não leva sua narrativa além da santa e
eleita raça de Abraão, enquanto Lucas segue até Adão. O terceiro é:
Mateus trata de sua descendência legal e se permite fazer algumas
omissões na linha de ancestrais, escolhendo ajudar a memória do leitor
por arranjá-los em três grupos de quatorze, enquanto Lucas segue a
descendência natural com grande exatidão. O quarto e último é que,
quando eles estão falando das mesmas pessoas, eles algumas vezes dão
nomes diferentes.
Seria supérfluo dizer mais sobre o primeiro ponto de diferença, pois
ele não apresenta dificuldade. O segundo ponto não existe sem uma boa
razão: pois, como Deus escolheu para si mesmo a família de Abraão, de
onde o Redentor do mundo nasceria, e como a promessa de salvação foi, de
certa maneira, ligada àquela família até a vinda de Cristo, Mateus não
passa além dos limites que Deus prescreveu. Nós devemos nos atentar ao
que Paulo diz, “que Jesus Cristo foi um ministro da circuncisão para a
verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais” (Rm 15:8),
com o que concorda aquele dito de Cristo, “Salvação vem dos judeus” (Jo
4:22). Mateus, então, o apresenta para nossa contemplação como
pertencendo àquela raça sagrada, a qual ele foi expressamente apontado.
No catálogo de Mateus nós devemos olhar para a aliança de Deus, pela
qual ele adotou a semente de Abraão como seu povo, os separando com uma
“parede de separação no meio” (Ef 2:14) do resto das nações. Lucas
direcionou sua visão para um ponto mais alto, pois apesar de que no
tempo que Deus fez sua aliança com Abraão, um Redentor foi prometido, de
uma forma peculiar, à sua semente, nos no entanto sabemos que, desde a
transgressão do primeiro homem, todos precisam de um Redentor, e ele foi
consequentemente apontado para todo o mundo. Foi para um propósito
maravilhoso de Deus que Lucas nos mostra Cristo como o filho de Adão,
enquanto Mateus o confinou à única família de Abraão. Pois não seria
vantagem para nós que Cristo fosse dado pelo Pai como o “autor da
salvação eterna” (Hb 5:9), a menos que fosse dado indiscriminadamente a
todos. Além disto, aquele dito do Apóstolo não seria verdadeiro, que
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13:8), se seu poder e
graça não alcançasse todas as eras desde a própria criação do mundo.
Saibamos então que para toda a raça humana foi manifestada e exibida a
salvação através de Cristo, pois não sem razão ele é chamado o filho de
Noé, e o filho de Adão. Mas como nós devemos buscá-lo na palavra de
Deus, o Espírito sabiamente nos direciona, através de outro evangelista,
à sagrada raça de Abraão, a cujas mãos o tesouro da vida eterna,
juntamente com Cristo, foi confiada por algum tempo (Rm 3:1).
Nós chegamos agora ao terceiro ponto de diferença. Mateus e Lucas
inquestionavelmente não observam a mesma ordem, pois imediatamente
depois de Davi um coloca Salomão e o outro, Natã, o que deixa
perfeitamente claro que eles seguem linhagens diferentes. Este tipo de
contradição é reconciliada por bons e eruditos intérpretes da seguinte
maneira: Mateus, se afastando da linhagem natural, que é seguida por
Lucas, reconhece a genealogia legal. Eu a chamo de genealogia legal,
porque o direito ao trono passou para as mãos de Salatiel. Eusébio, no
primeiro livro de sua História Eclesiástica, adotando a opinião de
Africano, prefere aplicar o epiteto legal à genealogia que é traçada por
Lucas. Mas isto tem o mesmo resultado, pois ele não quer dizer nada
mais do que isto: que o reino que foi estabelecido na pessoa de Salomão,
passou de uma forma legal a Salatiel. Mas é mais correto e apropriado
dizer que Mateus exibiu a ordem legal, porque ao nomear Salomão
imediatamente depois de Davi, ele atende, não às pessoas de cuja
linhagem regular, segundo a carne, Cristo derivou seu nascimento, mas à
maneira na qual ele descende de Salomão e outros reis, de forma a ser
seu sucessor legal, em cujas mãos Deus “estabeleceria o trono de seu
reino para sempre” (2Sm 7:13).
Há probabilidade na opinião que, na morte de Acazias, a linhagem de
Salomão foi encerrada. Quanto ao comando dado por Davi – pelo qual
algumas pessoas citam a autoridade de comentaristas judeus – que se a
linhagem de Salomão falhar, o poder real deveria passar aos descendentes
de Natã, eu o deixo indeterminado; tendo apenas por certeza que a
sucessão do reino não foi confundida, mas regulada por decretos fixos de
parentesco. Agora, como a história sagrada o relaciona, depois do
assassinato de Acazias, o trono foi ocupado, e toda a descendência real
destruída “por sua mãe Atalia” (2Re 11:1), é mais do que provável que
esta mulher, com um ávido desejo por poder, perpetrou aqueles perversos e
horríveis assassinatos para que ela não pudesse ser reduzida a um nível
privado, e visse o trono transferido a outro. Se houvesse um filho de
Acazias ainda vivo, a avó seria permitida de bom grado reinar em paz,
sem a inveja ou perigo, sob a máscara de ser sua tutora. Quando ela
procede a tais grandes crimes ao ponto de recair sobre si mesma infâmia e
ódio, é uma prova de desespero surgindo do fato de que ela não é mais
capaz de manter a autoridade real em sua casa.
Quanto a Joás ser chamado de “filho de Acazias” (2Cr 22:11), a razão é
que ele era o parente mais próximo, e foi de forma justa considerado
ser o verdadeiro e direto herdeiro da coroa. Para não mencionar que
Atalia (se nós formos supor que ela seja sua avó) alegremente teria se
beneficiado de seu relacionamento com a criança, caso qualquer pessoa de
pensamento comum achasse provável que um verdadeiro filho do rei
pudesse ser tão escondido por “Jeoiada, o sacerdote”, de forma a não
incentivar a avó a uma busca mais diligente? Se tudo for cuidadosamente
pesado, não haverá hesitação em concluir que o próximo herdeiro da coroa
pertencia a uma linhagem diferente. E este é o significado das palavras
de Jeoiada, “Eis que o filho do rei deverá reinar, como o Senhor disse
dos filhos de Davi” (2Cr 23:3). Ele considerou vergonhoso e intolerável
que uma mulher, que era estranha por sangue, violentamente tome o cetro,
que Deus ordenou ficar na família de Davi.
Não há absurdo em supor que Lucas traça a descendência de Cristo de
Natã: pois é possível que a linhagem de Salomão, até onde se relaciona à
sucessão do trono, pode ter sido interrompida. Pode-se objetar que
Jesus não pode ser reconhecido como o Messias prometido, se ele não é um
descendente de Salomão, que foi um indiscutível tipo de Cristo. Mas a
resposta é fácil. Apesar dele naturalmente não descender de Salomão, ele
ainda foi reconhecido como seu filho por sucessão legal, porque ele foi
descendente de reis.
O quarto ponto de diferença é a grande diversidade de nomes. Muitos
olham para isto com grande dificuldade: pois de Davi a José, com exceção
de Salatiel e Zorobabel, nenhum dos nomes são iguais nos dois
Evangelistas. A explicação geralmente oferecida, que a diversidade surge
de ser muito comum entre os judeus ter dois nomes, parece a muitas
pessoas não ser bastante satisfatório. Mas como nós agora não estamos
familiarizados com o método que foi seguido por Mateus em extrair e
arranjar a genealogia, não há razão para admirar-se, se nós somos
incapazes de determinar até onde ambos concordam ou divergem sobre nomes
individuais. Não pode-se duvidar que, depois do Cativeiro Babilônico,
as mesmas pessoas são mencionadas sob diferentes nomes. No caso de
Salatiel e Zorobabel, os mesmos nomes, eu acho, foram propositalmente
mantidos, em consideração à mudança que ocorreu na nação: porque a
autoridade real foi extinta. Mesmo enquanto uma fraca sombra de poder se
manteve, uma mudança drástica era visível, o que adverte os crentes que
eles devem esperar outro e mais excelente reino do que o de Salomão,
que floresceu mas por pouco tempo.
É também digno de destacar que o número adicional no catálogo de
Lucas em relação ao de Mateus não é nada estranho. Pois o número de
pessoas na linhagem natural de descendência é geralmente maior que na
linhagem legal. Além disto, Mateus escolheu dividir a genealogia de
Cristo em três departamentos, e fez cada departamento conter quatorze
pessoas. Desta forma, ele se sentiu na liberdade de deixar alguns nomes,
o que Lucas não poderia com propriedade omitir, não se restringindo por
aquela regra.
Assim eu discuti a genealogia de Cristo, até onde parece ser
geralmente útil. Se alguém sentir cócegas de uma curiosidade aguçada, eu
lembro da admoestação de Paulo, e prefiro sobriedade e modéstia à
insignificantes e inúteis disputas. É uma passagem conhecida, que ele
nos admoesta a evitar excessiva paixão ao disputar sobre “genealogias,
como inúteis e vãs” (Tito 3:9).
Agora resta perguntar, finalmente, porque Mateus incluiu toda a
genealogia de Cristo em três classes, e atribuiu a cada classe quatorze
pessoas. Aqueles que acham que ele fez assim para ajudar a memória de
seus leitores, declara parte da razão, mas não toda ela. É verdade, de
fato, que um catálogo, dividido em três números iguais, é mais
facilmente memorizado. Mas é também evidente que esta divisão pretende
apontar uma condição tríplice da nação, do tempo que Cristo foi
prometido a Abraão até “a plenitude dos tempos” (Gl 4:4) quando ele foi
“manifesto na carne” (1Tm 3:16). Antes do tempo de Davi, a tribo de
Judá, apesar de ocupar um nível superior do que outras tribos, não tinha
poder. Em Davi a autoridade real salta aos olhos de todos com esplendor
inesperado, e se mantém até o tempo de Jeconias. Depois daquele
período, ainda se manteve na tribo de Judá uma porção do nível e
governo, que manteve expectativas dos justo até a vinda do Messias.
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