Lembro-me
da época em que assistia à televisão que, ao ligá-la tarde de noite,
era possível ver anúncios de máquinas, supostamente revolucionárias, que
mudariam a nossa vida, nos ajudariam a perder peso e nos deixariam em
forma. São máquinas lançadas por pessoas bem conhecidas: o ator Chuck
Norris ou alguém parecido que demonstra enorme capacidade física e está
em forma invejável. A promessa é a mesma: com menos de dez minutos
diários no tal aparelho e você entrará em forma se tão somente comprar a
máquina de exercício estacionário. A promessa é que você poderá
realizar este milagre de transformação na privacidade do seu lar, e com o
mínimo de esforço. As máquinas foram desenvolvidas de tal maneira que,
quando não estiverem em uso, cabem convenientemente debaixo da cama ou
no armário. É bom, também, que seja o caso, pois é onde elas irão
permanecer, após apenas alguns dias de uso.
Isso não é algo para pessoas muito sagazes, não é? Bem, confesso que
já comprei uma ou duas delas. Geralmente vem pelo correio e, ao
desembrulhar a geringonça, constatando que está tudo em ordem, faço o
meu “test drive” e constato que realmente exige muito pouco esforço.
Mas, com pouco tempo, ela se junta às outras máquinas que mantenho
debaixo da cama ou dentro do armário. Por outro lado, quando eu me
inscrevo numa academia ou arrumo um companheiro para caminhar na praia
comigo, meu progresso é maior e a duração da minha disciplina é
infinitamente melhor. Por que será?
As máquinas vendidas pela televisão são um tipo de “autoajuda”. Em
outras palavras, você pode, com a ajuda desta máquina, se ajudar.
Sozinho, e sem um compromisso com quem quer que seja, pode resolver
todos os seus problemas. Até hoje não achei uma máquina que desse jeito
em mim e na minha tendência de ficar acima do meu peso ideal. Não
consegui fazer com que os meus músculos abdominais se aproximassem à
forma tão invejável ostentado pelos verdadeiros profissionais do
fisiculturismo. Continuo lutando contra o garfo e contra o
sedentarismo. A razão desse fracasso é muito óbvia, mas poucos a
compreendem: autoajuda não ajuda ninguém.
Se eu preciso de ajuda, não sou eu que vou conseguir me ajudar. É uma
questão muito simples de lógica. Ajuda é algo que alguém presta a
outro. No fundo, acho que a indústria de autoajuda beneficia
principalmente os que fabricam e promovem essas máquinas, que cabem
convenientemente no meu armário. Sim, eles se ajudam pela minha
credulidade, enriquecendo às minhas custas.
Autoajuda é um conceito que não se limita às máquinas de exercício, é
claro. Há montanhas de livros, escritos com rios de tinta, que oferecem
uma maneira de caminharmos com Deus, melhorar a nossa vida devocional e
nossa compreensão das Escrituras, levando-nos a novas alturas da fé. “7
Chaves do Sucesso”, “Cinco Passos para Alcançar a Sua Vitória” e coisas
do gênero. Livros que prometem que você pode ser tudo o que sempre quis
ser, em Deus. Você pode ser bem-sucedido, feliz, ter relacionamentos
que preenchem todos os seus desejos afetivos, ser mais do que vencedor,
ter seu próprio negócio, vencer todos os desafios da vida. Basta comprar
o livro (que também cabe convenientemente debaixo da sua cama, no seu
armário ou numa prateleira, de onde provavelmente nunca sairá, após a
sua leitura).
Os livros ajudam muito os que os escrevem. Esses que prometem
prosperidade são pessoalmente muito prósperos. Esses que prometem
vitória são exemplos vivos de quem teve uma ideia e por meio dela
lucraram horrores.
Tanto no âmbito de saúde quanto no da fé, a privatização de
disciplina já se mostrou uma rua sem saída. É um engodo. Pois ninguém se
ajuda a si mesmo. Ajuda é algo que requer duas pessoas, no mínimo.
Requer um que ajude e outro que esteja precisando dessa ajuda. Autoajuda
é comparável a tentar sair do chão se levantando ao puxar os cadarços
dos seus sapatos. Mas eu não posso me levantar sozinho.
A cultura “cristã” de autoajuda é uma mentira. Ela nos condena a
surtos de entusiasmo seguidos por desistência e depressão. Muitos estão
desiludidos com Deus. Mas Deus não tem nada a ver com essa desilusão. A
desilusão é culpa da privatização da fé. Por achar que podemos caminhar
vigorosamente com Deus na privacidade do nosso lar, temos rompido com a
única maneira de realmente crescer e achar o caminho da fé. Esse caminho
não é solitário. Também não é um caminho que podemos trilhar com apenas
dez minutos diários de “flexões” espirituais, palavras positivas ou
declarações de posse.
Não será uma coleção de afirmações ou leituras minúsculas que vão me
ajudar a galgar o caminho com Deus. Será em comunhão com irmãos, numa
aprendizagem que vai me custar muito mais do que dez minutos no meu
quarto antes de dormir. A vida espiritual ocupa cada centímetro da minha
vida “normal”. Assim como saúde é algo que exige de mim uma mudança de
mentalidade – que envolve como eu como, como eu gasto o meu tempo, a
priorização de alguma atividade normal e sem a ajuda da maquininha
mágica – a vida espiritual exigirá de mim uma vida em comunhão e sob a
liderança de uma pessoa real, de carne e osso. Os que passam na TV são
seres virtuais para nós. Não apertamos a sua mão. Não estão do nosso
lado para responder as nossas perguntas. Não choram conosco. Mas, quando
compramos os seus livros e seguimos os seus planos de sucesso, quem
realmente se dá bem são eles. Sim, eles vão rindo para o banco.
Senhor, ajuda-nos e ensina-nos a buscar a ajuda verdadeira nos que estão do nosso lado nesta estrada da fé.
FONTE:
http://www.waltermcalister.com.br/site/a-mentira-da-autoajuda/
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