Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

22 de março de 2014

A IMPOSIÇÃO DE MÃOS

 
 
 Escrito por Pr. Luiz César
 
A imposição de mãos outorga poder sobre a pessoa que a recebe?

A questão da imposição de mãos tem dividido os estudiosos da Bíblia e causado uma verdadeira confusão litúrgica nas igrejas. Não é incomum encontrar pessoas que fazem desta prática um sacramento, um ato carregado de significados espirituais, que pode , segundo eles, transmitir poder, unção, dons e outros carismas. Por outro lado alguns desprezam totalmente este ato tratando-o meramente como uma coreografia destituída de qualquer significado espiritual. Lembrando que trataremos tão somente da imposição de mãos, do ato de colocá-la sobre a cabeça de uma pessoa, ou, como é comum no AT, sobre um animal.

O que então significa a “imposição de mãos” nas páginas das Escrituras?

No Antigo Testamento- Na antiga aliança a imposição de mãos era uma prática comum especialmente no cerimonial do tabernáculo e templo.
“A imposição era usada na transmissão de pecado do ofertante para um animal. No grande dia da expiação, por exemplo, o sacerdote impunha (sãmakh-) suas mãos sobre a cabeça do bode que teria de ser enviado ao deserto e sobre ele confessava os pecados do povo, assim transferindo-os ao animal (Lv. 16.21) Um rito semelhante acompanhava as ofertas queimada, pacífica, pelo pecado e de ordenação (Lv. 1.4; 32; 4.4; Nm 8.12” ( Novo Dicionário da Bíblia – Volume II – Pg 743).
Também era comum os filhos de Israel colocarem as mãos sobre a cabeça dos levitas que fariam o trabalho de expiação (Nm 8.10.). Assim, estes eram separados e ordenados para o trabalho no Tabernáculo.

Em outro momento vemos Moisés impondo as mãos sobre Josué, seu ajudante, deixando claro diante do povo que este estava sendo investido de autoridade para conduzir o povo após sua morte. (Nm 27.12- 23). Parece que aqui temos o modelo e a fonte inicial que seria imitado na igreja neotestamentária para a ordenação de obreiros. Josué, após esta imposição de mãos teve uma ampliação do trabalho do Espírito Santo em sua vida. Em Deuteronômio 4.9, lemos:

Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabe3doria, porquanto Moisés impôs sobre ele as mãos, assim, os filhos de Israel lhe deram ouvidos e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés.

Podemos chamar de ampliação pois mesmo antes de receber esta imposição Josué já estava cheio do mesmo espírito:

Toma Josué, filho Num, homem em que há o Espírito, e impõe-lhe as mãos (Nm. 27.18).

A imposição de mãos, ilustrada aqui no episódio de Moisés e Josué, não era aleatória, sem que o candidato a recebê-la tivesse as condições prévias para o trabalho a ser designado. O melhor a dizer é que Josué já era cheio do Espírito Santo, no entanto a atuação deste na vida deste jovem se amplia após a imposição de mãos. O significado maior, no entanto, foi que a congregação de Israel reconheceu a autoridade de Josué, delegada por Deus, através de Moisés.

No Novo Testamento - No inicio da igreja a imposição de mãos acompanhou os principais movimentos dos Apóstolos. No batismo com o Espírito Santo, por exemplo, revela esta prática apostólica:
Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo (Atos 8.17).
No entanto, tudo indica que com o passar do tempo esta prática deixou de ser essencial para que o Espírito batizasse uma pessoa. Em Atos 10, por exemplo, Cornélio e os seus são batizados pelo Espírito Santo sem que houvesse menção alguma da imposição de mãos:
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (Atos 10.44).
Assim, a partir de então, o trabalho do Espírito Santo em uma pessoa não depende de qualquer imposição de mãos. Nas Epístolas não existe qualquer ordem neste sentido.

A imposição de mãos parece ter perdurado tão somente para a ordenação de pessoas para o trabalho de Deus, o que passaremos a discutir.

Os irmãos escolhidos para o diaconato, em Atos 6, receberam a imposição de mãos dos Apóstolos:
Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando , lhes impuseram as mãos (v.6).
Observemos novamente que eles já eram reconhecidamente cheios do Espírito Santo antes da imposição de mãos (v.3). Este ato, no entanto, autenticou diante da comunidade o que Deus já estava fazendo em suas vidas e deu-lhes autoridade para o serviço que passariam a desempenhar.

A mesma cerimônia e o mesmo princípio acompanharam os primeiros missionários (Atos 13.1-3). Deus os separa, a igreja reconhece o seu chamado, impõe as mãos sobre eles e os envia. Nestes casos o chamamento, a fé viva, o desprendimento para o trabalho, a atuação do Espírito Santo, antecederam a imposição de mãos e a designação para as tarefas designadas.

Voltemos agora os nossos olhos para os três versículos que saíram da pena do Apóstolo Paulo sobre que fazem menção a imposição de mãos:
  • 1 Timóteo 4.14 - Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.
     
  • 1 Timóteo 5.22 – A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro.  
  • 2 Timóteo 1.6 - Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos.
Podemos dizer com certeza que o dom ministerial fora concedido a Timóteo. A pergunta é se este dom fora concedido pela imposição das mãos de Paulo e dos presbíteros da igreja. Seria o caso de uma transferência espiritual de um dom do doador para outra pessoa? A vocação de Timóteo, o seu chamamento, a sua capacitação foram advindas pela imposição das mãos do Apóstolo Paulo? Se a resposta for positiva seria esta uma regra para a igreja hoje ou ficou circunscrita ao período neotestamentário? Não sabemos ao certo, mas podemos lançar luzes sobre o fato:

Comparemos este episódio com o de Moisés e Josué. Assim como naquele caso em que Josué já era cheio do Espírito é escolhido por Deus para o trabalho, Timóteo também tivesse as mesmas qualificações, pois somos informados que ele já era discípulo, de bom testemunho (Atos 16.1,2), de uma fé viva (2 Tm 2.5). Assim, tanto Paulo quanto os presbíteros reconheceram o seu chamado para obra e o autenticaram com a imposição de suas mãos.

Corroborando com este pensamento John Stott faz a seguinte observação:

Os dois versículos (1 Tm 4.14 e 2 Tm 1.6) mencionam a imposição de mãos e parecem referir-se ao que podemos chamar de “ordenação” ou “comissionamento”. (Tu Porém – Pg 13).

A prática da imposição de mãos hoje é um sinal externo daquilo que Deus já proporcionou na vida de uma pessoa. Ela não inicia uma vocação mas a reconhece e a homologa diante da igreja. Os demais líderes concordam que Deus está trabalhando na vida do noviço e aspirante, veem nele as qualificações para o ministério e impõem as mãos autenticando o seu chamado ou delegando-lhe autoridade. Este é o mesmo princípio de 2 Timóteo 2.2 que diz:
E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.
A escolha precede a análise da idoneidade do candidato.

Assim, tal compreensão lança luz sobre a ordem paulina dada ao mesmo Timóteo para não impor precipitadamente as mãos (1 Tm 5.22). Isto é, se uma pessoa não demonstrar diante da igreja o seu chamado, vocação e compromisso, bem como uma vida de boa reputação, não deverá receber a imposição de mãos. A precipitação poderia fazer dos que impuseram as mãos, cúmplices dos erros do irmão recém- ordenado.

Sobre este ponto pondera João Calvino:
Paulo proíbe admitir precipitadamente a alguém que ainda não passou pelo rigoroso exame. Existem aqueles que, movidos pelo desejo da novidade, buscam ordenar alguém pouquíssimo conhecido, justamente pelo fato de o mesmo apresentar uma ou duas qualificações reconhecidas e de caráter recomendável. É dever de um prudente e enérgico bispo resistir a esse impetuoso impulso, da mesma forma como Paulo ordena a Timóteo. Sua intenção era mostrar que o bispo que consente com um ato ilícito de ordenação traz sobre si a mesma culpa de seus impetuosos fomentadores (Pastorais – Pg. 154).

Sobre a imposição de mãos de Paulo a Timóteo em 1 Timóteo 4.14, o mesmo Calvino ainda assevera:
A imposição de mãos para consagrar um ministro, os apóstolos tomaram por empréstimo do Antigo Testamento. Este ato é um emblema, um sinal externo do que Deus já fez. A graça de Deus não era transmitida em virtude desse sinal, mas era como o reconhecimento da igreja, que os elege, de que eles tinham um chamado. Essa cerimônia inaugural não era um ato profano, engendrado só com o intuito de obter autoridade aos olhos dos homens, mas era um legítimo ato de consagração diante de Deus, algo que só podia ser efetuado pelo Espírito Santo. Timóteo não recebeu o que antes não possuía. Ele se distinguia tanto em doutrina quanto em outros donos antes que Paulo o designasse para o ministério, mas estes donos se manifestaram mais gloriosamente quando a função docente lhe foi conferida. (Pastorais - 202,203).

Seria razoável então concluir que existe uma cadência que culmina com a imposição de mãos: Os que a igreja reconhece como chamados para um trabalho eclesiástico, que já dão prova de sua capacitação espiritual, recebem das autoridades desta igreja a imposição de mãos em uma cerimônia de ordenação, um emblema do que Deus já fez. Ao receber a delegação da igreja o obreiro tem mais autoridade, talvez até espiritual, para o trabalho a ser realização ou a função a ser exercida.

Resta ainda tratarmos da imposição de mãos na oração, visto que esta era um prática comum no Novo Testamento (Mt. 19.15; Mc 6.5; At 9.12; 28.8; Hb 6.2).

Não existe nenhuma ordem bíblica dada à igreja para que imponha as mãos na oração pelos enfermos. A ordem é para orar independentemente dos gestos adotados. Nem todas as práticas da igreja neotestamentária são abraçadas hoje pela maior parte das igrejas evangélicas. Não é comum, por exemplo, a cerimônia do lava-pés (João 13.1-11); o uso do ósculo santo (1 Co 13.12; 1 Pe 5.14); do uso do véu (1 Co 11.2-15), etc. Conquanto não se constituiria pecado qualquer igreja ainda praticar tais atos, parece não ser cerimoniais essenciais para a igreja como um todo. Da mesma forma não haveria nenhum impedimento em se orar por alguém impondo sobre ele as mãos, no entanto, não devemos julgar que se trata de um ordem, ou preceito, ou mesmo que tais orações trarão um efeito espiritual maior. Deus continua interessado no coração, no homem interior e não na forma. É o coração contrito que encontra diante de Deus a resposta (Sl 51.17).

Mesmo não havendo uma ordem para se orar por enfermos com imposição de mãos, este método não encontra resistência nas páginas da Bíblia. A imposição de mãos pode trazer mais conforto ao que recebe a oração. O seu valor é muito mais emocional do que espiritual, a não ser, que Deus em sua soberania, conceda ao que ora a bênção de transmitir a outra pessoa, algo de sua própria vida e saúde. O que pode ser um ato de soberania de Deus, mas que não encontra regulamentação bíblica alguma. O certo é que um estudioso da Bíblia não dará tanto valor a um ato litúrgico destituído de sua essência. Os fariseus não enganaram ao Senhor Jesus com suas longas orações com as mãos levantadas nos lugares públicos. Deus ainda continua vendo o que está em secreto, escondido no fundo de nossos corações (Mt 6.5-8). Um ato litúrgico pode ter a pretensão de representar algo mas não é o algo. A verdadeira espiritualidade não precisará de recursos estéticos para se revelar. A adoração e mesmo a oração devem ser em espírito e em verdade (Jo 4.23 e 24). Um gesto penitente, como por exemplo, ajoelhar, não atrai a simpatia de Deus se o coração não for penitente. Devemos rasgar o nosso coração diante de Deus, sem esta contrição não devemos nem mesmo rasgar as nossas vestes como símbolo de devoção (Jl 2.3). Talvez seja melhor nem orar do que impor as mãos e orar sem que a vida esteja em comunhão maravilhosa com Deus.

Conclusão - Na antiga aliança a fé era em parte alimentada pelo que se via e se tocava. Havia muitas cores, cheiros e detalhes visuais impressionantes. Nossa curiosidade fica aguçada quanto à forma e riqueza, por exemplo, do Tabernáculo. Tudo ali concorria para aumentar a fé de um povo que não tinha a revelação completa. Na nova aliança, no entanto, os salvos são chamados às verdades superiores, invisíveis aos olhos carnais, mas de uma clareza solar para a alma do salvo. Assim, devemos nos ater àquilo que é ortodoxo, que é certo, que tem um doutrinamento claro nas Escrituras e cuja relevância é atestada.

Dentre os vários assuntos que o autor aos Hebreus afirma como princípios elementares da doutrina de Cristo, que devem ser substituídos pelo que é perfeito, está a imposição de mãos:
Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemos-nos levar para o que é perfeito, nãos lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, e o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição e do juízo eterno. (Hb. 6.1,2).
A igreja pode e deve continuar impondo as mãos sobre os que foram escolhidos para o diaconato, presbiterato, pastorado e trabalho missionário; Podemos continuar impondo as mãos sobre os enfermos quando orarmos por eles. Mas não sejamos inocentes biblicamente ao pensar que existe algum poder ou unção na forma em detrimento do conteúdo. Deus saberá distinguir o obreiro de coração aprovado do que não o é. A forma não enganará a Deus, conquanto possa ludibriar, por algum tempo, os homens.
 
 
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